segunda-feira, 30 de abril de 2007

O Trabalho Externo da Maçonaria

Continuamos hoje com a nossa série de entradas sobre a Maçonaria, expondo o trabalho externo desta associação, ou seja, como trabalham os maçons na sociedade fora das suas lojas e quais os seus objectivos e métodos. Não nos chegando aos tempos mais próximos de nós, por ser ainda cedo para fazer a história, e não perdermos a seriedade deste trabalho, faremos ainda uma visita ao que tem sido a acção e a participação da Franco-Maçonaria na evolução da sociedade humana ao longo dos tempos.

Não nos deteremos por aqui, sendo que ainda falta uma peça deste tema, que é a que diz respeito às relações históricas da Maçonaria com Estados e Autoridades Eclesiásticas e a apresentação de algumas curiosidades finais, que é o tema que trataremos na próxima folha deste breviário e com o qual encerraremos, por agora, o tema da Maçonaria. Dedicar-nos-emos depois a outros temas, sem deixar de parte outras associações que suscitam a curiosidade do público pela sua acção oculta na sociedade.

Até à próxima…


5.6 - O Trabalho Externo

O trabalho externo da Franco-Maçonaria, apesar de ser uniforme na sua essência e nas suas linhas gerais, varia consideravelmente de país para país. Nos países anglo-saxónicos, a acção da Maçonaria é visível sobretudo em obras de caridade e filantropia, trabalhos que são praticamente postos de parte nos países latinos, em que a Maçonaria se encontra absorvida na actividade política. No que diz respeito à caridade, mesmo na Inglaterra, país onde as maiores somas são dispendidas neste capítulo, a filantropia maçónica não parece ser inspirada em ideais elevados de generosidade e desinteresse, pelo menos no que diz respeito à maior parte dos irmãos, uma vez que aparentemente, as principais contribuições são feitas por uns poucos irmãos muito abastados. Curiosamente, na maior parte dos países, são principalmente maçons e as suas famílias os principais beneficiários desta caridade.

A beneficência maçónica dirigida ao mundo profano aparenta ser pouco mais que figurativa, consistindo sobretudo na propagação e aplicação de princípios maçónicos através dos quais alguns maçons fingem promover o bem-estar da Humanidade. Quando, nalguns países, particularmente nos países católicos, ocasionalmente se dedicam a obras de caridade, o seu objectivo parece ser, sobretudo, ganhar alguma simpatia e, através disso, aproximarem-se dos seus verdadeiros objectivos. Na América do Norte, uma característica evidente do trabalho externo é a tendência para o exibicionismo na construção de sumptuosos templos maçónicos, procissões maçónicas e em eventos públicos diversos. Esta tendência tem sido frequentemente criticada por autores maçónicos americanos, que apelam a um regresso à simplicidade pura e bela do simbolismo da Loja e ao abandono do panache e da vaidade dos altos graus do Rito Escocês de do Templarismo, chegando a acusar muitos irmãos de terem passado pelos ritos sem qualquer brilhantismo e depois serem os que estão nas linhas da frente nas procissões e banquetes.

Reflectindo sobre tudo o que estudámos, concluímos que os objectivos reais, tanto do trabalho interno como do externo da maçonaria são a propagação e a aplicação dos princípios maçónicos. O método maçónico original em que a Loja é o campo neutro em que homens de todas as religiões e opiniões políticas se podem encontrar, desde que respeitem os princípios maçónicos, não interferia em política partidária, antes, deixando a cada um dos membros a tarefa de aplicar os princípios maçónicos aos problemas do dia. Este método foi abertamente rejeitado pela Maçonaria dos países latinos e por muitos Conselhos Supremos do Rito Escocês Antigo e Aceite. Este método também foi, na prática, abandonado pelas maçonarias germânicas e britânicas e até pela maçonaria americana.

Tome-se o caso da independência da União Americana, na qual as lojas maçónicas americanas tiveram um papel preponderante, as lojas dos “antigos” tomaram partido pela independência, enquanto que as dos “modernos” tomaram o lado da Grã-Bretanha, é comum encontrarem-se escritos maçónicos que reclamam cinquenta e cinco dos cinquenta e seis signatários da declaração de independência dos Estados Unidos da América como membros da Maçonaria. Historiadores aparentemente imparciais também atribuem papéis de relevo à maçonaria em casos como a Independência do Brasil, a Revolução Francesa e posteriores movimentos revolucionários em França, Espanha, Portugal, na Rússia e em toda a América Central e do Sul. No que diz respeito à Revolução Turca, parece certo que o Partido dos Jovens Turcos, que dirigiu e levou a cabo a revolução, era conduzido por maçons e que os Grandes Orientes de Itália e de França tiveram um papel preponderante na sublevação que introduziu a República na Turquia. Levando a cabo este tipo de trabalho, a Franco-Maçonaria tem propagado princípios que são essencialmente revolucionários e têm servido de base para todo o tipo de movimentos revolucionários.

Ao instruir os maçons para que encontrem por si próprios reformas sociais conformes aos ideais maçónicos e trabalhem para a sua realização, a Maçonaria induz nos seus membros e, através deles, na sociedade, o espírito da inovação. A associação aparentemente benéfica e inofensiva que a Maçonaria pretende ser, devido ao seu secretismo e simbolismo ambíguo, tem-se transformado ao longo dos tempos no berço e abrigo de algumas conspirações. Em certas alturas, as próprias Lojas chegaram a transformar-se em clubes conspiratórios e noutras, os seus elementos foram incentivados e treinados para fundarem outras associações com esses objectivos ou para fazerem uso de instituições existentes.

Historicamente, no Séc. XVIII, a Maçonaria preparou a Revolução Francesa. A aliança da Franco-Maçonaria à Filosofia foi publicamente selada através da iniciação solene de Voltaire a 7 de Fevereiro de 1778, e a recepção por parte deste das suas vestes maçónicas pelas mãos do famoso materialista Irmão Helvetius. Antes da revolução, várias sociedades conspiratórias surgiram ligadas à Maçonaria, da qual copiaram a sua forma e métodos, como por exemplo os Illuminati e os clubes Jacobinos. Um número relativamente grande de líderes revolucionários foram membros de Lojas maçónicas, tendo sido treinados para as suas carreiras políticas pelas suas vidas dentro das Lojas. Até o programa para a revolução, expresso nos “direitos do homem” e o seu lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, foram retirados dos princípios maçónicos. Da mesma forma, em Itália, no Séc. XIX, a Franco-Maçonaria colaborou com a Carbonária no movimento revolucionário. Quase todos os líderes proeminentes e, entre eles, Mazzini e Garibaldi, são referidos como membros da maçonaria.

domingo, 29 de abril de 2007

O Trabalho da Maçonaria

Passados que estão dois meses desde a última edição deste breviário, regressamos ao tema da Maçonaria, que deixámos incompleto devido à enorme extensão de texto.

Começamos por publicar parte do texto de um e-mail que nos chegou do Seixal, que nos dá nota de um assunto de relevo, escreveu-nos este leitor, o seguinte:

“Quero-te falar de António Augusto Louro, que é um ilustre desconhecido para a grande maioria e quanto muito para os habitantes do Seixal é nome de escola.
No entanto para além de outras coisas, é a ele que se deve por exemplo, a primeira comemoração do dia da árvore realizada em Portugal, evento que se realizou no Seixal, fará no próximo mês de Maio 100 anos.
Comemoração esta muito ligada ao ideal maçónico, bem como à época o era a instrução do povo, com a criação das escolas oficina e evento maior a proclamação da República, intimamente ligada à Associação do Registo Civil e ainda à Carbonária, à qual António Augusto Louro também pertencia.
Interessa ainda que Augusto Louro presidiu à instalação da Loja "Esperança de Porvir" loja fundada em 1906 no Barreiro e que manteve a sua actividade até à clandestinidade em 1935.
Augusto Louro fundou ainda Lojas e Triângulos na Moita e Sesimbra.”

Pediu-nos este amigo que nos debruçássemos mais sobre este assunto e procurássemos mais informação sobre esta figura histórica do concelho do Seixal. Depois de uma breve pesquisa na Internet concluímos que esse esforço não seria necessário, uma vez que já está presente no site do Grémio Lusitano uma curta biografia de António Augusto Louro. Quem tiver mais interesse sobre este tema poderá facilmente consultar a página constante deste endereço: www.gremiolusitano.pt/pdf/cont81.pdf .

Posto isto, continuemos o assunto em causa.



5.5 - O Trabalho Interno da Maçonaria: Símbolos e Votos

“Do princípio ao fim, Maçonaria é trabalho”. O trabalho maçónico, propriamente dito, é o trabalho interno ritual e secreto através do qual os maçons são preparados para o trabalho externo. Este último, por sua vez, consiste na acção para o bem geral da humanidade de acordo com os princípios maçónicos. Recordemos os três graus da Maçonaria. Estes três graus correspondem a três rituais de passagem, que simbolizam a transformação da pedra bruta numa peça sem imperfeições. Estes rituais de passagem são, por ordem, a iniciação, a passagem e a ascensão. Os símbolos presentes nestas cerimónias, explicados de acordo com os princípios maçónicos e com as pistas verbais recebidas nos rituais e palestras, constituem o manual de instrução maçónico.

A educação, uma vez iniciada, é complementada pela participação na vida da Loja, na qual cada maçon é encorajado a participar activamente, participando regularmente nas reuniões, beneficiando, de acordo com a sua habilidade, dos meios que a Maçonaria lhe oferece para se aperfeiçoar. Este aperfeiçoamento é feito de acordo com os ideais maçónicos, através da participação na discussão de temas maçónicos e do contributo para o bom governo da Loja, que é apresentada como um modelo para a sociedade em geral. A Loja é, supostamente, um modelo para o mundo e é proposto que os maçons tomem parte na regeneração da espécie Humana. O simbolismo da Maçonaria é a sua própria alma, sendo a sua essência, do princípio ao fim, o símbolo.

O Maçom é treinado para considerar as instituições religiosas, políticas e sociais existentes como fases passageiras da evolução humana e para descobrir através do seu próprio trabalho as reformas a ser realizadas em favor do progresso Maçónico e os meios de as tornar realidade. O maçom é assim ensinado a ver nas doutrinas e dogmas prevalecentes concepções meramente subjectivas ou símbolos em mutação de uma verdade universal imutável que está reflectida nos ideais maçónicos.

A enfase neste simbolismo, que não é exclusivo da Maçonaria, e que se refere a mistérios e doutrinas de todos os tempos e de todas as civilizações, tem algumas vantagens. Os símbolos, sendo adaptáveis a todos os gostos, doutrinas e opiniões, permitem atrair candidatos e fascinar os iniciados, permitindo preservar a unidade não sectária da Maçonaria apesar de profundas diferenças de religião, raça, nacionalidade e tendências individuais. Sendo símbolos que resumem o conhecimento teórico e prático de todas as eras e de todas as nações, constituem uma linguagem inteligível universalmente. A vantagem maior do uso de tanto simbolismo é que permite à Franco-Maçonaria ocultar os seus propósitos dos profanos e até daqueles que, entre os iniciados, são incapazes de apreciar esses objectivos, ou são mal intencionados e dissimulados na sua participação na vida maçónica.

Apenas parte dos símbolos é revelada aos iniciados, que são intencionalmente enganados através de falsas interpretações. O significado dos símbolos não é desvendado de uma só vez, sendo apenas dadas pistas relativamente ao seu significado geral, devendo cada um descobrir o seu significado profundo e misterioso por si próprio. Cabe assim, a cada maçom, individualmente, descobrir o segredo da Maçonaria através da reflexão sobre os seus símbolos e da cuidada consideração de tudo o que é dito e feito no trabalho da Loja, percebendo-se então aqui a definição da Maçonaria como “uma ciência da moralidade velada na alegoria e ilustrada por símbolos”.