segunda-feira, 11 de junho de 2007

Ich bin ein Berliner

Há líderes políticos, militares, empresariais, académicos e religiosos que impressionam pela força da sua imagem pessoal, do seu discurso, das suas acções ou das suas histórias de vida. Hoje vamos dar início, nestas páginas, a uma série de breves biografias de grandes líderes do Séc. XX, visitaremos os discursos e as biografias de John Kennedy, Mohandas Ghandi, Kemal Ataturk, Winston Churchill, Benito Mussolini, o Dalai Lama, Mao Tse Tung, Albert Einstein, George S. Patton, Henry Ford, Nelson Mandela, Vladimir Ilich Ilianov, T.E. Lawrence, entre outros que marcaram o ritmo e os eventos do Século passado.

Tentaremos, sempre que possível, enquadrar as suas vidas nos momentos históricos que viveram, acrescentando, para isso, títulos a este breviário que se encontrem relacionados com os episódios relevantes. Hoje abordaremos a história de John FItzgerald Kennedy. Os seus discursos envolventes e motivantes, que nunca nos cansamos de voltar a ouvir, aliados a uma história trágica, converteram este Presidente dos Estados Unidos da América num ícone do Séc.XX, para a história da Europa fica o seu discurso de Berlim, que foi, na nossa modesta opinião, um dos seus melhores, tendo fixado na história um dos momentos mais marcantes da Guerra Fria.

Em Junho de 1963, o Presidente John Kennedy iniciou uma visita a cinco países da Europa Ocidental com o propósito de aumentar a boa vontade e a unidade entre os aliados dos E.U.A.. A sua primeira paragem foi na República Federal da Alemanha, uma nação que, menos de vinte anos antes tinha estado envolvida num projecto de conquista mundial sob a ditadura de Hitler. A seguir à derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, o país tinha sido dividido em dois, com o Leste sob controlo da União Soviética e o Oeste tornando-se uma nação democrática.

A Alemanha dividida cedo se tornou um foco de tensões entre as duas novas super potências mundiais, os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Berlim, a anterior capital alemã, tornou-se o ponto quente político desse período a que se veio a chamar “Guerra Fria”. Apesar da cidade estar localizada na Alemanha de Leste, Berlim encontrava-se dividida, com Berlim Leste sob o controlo da URSS e Berlim Ocidental sob jurisdição Americana, Inglesa e Francesa.

Em 1948, os Soviéticos levaram a cabo um bloqueio temporário de Berlim Ocidental, cortando-lhe todos os acessos por via terrestre. Durante os onze meses que se seguiram, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha levaram a cabo uma ponte aérea maciça, levando quase dois milhões de toneladas de comida, carvão e matérias primas à cidade cercada.

Em 1961, o governo da Alemanha Oriental, que era liderado por Walter Ulbricht, erigiu uma barreira de arame farpado em volta da parte ocidental de Berlim, numa extensão de cerca de 150 Km. Esta barreira foi oficialmente chamada “antifaschistscher shutzwall”, (barreira de protecção anti-fascista), e as autoridades da Alemanha Oriental argumentaram que servia para impedir a entrada na RDA, (República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental), de espiões e agentes da Alemanha Ocidental (RFA), que eles consideravam um estado fascista. No entanto, esta obra tornou-se universalmente conhecida como o “Muro de Berlim” e a opinião maioritária era que o seu propósito era impedir os cidadãos da Alemanha Oriental de fugir para o Ocidente.

Ao longo de um período de meses, a barreira foi reconstruída usando betão armado e os edifícios que se encontravam na sua proximidade foram demolidos para criar uma zona morta, permanentemente vigiada por guardas da RDA armados com metralhadoras. Em 1962, a primeira tentativa de fuga que resultou na morte de um cidadão da RDA, tirou a vida a Peter Fechter. Até à queda do muro, foram abatidas perto de duzentas pessoas, das que tentaram a fuga para o Ocidente.

O Presidente Kennedy chegou a Berlim a 26 de Junho de 1963, depois de visitar Bona, Colónia e Frankfurt, onde havia discursado perante multidões extasiadas. Em Berlim, uma imensa multidão reuniu-se na Rudolph Wilde Platz, (que hoje se chama John F. Kennedy Platz), perto do muro, para ouvir o Presidente Americano que fez o seu discurso mais memorável e o concluiu com a frase que ficou para a história: Ich bin ein Berliner.

“Eu sou um cidadão de Berlim” , disse Kennedy, reafirmando o apoio dos Estados Unidos da América à Alemanha Ocidental, num discurso em que foi ladeado pelo Presidente da Câmara de Berlim, Willy Brandt, e que constituiu uma injecção de moral para os cidadãos da cidade cercada que temiam uma invasão por parte da Alemanha de Leste. Falando da varanda da Rathaus Shoeneberg, Kennedy afirmou:

“Freedom has many difficulties and democracy is not perfect, but we never had to put a wall up to keep our people in.”

(A liberdade tem muitas dificuldades e a democracia não é perfeita, mas nunca tivemos de erigir um muro para manter o nosso povo cá dentro.)

Fica ainda desse discurso a afirmação:

“Two thousand years ago the proudest boast was “civis romanus sum”. Today, in the world of freedom, the proudest boast is ´Ich bin ein Berliner´... All free men, wherever they may live, are citizens of Berlin, and, therefore, as a free man, I take pride in the words ´Ich bin ein Berliner!´ ”

(Há dois mil anos, a afirmação mais orgulhosa era “civis romanus sum”, (sou cidadão de Roma). Hoje, no mundo da liberdade, a afirmação mais orgulhosa é “ich bin ein Berliner”, (sou um cidadão de Berlim)... Todos os homens livres, onde quer que residam, são cidadãos de Berlim e, portanto, com homem livre, tenho orgulho nas palavras “ich bin ein Berliner”!)

John Fitzgerald Kennedy foi o 35.º Presidente dos Estados Unidos da América e foi assassinado aos 46 anos de idade, ao longo da sua presidência, ocorreram eventos, que terão lugar neste breviário, como a Invasão da Baia dos Porcos, a Crise dos Mísseis Cubanos, a construção do Muro de Berlim, a Corrida Espacial, o Movimento Americano dos Direitos Civis e os primeiros eventos da Guerra do Vietname. Hoje vamos conhecer a história deste homem:


22- John Fitzgerald Kennedy, 35.º Presidente dos Estados Unidos da América

John Fitzgerald Kennedy nasceu a 29 de Maio de 1917 em Brookline, no Estado de Massachussets, de uma família de ascendência Irlandesa e tradicionalmente Católica. Foi o esundo filho de Joseph Patrick Kennedy Sr. e de Rose Fitzgerald. O seu avô materno tinha sido uma figura proeminente na política de Boston, de que chegou a ser Mayor e representante no Congresso dos Estados Unidos da América ao longo de três mandatos. O seu pai chegou a ser Embaixador dos Estados Unidos em Londres.

Aos dez anos de idade a família Kennedy mudou-se para uma mansão em Rverdale, no Bronx Nova-Iorquino, e, dois anos mais tarde, voltaram a mudar-se, desta vez para Bronxvill, em Nova-Iorque. Ai, John Kennedy, tornou-se membro dos Escuteiros, tendo-se mais tarde tornado no primeiro Presidente Americano que fez parte do movimento Escutista.

Depois de ter iniciado a escola no ensino público, no 5.º Ano foi inscrito numa escola privada para rapazes em Riverdale, onde ficou até ao final do 7.º Ano de escolaridade. Ao iniciar o 8.º Ano, em Setembro de 1930, Kennedy foi enviado para a Canterbury School, um internato Católico para rapazes a 80 Km. de distância de sua casa. Em Abril de 1931, foi operado a uma apendicite, pelo que abandonou aquela escola e voltou para casa. Em Setembro do mesmo ano, foi inscrito noutro internato, desta vez a Choate School em Wallingford, no Conneticut, onde faria a preparação para a Universidade, do 9.º ao 12.º Ano, co-habitando ai com o seu irmão mais velho que estava dois anos adiantado em relação a ele.

Em Janeiro de 1934, adoeceu e foi internado no Hospital de New Haven, em Yale, e ai permaneceu até à Páscoa, em Junho foi internado na Clínica Mayo, em Rochester, no Minnesota para ser tratado de uma Colite. Acabou a instrução secundária em Choate, em 1935, no seu Livro de Curso, era apontado como “O mais provável de chegar a Presidente”. Em Setembro desse ano embarcou no SS Normandie com os seus pais e a a sua irmã Kathleen, com destino a Londres, onde iria estudar um ano na London School of Economics, com o Professor Harold Laski, acabou por ser hospitalizado com iterícia, e, ao fim de menos de três semanas em Londres, embarcou de volta. Em Outubro inscreveu-se na Universidade de Princeton, mas voltou a ser hospitalizado, desta vez por uma possível leucemia. Com o ano de estudos perdido, no fim da convalescença que durou de Janeiro a Abril, passou dois meses a trabalhar num rancho de gado no Arizona e depois passou os meses de Julho e Agosto em Hyannis Port, a fazer corridas de veleiros.

Em Setembro de 1936, inscreveu-se no Harvard College. No ano seguinte viajou por toda a Europa durante dez semanas. Em 1938, voltou à Europa, desta vez, na companhia do seu pai e do seu irmão Joseph, tendo passado o mês de Julho a trabalhar na Embaixada Americana em Londres e o mês de Agosto com a sua família em Cannes. De Fevereiro a Setembro de 1939, Kennedy faz uma viagem de sete meses em que passa por toda a Europa, incluindo a União Soviética e os Balcãs e passa pelo Médio Oriente, com o fim de recolher informação para a sua tese de final de curso. Passou os últimos dez dias desta viagem na Checoslováquia e na Alemanha, de onde regressou para Londres a 1 de Setembro de 1939, o dia em que a Alemanha invadiu a Polónia. A 3 de Setembro, a família Kennedy encontrava-se na Galeria dos Visitantes da Casa dos Comuns a ouvir um famoso discurso de Winston Churchill a exortar a declaração de Guerra à Alemanha por parte do Reino Unido.

Regressado à América, Kennedy escreve a sua tese final de curso, intitulada “Apaziguamento em Munique”, sobre as negociações Germano-Britânicas relativas ao Acordo de Munique. Inicialmente pretendeu que a sua tese fosse apenas para uso académico, no entanto, o seu pai encorajou-o a publicar a tese em livro. Foi diplomado “cum laude” por Harvard em Relações Internacionais, em Junho de 1940. A sua tese foi publicada em livro, com o título “Porque a Inglaterra adormeceu?”, e tornou-se um best-seller.

De Setembro a Dezembro de 1940, Kennedy foi assistente na Stanford Graduate School of Business. No inicio do ano seguinte, ajudou o seu pai a escrever a suas memórias sobre os seus três anos como embaixador em Londres. Na primavera, alistou-se no Exército dos E.U.A., mas foi rejeitado devido a um problema com as suas costas. Em Maio e Junho, viajou pela América do Sul. Em Setembro voltou a tentar o alistamento, desta vês na Marinha, que o aceitou devido à influência do Director do Gabinete de Ineligência naval, que havia sido adido militar do seu pai, enquanto Embaixador. Kennedy começou com o posto de Aspirante no gabinete que preparava os relatórios para o Secretário de Estado da Marinha. Durante esta época ocorreu o ataque Japonês a Pearl Harbour. Depois de ser destacado para a Escola de Oficiais de Reserva e para a Escola de Navios Torpedeiros, foi enviado para o Panamá e mais tarde para o Pacífico. Participou em vários comandos na campanha do Pacífico e foi promovido a Tenente, sendo-lhe atríbuido o comando do barco de patrulha PT-109.

A 2 de Agosto de 1943, o barco de Kennedy realizava uma patrulha nocturna próximo da Nova Geórgia, nas Ilhas Salomão. A meio da noite, o seu barco foi abalroado pelo destroyer Japonês Amagiri. Kennedy foi lançado através do convés, aleijando-se nas costas. Apesar disso, conseguiu salvar três camaradas, chegando rebocar um deles, a nado, ao longo de cinco quilómetros de mar, até chegarem a uma ilha onde ele e a sua tripulação acabaram por ser, posteriormente recolhidos. Depois deste evento, Kennedy foi condecorado com a “Naval and Marine Corps Medal”. Passou à reserva no princípio de 1945, poucos meses antes da rendição do Japão.

No final da Segunda Guerra Mundial, Kennedy pensou em tornar-se jornalista por uns tempos antes de acabar por decidir seguir uma carreira política.Antes da Guerra, a política tinha sempre estado fora das suas perspectivas pois a família já tinha escolhido o seu irmão Joseph como o futuro político da casa, preparando-o para um dia ser o possível Presidente. Tragicamente, o irmão mais velho morreu na Guerra, colocando John na linha para cumprir as ambições políticas do seu pai.

Em 1946, John Fitzgerald Kennedy concorre a Representante no Congresso, sendo eleito com uma vantajosa margem contra o seu oponente Republicano. Foi congressista durante seis anos, divergindo frequentemente do Presidente Harry Truman e do resto do Partido Democrático. Em 1952 derrotou o candidato Republicano Henry Cabot Lodge Jr., conquistando o seu lugar no Senado dos Estados Unidos da América. Em 1953 casa-se com Jacqueline Lee Bouvier. Nos dois anos seguintes foi operado várias vezes à coluna vertebral e quase morreu, o que fez com que tivesse recebido a extrema-unção quatro vezes durante a sua vida e estivesse afastado do Senado durante bastante tempo. Nessa época publicou o seu livro “Perfis de coragem”, no qual analisava oito circunstâncias em que diferentes Senadores arriscaram as suas carreiras por seguirem as suas convicções pessoais. O livro foi galardoado com o Prémio Pulitzer em 1957.

Em 1956, depois de Adlai Stevenson deixar à Convenção Democrata a tarefa de escolher o candidato a Vice-Presidente, Kennedy ficou em segundo lugar nessa votação, no entanto, obteve bastante exposição pública em função desse facto. A seguir a isso foi eleito para um segundo mandato no Senado.

O Senador Joseph McCarthy era um amigo próximo da família Kennedy e o pai de John era um dos seus maiores apoiantes. Robert Kennedy trabalhava para a sub-comissão McCarthy e McCarthy namorava Patrícia Kennedy. Em 1954, quando o Senado estava prestes a condenar McCarthy, John Kennedy tinha um discurso preparado para censurar McCarthy, mas nunca o chegou a fazer. Quando o Senado publicou a sua decisão de censurar McCarthy, John Kennedy estava hospitalizado. Kennedy nunca indicou como teria votado nessa ocasião.

Em Janeiro de 1960, Kennedy declarou a sua intenção de concorrer a Presidente dos Estados Unidos da América. Ganhou as primárias e, na Convenção Democrata de Julho foi nomeado candidato do Partido Democrata às Eleições Presidenciais. Kennedy pediu a Lindon Johnson para ser o seu candidato a Vice-Presidente. Apesar da oposição da ala Liberal do seu partido, Kennedy precisava da força de Johnson nos Estados do Sul, para ter algumas hipóteses de ganhar aquelas que se previam ser as eleições mais renhidas desde 1916. Os temas que dominaram a campanha foram o re-lançamento da economia, o catolicismo de Kennedy, a situação de Cuba e a corrida espacial e ao armamento com a U.R.S.S.. Para afastar os receios de que o seu catolicismo tivesse impacto no voto dos Americanos, maioritariamente protestantes, declarou, num famoso discursoem Houston: “Não sou o candidato católico a Presidente, sou o candidato do Partido Democrata a Presidente, que por acaso também é católico. Não falo pela minha Igreja em assuntos públicos, e a Igreja não fla por mim”. Kennedy também suscitou o facto de um quarto dos cidadãos Americanos serem relegados para segundo plano pelo facto de serem Católicos.

Em Setembro e Outubro, Kennedy debateu com o candidato Republicano, o Vice-Presidente Richard Nixon, nos primeiros debates televisivos da história da televisão Americana. Durante os debates, Nixon apareceu tenso e descorado, enquanto Kennedy apareceu composto, isto levou a audiência televisiva a dar a vitória a Kennedy, enquanto que a audiência radiofónica deu a vitória a Nixon. Nixon não usou maquilhagem para o debate, ao contrário de Kennedy. Estes debates são considerados como um marco histórico, sendo o momento em que o meio televisivo passou a ter importância na política.

John Fitzgerald Kennedy tomou posse como Presidente dos Estados Unidos da América a 20 de Janeiro de 1961. No seu discurso inaugural falou da necessidade dos cidadãos tomarem um papel activo. A sua afirmação mais famosa: “Não perguntem o que o vosso país pode fazer por vós, perguntem o que vocês podem fazer pelo vosso país”, foi feita nessa ocasião, na qual também exortou todas as nações do mundo a lutar em conjunto contra os “inimigos comuns do Homem: a tirania, a pobreza, a doença e a própria guerra”.

Pouco tempo depois de tomar posse, Kennedy é confrontado com um plano que estava, secretamente, em preparação, desde a Administração Eisenhower, para derrubar o Regime de Castro, em Cuba. O plano, desenvolvido pela CIA sem a participação do Departamento de Estado, consistia em armar um exército de insurgência contra-revolucionária, constituído por Cubanos anti-Castro. Rebeldes Cubanos treinados pelos E.U.A. invadiriam Cuba e instigariam uma sublevação popular, na esperança de derrubar o Ditador Castro. A 17 de Abril de 1961, Kennedy deu a sua aprovação à prossecussão do plano previamente aprovado. Apesar de Kennedy não autorizar a utilização de apoio aéreo por parte dos E.U.A., a CIA prosseguiu com o envio de 1500 exilados Cubanos, a que chamaram a Brigada 2506, para o que ficou conhecido como a Invasão da Baia dos Porcos. A 19 de Abril, o Governo Cubano tinha morto ou capturado todos os invasores, e Kennedy foi forçado a negociar a libertação dos 1189 sobreviventes. A falha do plano teve base na completa falta de diálogo entre as chefias militares, que resultou na total ausência de apoio naval frente a forças de artilharia bem organizadas na ilha que facilmente incapacitaram a força invasora nas praias onde desembarcou. Ao fim de 20 meses, Cuba libertou os prisioneiros em troca de 53 milhões de dólares em comida e medicamentos.

Este incidente, para além do grande embaraço que provocou aos Estados Unidos, fez Castro passar a olhar para os Americanos com suspeição, e a acreditar que mais tarde ou mais cedo, teria lugar outra invasão. Isto levou a que Cuba reforçasse a sua colaboração militar com Moscovo e optasse definitivamente pela implementação de um regime do tipo Comunista.

A 14 de Outubro de 1962, aviões espiões U-2 Americanos tiraram fotografias da construção de um silo de mísseis balísticos de alcance intermédio Soviético, em Cuba. Começara a Crise dos Mísseis Cubanos. A 16 de Outubro, as fotografias chegaram às mãos de Kennedy. A América enfrentava a ameaça do nuclear. Colocou-se então, a Kennedy, um dilema: se os E.U.A. atacassem esses silos, isso poderia provocar uma guerra mundial com a U.R.S.S., se nada fizessem, teriam de viver com a ameaça perpétua de armas nucleares na sua região, a uma proximidade tal que se os mísseis fossem lançados, os E.U.A. não teriam tempo de retaliar. Outra ameaça era a de os Estados Unidos aparecerem ao mundo como fracos no seu próprio hemisfério. Kennedy ordenou um bloqueio naval em que os Estados Unidos passariam a inspeccionar todos os navios que se dirigissem a Cuba.

Kennedy iniciou negociações com os Soviéticos e ordenou-lhes que retirassem todo o material “defensivo” que estava a ser construído na ilha de Cuba, caso contrário, os povos Cubano e Soviético seriam confrontados com bloqueios navais. O mundo esteve à beira da Guerra Nuclear. Uma semana mais tarde, chegou a um acordo com Nikita Khrutchev, o primeiro-ministro Russo. Khrutchev acordou em retirar os mísseis de Cuba enquanto os Estados Unidos prometeram publicamente nunca invadir a ilha, desde que inspectores das Nações Unidas pudessem verificar a retirada. Kennedy também prometeu, secretamente, retirar nos seis meses seguintes, os mísseis que os Estados Unidos tinham na Turquia.

Argumentando que “aqueles que tornam a revolução pacífica impossível, tornam a revolução violenta inevitável”, Kennedy tentou conter o comunismo na América Latina estabelecendo uma Aliança para o Progresso, que enviava ajuda humanitária aos países em dificuldades na região e procurava elevar os padrões dos direitos humanos nesses países.

Em seguida, Kennedy criou o Peace Corps, uma organização através da qual os Americanos se podiam voluntariar para a ajuda a países sub-desenvolvidos em áreas como a educação, a agricultura, a saúde e a construção.

Entretanto, no Sudoeste Asiático, Kennedy seguiu a política de Eisenhower de utilizar acções militares limitadas para combater os forças comunistas lideradas por Ho Chi Minh. Proclamando a luta contra a expansão do Comunismo, Kennedy pôs em prática políticas de apoio político, económico e militar ao instável Governo instalado pela França no Vietname do Sul, o que incluiu o envio de dezasseis mil conselheiros militares e tropas especiais para aquela área. Kennedy também aprovou o uso de zonas de fogo livro, napalm, desfolhantes e aviões a jacto. O envolvimento Americano naquela zona cresceu continuamente até que forças regulares Norte-Americanas estavam no terreno na Administração seguinte.

A Administração Kennedy aumentou o apoio militar mas o exército Sul-Vietnamita não era capaz de fazer frente aos movimentos pró-independência do Viet-Minh e do Viet-Cong. Em Julho de 1963, Kennedy enfrentava uma crise no Vietname. A resposta da sua Administração foi auxiliar num golpe de estado contra o Presidente Ngo Dinh Diem. Em 1963, um grupo de Generais Vietnamitas derrubou o Governo de Diem, prendendo-o e depois matando-o, sendo que as circunstâncias exactas da sua morte permanecem pouco claras até aos dias de hoje. Kennedy sancionou o derrube de Diem. Uma razão para o apoio ao golpe foi o receio de que Diem pudesse negociar uma coligação de Governo com os Comunistas, como tinha ocorrido no Laos em 1962. Continua a ser controverso o debate sobre se a situação no Vietname teria chegado ao ponto que chegou se Kennedy tivesse cumprido o seu mandato até ao fim. A alimentar esta controvérsia existem declarações do Secretário de Estado da Defesa de Kennedy, Robert MacNamara, de acordo com as quais Kennedy estaria a pensar retirar do Vietname a seguir às eleições de 1964, adicionalmente, existe uma ordem dada por Kennedy a 23 de Outubro de 1963 para a retirada de mil efectivos até ao fim do ano. Após o seu assassinato, o novo Presidente Lindon Johnson, imediatamente anulou essa ordem de Kennedy, a 26 de Novembro de 1963.

Sob pressões opostas e simultâneas dos Aliados e dos Soviéticos, a Alemanha encontrava-se dividida. O Muro de Berlim isolava Berlim Ocidental como um enclave no meio da Alemanha de Leste, que se encontrava sob domínio Soviético. A 26 de Junho de 1963, Kennedy visitou Berlim Ocidental e fez um discurso público, criticando o Comunismo, usando a construção do muro para defender a sua tese: “A Liberdade tem muitas dificuldades e a democracia não é perfeita, mas nunca tivemos de construir um muro para manter o nosso povo cá dentro”. O discurso ficou famoso pela sua frase “Ich bin ein Berliner”. Quase cinco sextos da população estavam na rua quando Kennedy disse a famosa frase. Mais tarde, diria aos seus asssistentes: “Nunca teremos outro dia como este”.

Atormentado pelos perigos a longo prazo da contaminação radioactiva e da proliferação do armamento nuclear, Kennedy promoveu a adopção de um Tratado Parcial de Proibição de Testes Nucleares, que proibia testes no solo, na atmosfera e debaixo de água, mas não proibia os testes subterrâneos. Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética foram os primeiros signatários desse tratado. O tratado foi passado para a Lei em Agosto de 1963.

Kennedy chamou à sua política interna a “Nova Fronteira”. Prometia, de forma ambiciosa, financiamento federal para a educação, assistência médica para os idosos e intervenção governamental para parar a recessão. Kennedy também prometeu acabar com a discriminação racial. Em 1963, propôs uma reforma fiscal que incluía cortes nos impostos sobre os rendimentos, mas esta reforma só foi aprovada pelo Congresso em 1964, após a sua morte. Poucos dos maiores planos de Kennedy foram aprovados pelo Congresso durante a sua vida, no entanto, o Congresso acabou por votá-los em 1964 e 1965.

Como Presidente, Kennedy assistiu à última execução Federal e à última execução militar até à data.

O turbulento fim da era da discriminação racial sancionada pelo estado era um dos assuntos internos mais complexos da era de Kennedy. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos determinara em 1954 que a segregação em escolas públicas era inconstitucional, no entanto, muitas escolas, sobretudo nos Estados do Sul, não obedeceram à ordem so Supremo Tribunal. A segregação nos autocarros, em resturantes, cinemas, casas de banho e outros espaços públicos persistia. Kennedy apoiava a integração racial e os direitos civis e, durante a campanha de 1960, telefonou a Coretta Scott King, mulher do Reverendo Martin Luther King Jr. que estava preso. A intervenção de John e Robert Kennedy permitiu a saída prematura de Luther King da prisão.

Em 1962, James Meredith tentou inscrever-se na Universidade do Mississipi, mas foi impedido por estudantes brancos. Kennedy respondeu com o envio de quatrocentos agentes federais e três mil militares para garantir que Meredith poderia assistir à sua primeira aula. Depois de um incidente semelhante na Universidade do Alabama, Kennedy fez o seu famoso discurso sobre os direitos civis na Rádio e Televisão Nacionais, propondo o que se tornaria a Lei de Direitos Civis de 1964.

Kennedy desejava ardentemente que os Estados Unidos liderassem a corrida espacial. Por duas vezes propôs a Nikita Khrushtchev uma parceria na exploração espacial, em Junho de 1961 e no Outono de 1963. Naprimeira ocasião, a União Soviética estava muito avançada em relação aos Americanos em termos de tecnologia espacial. Kennedy estabeleceu pela primeira vez o objectivo de fazer o Homem chegar à lua num discurso a uma sessão cojunta do Congresso, em Maio de 1961. Mais tarde faria um outro discurso na Universidade Rice, em Setembro de 1962 diria: “Escolhemos ir à lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque são fáceis, mas porque são difíceis”.

Na segunda conversa com Khrushtchev, o Russo ficou convencido de que partilhar os custos era benéfico e a tecnologia Americana estava a desenvolver-se rapidamente. Os Estados Unidos tinham lançado o primeiro satélite geo-estacionário e Kennedy tinha pedido ao Congresso para aprovar uma verba de mais de vinte e dois mil milhões de dólares para o Projecto Apollo, que tinha como objectivo colocar um Americano na Lua antes do final da década. Khrushtchev concordou com a parceria no Outono de 1963 mas Kennedy morreu antes de o acordo poder ser formalizado.

A 20 de Julho de 1969, quase seis anos após a morte de Kennedy, o objectivo do programa Apollo cumpriu-se quando Neil Armstrong e Buzz Aldrin se tornaram os primeiros homens a aterrar na Lua.

O aspecto familiar também teve muito peso durante a Presidência de Kennedy. O Presidente e a sua mulher, Jackie, eram muito novos quando comparados com Presidentes e Primeiras-Damas anteriores e eram ambos extremamante populares, mais como estrelas pop que como políticos, influenciando modas e tornando-se o objecto de numerosas reportagens fotográficas em revistas sociais populares.

Os Kennedys deram um novo vigor e uma nova vida à atmosfera da Casa Branca. Acreditavam que a residência Presidencial devia ser um lugar de celebração das história, cultura e empreendimentos Americanos, assim, convidaram artistas, escritores, cientistas, poeta, músicos, actores, Prémios Nobel, e atletas para os visitarem. Jacqueline Kennedy também redecorou a casa e eventualmente, restaurou todas as suas divisões.

O Presidente Kennedy foi baleado em Dallas, às 12.30h de 22 de Novembro de 1963, enquanto fazia uma digressão política pelo Texas. Foi declarado morto à uma hora da madrugada seguinte.

O seu assassinato teve um efeito tremendo na maior parte da população mundial, muita gente recorda-se vividamente de onde estava quando teve notícia do acontecimento. O Embaixador Americano nas Nações Unidas, Adlai Stevenson afirmou perante a Assembleia Geral: “todos nós carregaremos a dor da sua morte até ao dia da nossa”.

Em última análise, a morte o Presidente Kennedy e a consequente confusão que rodeou os factos do seu assassinato são de importância histórica e política até aos nossos dias pois marcaram o declínio da crença do povo Americano nas instituições políticas. Associada ao assassinato do seu irmão Robert e ao do Reverendo Martin Luther King, nos cinco anos tumultuosos que se seguiram a 1963, iniciou uma desilusão crescente relativamente à esperança de mudança política e social que tanto marcou as vidas dos que viveram nos anos sessenta.

Muitos dos discursos de Kennedy, (especialmente o seu discurso de posse), tornaram-se icónicos, e, apesar do seu mandato relativamente curto e das poucas mudanças legislativas que ocorreram durante esse período, os Americanos ainda o consideram como um dos seus melhores Presidentes, a par de Abraham Lincoln, George Washington e Franklin Delano Roosevelt. Alguns excertos do seu discurso inaugural estão gravados na sua lápide, no cemitério de Arlington.

Doze dias antes do assassinato de Kennedy, comemoravam-se 40 anos da fundação da República da Turquia e os 25 anos da morte de Kemal Ataturk, por essa ocasião, o Presidente Americano dirigiu uma mensagem ao povo Turco que começava assim:

“I am happy to join in commemorating the 25th anniversary of the death of Kemal Ataturk. The name of Ataturk brings to mind the historic accomplishments of the great men of this century, his inspired leadership of the Turkish People, his perceptive understanding of the modern world and his boldness as a military leader.”

(Estou feliz por me juntar às comemorações do 25º aniversário da morte de Kemal Ataturk. O nome de Ataturk traz à memória os feitos históricos dos grandes homens deste século, a sua inspirada liderança do povo Turco, o seu entendimento perspicaz do mundo moderno e a sua bravura como líder militar).

O próximo alvo deste Breviário vai ser Kemal Ataturk.

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