sábado, 24 de fevereiro de 2007

Autoridade ou Poder?

Hoje trago-vos um simples apontamento que se enquadra no tema da Liderança. Uma pequena explanação da diferença entre autoridade e poder e consequências desta diferença, que parece subtil mas, uma vez percebida, abre todo um novo mundo de possibilidades à acção do político. Até breve.

14- Autoridade e Poder

Há uma diferença essencial entre os conceitos de autoridade e poder, é que o poder é factual enquanto que a autoridade é relativa, todos temos um certo grau de autoridade, que podemos exercer, enquanto que o poder é exclusivo de quem tenha uma determinada posição. O poder é capacidade de fazer, enquanto que autoridade é capacidade de fazer crescer. De facto, a autoridade é a capacidade de autor e o autor é aquele que faz crescer, defende-se que a autoridade é o valor que se reconhece a uma pessoa que é capaz de nos fazer crescer num dado aspecto, um exemplo deste conceito é fácil de apresentar: Um professor de uma qualquer disciplina é, para nós, uma autoridade nessa área enquanto nos possa ensinar algo, depois disso, deixamos de lhe reconhecer autoridade.

A autoridade tem de ser reconhecida pelo outro, enquanto o poder, não. Autoridade e poder não são sinónimos. Autoridade vem do Latim “autoritas”, que se traduz livremente como “capacidade de autor”. Poder tem origem no latim “potestas”. Em política, “autoridade” é frequentemente confundida com “poder”, no direito Romano, “auctoritas” é usado em oposição a “potestas” ou a “imperium”. Um Senador, na política romana, não era um magistrado, (vide o nosso artigo, publicado anteriormente sobre a política romana), trabalhava somente ao nível da influência pessoal, detendo autoridade sem deter poder. O significado de “autoridade” difere do significado de poder, por este último significar a capacidade de atingir certos fins e a primeira, a legitimidade, justificação e o direito de os atingir. Temos, neste caso o exemplo de Mohandas Ghandi, que nunca teve qualquer espécie de poder, no entanto, a demonstração da sua autoridade moral e política era de tal forma elevada que levou 800 milhões de indianos a seguirem incontestavelmente a sua liderança.

Paradoxalmente, costumamos referir-nos aos polícias como agentes da autoridade, o que, de facto, não são, o que são é agentes do poder, tornam-se agentes de autoridade somente quando são capazes de nos fazer perceber, por meio da sua autoridade pessoal e não pelo poder que lhes está conferido, que certa ou determinada atitude ou acção não é moralmente correcta. O poder está ligado à Lei e a autoridade está ligada à legitimidade. Um agente de polícia nunca pode abusar da autoridade, somente pode abusar do poder.

Max Webber, na sua obra “Conceitos Básicos de Sociologia”, afirma, “Por poder entende-se cada oportunidade ou possibilidade existente numa relação social que permite a um indivíduo cumprir a sua própria vontade”.

Grande parte do debate sociológico recente sobre o “poder”, gira em torno do problema de definir a sua natureza como permissiva ou restritiva. Nestes termos, o “poder” pode ser visto como um conjunto de maneiras de restringir a acção humana, mas também como aquilo que permite que a acção seja possível, pelo menos dentro de uma certa medida. Grande parte desta discussão está relacionada com os trabalhos de Foucault que, na sequência de Maquiavel, vê o “poder” como “uma complexa situação estratégica numa determinada sociedade”. Sendo meramente estrutural, o conceito de Foucault engloba tanto as características restritivas como as permissivas.

A imposição não requer necessariamente da coacção (força ou ameaça de força). Assim, o “poder”, no sentido sociológico, inclui tanto o poder físico como o poder político, a par de muitos outros tipos de poder existentes.

Poder-se-ia definir o “poder” como a maior ou menor capacidade unilateral (real ou percebida) ou potencial de produzir mudanças significativas, tipicamente, sobre as vidas de outras pessoas, através das acções realizadas pelo próprio ou através de terceiros.

A utilização do poder com base numa interpretação evolucionista aplicada aos indivíduos está relacionada com a finalidade de permitir a uma pessoa desenvolver-se até ao mais elevado nível de conforto que possa alcançar dentro da sua esfera social.

Depois de percebermos isto, acrescenta-se que o poder está relacionado com o verbo ter, ou se tem ou não se tem poder. A autoridade está relacionada com o verbo ser, ou se é ou não se é uma autoridade. Apesar do exercício do poder ser endémico nas comunidades humanas, é efectivamente a autoridade que provoca as mudanças, pois trabalha ao nível do ser e não ao nível do ter, o que se tem, pode ser retirado, enquanto que o que se é, apenas pode ser transformado. Afirma-se, por isso, que a liderança exercida no campo da autoridade é sempre melhor recebida que quando é exercida no campo do poder, e isso faz toda a diferença quando o papel do líder é entendido com um objectivo de transformação da realidade.

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