domingo, 21 de janeiro de 2007

A Organização da Franco-Maçonaria

Voltamos hoje, com a terceira parte deste tema, que não é mais que exposição da organização da Maçonaria e uma breve abordagem às regras de funcionamento desta organização.

Agora que estamos armados com o conhecimento adquirido nas duas peças anteriores ser-nos-á mais fácil compreender algumas das informações que se seguem, sempre tendo em mente que aquilo que aqui se expõe é, certamente, uma visão incompleta do tema, mas que pretende ser suficiente para que os nossos leitores percebam que tipo de organização é a Maçonaria, quais são os seus objectivos e a sua forma de funcionamento.

Mais uma vez agradecemos o apoio de todos quantos nos têm felicitado a propósito deste trabalho, que tem suscitado interesse um pouco por todo o mundo e aproveitamos para pedir desculpa a todos os que nos têm enviado e-mails pelo facto de, devido ao seu enorme número, não termos ainda tido tempo para responder a todos. Assim que nos for possível, responderemos a toda a correspondência.

Vamos, então, ao que interessa…

5.3- A Organização da Maçonaria

A estrutura organizativa característica da Maçonaria especulativa baseia-se no sistema da Grande Loja, implementado em 1717. O mais elevado nível de organização, que constitui um corpo independente com poderes legislativos, jurídicos e executivos designa-se Grande Loja, no sistema regular, Grande Oriente, no sistema misto, ou Conselho Supremo ou Superior no sistema Escocês. Estes corpos são compostos pelas Lojas ou organismos inferiores na sua jurisdição, ou pelos seus representantes regularmente reunidos com os grandes oficiais que estes elegem.

Cada Maçonaria nacional está estruturada em células autónomas, "todas iguais em direitos e honras, e independentes entre si", designadas por oficinas. Existem dois tipos de oficinas, as lojas e os triângulos. A loja é composta por um mínimo de sete maçons perfeitos, não tem um limite máximo de membros, o triângulo é composto por três maçons perfeitos, pelo menos, e por seis, no máximo, passando a loja quando um sétimo membro se lhe vem agregar.

Uma Loja devidamente constituída tem os mesmos poderes que uma Grande Loja, mas numa esfera mais restrita. Os cargos indispensáveis numa Loja são o Venerável Mestre, os 1º e 2º Vigilantes e o Orador. O Venerável Mestre é auxiliado por um ou dois mordomos ou mestres-de-cerimónias no trabalho cerimonial e convivial e por um tesoureiro e um secretário. Muitas lojas dispõem de um capelão para as cerimónias religiosas. O 1º Vigilante dirige os trabalhos dos companheiros e vela pela disciplina geral, o 2º Vigilante tem por função a instrução dos aprendizes, o Orador está encerregado de fazer a síntese dos trabalhos e deles extrair conclusões, sendo o representante da lei maçónica. O Secretário redige as actas das sessões e é responsável pelas relações entre a loja e a obediência. Os cargos, do Venerável Mestre ao Secretário, são chamados as luzes da oficina. Os mesmos postos em grande escala e com títulos sonantes existem nas grandes Lojas ou nos Grandes Orientes (Venerável Grande Mestre, Grande Comandante Soberano, etc...).

Como as despesas dos membros são relativamente elevadas, apenas pessoas com algumas posses podem entrar na fraternidade. O número de candidatos é ainda restringido pelas regras relativas às qualificações morais, intelectuais, sociais e físicas e ainda por um regulamento que exige unanimidade de votos num escrutínio secreto para cada admissão. Assim, ao contrário da sua pretensa universalidade, a Franco-Maçonaria parece ser uma sociedade muito exclusiva, que ainda por cima é uma sociedade secreta, afastada dos olhares dos profanos e dos comuns mortais. A Pedra de Toque de Filadélfia diz: “A Franco-Maçonaria não tem o direito de ser popular. É uma sociedade secreta. É para os poucos, não para os muitos, é para os eleitos e não para as massas.”

Na prática, no entanto, parece que as regras relativas ao estatuto moral e intelectual dos membros não são seguidas rigorosamente, pois há muitos irmãos que foram admitidos cujos únicos objectivos são utilizar a obra como meio de aumentar as suas capacidades financeiras ou tirar vantagem das relações sociais que advém das reuniões de convívio com outros membros da irmandade. Chegámos a ouvir alguns amigos a afirmar abertamente que tinham entrado para ganhar acesso a uma certa classe de indivíduos por motivos comerciais e que eram forçados a fazê-lo porque outros o faziam, depois há aqueles que se inscreveram por curiosidade ou porque alguém numa posição superior à sua era maçon. Há ainda aqueles que o fazem para procurar conviver com a alta sociedade, na maçonaria encontram uma forma de acesso directo a essa esfera, que lhes está muitas vezes vedada pelas convenções sociais.

Da Regra Maçónica “amor fraternal, auxílio e verdade”, certamente as duas últimas, especialmente se entendidas no sentido de mútua assistência em todas as emergências da vida, é para a maior parte dos candidatos a principal razão para aderirem. Esta assistência mútua, especialmente simbolizada pelos cinco pontos de irmandade e o grande sinal de aceno de apuros no 3º grau, são as principais características da Franco-Maçonaria. O Mestre Maçon jura manter e respeitar os cinco pontos da irmandade em actos, bem como em palavras, isto é: auxiliar um mestre maçon em qualquer ocasião, de acordo com as suas possibilidades e particularmente quando ele sinalizar que necessita de auxílio. No rito Americano chegam a jurar que vão ajudar sempre que o vejam em dificuldades e vão apoiá-lo de forma a resolver o seu problema quer ele esteja certo ou errado.

Um facto que é experimentado por gente de todos os países é que, onde quer que a Maçonaria tenha influencia, os não-maçons têm sofrido nos seus interesses pela sistemática preferência que os maçons dão uns aos outros na indigitação para cargos e empregos. Até Bismark se queixou dos efeitos dessa assistência mútua dos maçons, que é muitas vezes prejudicial tanto à igualdade cívica como ao interesse público. Na literatura maçónica, actos ilegais e de traição são louvados como uma glória da Franco-Maçonaria. “As próprias leis da guerra”, dizia o orador oficial do Grande Oriente de França, Lefèbvre d'Aumale, “se tinham vergado perante a maçonaria, o que é talvez a mais notável prova do seu poder. Um sinal foi o suficiente para parar o massacre; os combatentes largaram as suas armas, abraçaram-se fraternalmente e imediatamente se tornaram amigos e irmanados, tal como os seus votos prescreviam.”, e o “Handbuch” declara, “este sinal tem tido um efeito benéfico, particularmente em tempos de guerra, frequentemente desarmando os mais amargos inimigos, de forma a que oiçam a voz da humanidade e se assistam mutuamente em lugar de se matarem”. Até a suspeita largamente difundida de que a justiça é algumas vezes pervertida e maçons criminosos são salvos do castigo devido, não pode ser considerada infundada. A dita prática de assistência mútua é tão repreensível que mesmo alguns autores Maçónicos a condenam severamente. Um autor referido é o Irmão Marbach, que diz: “Se a Franco-Maçonaria realmente fosse uma associação secreta de homens dos mais diversos estratos da sociedade, assistindo-se e promovendo-se mutuamente, seria uma associação iníqua e a polícia não devia ter dever mais urgente que o de exterminá-la.”

Outra característica da lei Maçónica é que a traição ou rebelião contra as autoridades civis são consideradas apenas crimes políticos, que afectam pouco o estatuto de um irmão e não dão sequer fundamento para um julgamento maçónico. A rebelião contra o estado é apenas desaprovada quando atenta contra a paz e o bem-estar da nação. A irmandade deve desaprovar a rebelião, mas apenas para preservar a associação de incómodos por parte das autoridades civis. Um irmão culpado de rebelião contra o estado não pode ser expulso da loja, pelo contrário, os seus irmãos maçons são particularmente obrigados a penalizar-se pelo seu infortúnio quando ele tem de sofrer as consequências da sua rebelião, (na prisão ou no tribunal), e dar-lhe apoio fraterno até onde puderem.

A Franco-Maçonaria, em si, é uma organização muito pacífica e leal mas não desaprova, antes pelo contrário, louva os irmãos que, pelo seu amor à liberdade e ao bem nacional, conspiram com sucesso contra monarcas e outros governantes despóticos, enquanto que, como associação de utilidade pública ganha privilégios e protecção de reis, príncipes e outros altos dignitários pelo seu trabalho em prol da paz. Lealdade à Liberdade sobrepõe-se a todas as outras considerações. A efectividade desta regra torna-se aparente se considerarmos que se a traição ou a rebelião fossem crimes maçónicos, quase todos os maçons das colónias britânicas, em 1776, teriam sido expulsos e as suas lojas teriam sido retiradas da jurisdição das Grandes Lojas da Inglaterra e da Escócia e o mesmo teria sucedido aos maçons Brasileiros que estiveram envolvidos no dia do Fico, o que não aconteceu.

Um adágio enganador é “uma vez maçon, sempre maçon”. Esta frase é frequentemente usada para frisar a insolubilidade do laço maçónico, que não há absolvição das suas consequências ou obrigações, que nem sequer a morte consegue cortar a ligação de um maçon à maçonaria. É certo que um maçon tem o direito de se demitir, e este direito, qualquer que seja a opinião da jurisprudência maçónica, de acordo com os direitos inalienáveis do Homem, implica uma saída não só da loja, mas da irmandade. Na escala das penalidades maçónicas, a mais severa é a expulsão. Para além dos que se demitiram ou dos que foram expulsos, há muitos maçons que deixaram de ser membros activos das suas lojas, mas, de acordo com a lei maçónica, que, como é evidente, não pode obrigar a mais do que o que implicam as regras gerais da moralidade, eles permanecem sujeitos à jurisdição da loja da área em que residem.

Quanto à unidade, as autoridades Maçónicas afirmam unanimemente que a Franco-Maçonaria ao redor do Mundo é uma só e que todos os Pedreiros Livres formam na realidade uma única loja, que lojas e sistemas distintos existem por mera conveniência, e consequentemente, todo o Maçon regular tem o direito de ser recebido em qualquer loja regular, em qualquer parte do mundo como um irmão, e, em caso de necessidade, ser ajudado. As boas relações entre Maçons de diferentes nações são melhoradas através do convívio pessoal e da correspondência, especialmente entre os Grandes Secretários e nos Congressos Internacionais.

Em 1903 estabeleceu-se em Neuchatel, na Suiça, uma representação internacional permanente. Não existe nenhuma Grande Loja Geral apesar das diversas tentativas feitas em quase todos os grandes estados para estabelecer uma. Diferendos incessantes entre sistemas maçónicos diferentes são característicos da Franco-Maçonaria em todos os países ao longo dos séculos, mas a união federativa entre as Maçonarias é prova suficiente da solidariedade entre Maçons e organizações Maçónicas de todo o mundo, daí as suspeitas de cumplicidade universal nas maquinações que alguns irmãos e até mesmo algumas lojas levaram a cabo.

- Continua – A seguir: 5.4 – A Propagação da Maçonaria.

Pedro Estadão

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