O Trabalho Externo da Maçonaria
Continuamos hoje com a nossa série de entradas sobre a Maçonaria, expondo o trabalho externo desta associação, ou seja, como trabalham os maçons na sociedade fora das suas lojas e quais os seus objectivos e métodos. Não nos chegando aos tempos mais próximos de nós, por ser ainda cedo para fazer a história, e não perdermos a seriedade deste trabalho, faremos ainda uma visita ao que tem sido a acção e a participação da Franco-Maçonaria na evolução da sociedade humana ao longo dos tempos.
Não nos deteremos por aqui, sendo que ainda falta uma peça deste tema, que é a que diz respeito às relações históricas da Maçonaria com Estados e Autoridades Eclesiásticas e a apresentação de algumas curiosidades finais, que é o tema que trataremos na próxima folha deste breviário e com o qual encerraremos, por agora, o tema da Maçonaria. Dedicar-nos-emos depois a outros temas, sem deixar de parte outras associações que suscitam a curiosidade do público pela sua acção oculta na sociedade.
Até à próxima…
5.6 - O Trabalho Externo
O trabalho externo da Franco-Maçonaria, apesar de ser uniforme na sua essência e nas suas linhas gerais, varia consideravelmente de país para país. Nos países anglo-saxónicos, a acção da Maçonaria é visível sobretudo em obras de caridade e filantropia, trabalhos que são praticamente postos de parte nos países latinos, em que a Maçonaria se encontra absorvida na actividade política. No que diz respeito à caridade, mesmo na Inglaterra, país onde as maiores somas são dispendidas neste capítulo, a filantropia maçónica não parece ser inspirada em ideais elevados de generosidade e desinteresse, pelo menos no que diz respeito à maior parte dos irmãos, uma vez que aparentemente, as principais contribuições são feitas por uns poucos irmãos muito abastados. Curiosamente, na maior parte dos países, são principalmente maçons e as suas famílias os principais beneficiários desta caridade.
A beneficência maçónica dirigida ao mundo profano aparenta ser pouco mais que figurativa, consistindo sobretudo na propagação e aplicação de princípios maçónicos através dos quais alguns maçons fingem promover o bem-estar da Humanidade. Quando, nalguns países, particularmente nos países católicos, ocasionalmente se dedicam a obras de caridade, o seu objectivo parece ser, sobretudo, ganhar alguma simpatia e, através disso, aproximarem-se dos seus verdadeiros objectivos. Na América do Norte, uma característica evidente do trabalho externo é a tendência para o exibicionismo na construção de sumptuosos templos maçónicos, procissões maçónicas e em eventos públicos diversos. Esta tendência tem sido frequentemente criticada por autores maçónicos americanos, que apelam a um regresso à simplicidade pura e bela do simbolismo da Loja e ao abandono do panache e da vaidade dos altos graus do Rito Escocês de do Templarismo, chegando a acusar muitos irmãos de terem passado pelos ritos sem qualquer brilhantismo e depois serem os que estão nas linhas da frente nas procissões e banquetes.
Reflectindo sobre tudo o que estudámos, concluímos que os objectivos reais, tanto do trabalho interno como do externo da maçonaria são a propagação e a aplicação dos princípios maçónicos. O método maçónico original em que a Loja é o campo neutro em que homens de todas as religiões e opiniões políticas se podem encontrar, desde que respeitem os princípios maçónicos, não interferia em política partidária, antes, deixando a cada um dos membros a tarefa de aplicar os princípios maçónicos aos problemas do dia. Este método foi abertamente rejeitado pela Maçonaria dos países latinos e por muitos Conselhos Supremos do Rito Escocês Antigo e Aceite. Este método também foi, na prática, abandonado pelas maçonarias germânicas e britânicas e até pela maçonaria americana.
Tome-se o caso da independência da União Americana, na qual as lojas maçónicas americanas tiveram um papel preponderante, as lojas dos “antigos” tomaram partido pela independência, enquanto que as dos “modernos” tomaram o lado da Grã-Bretanha, é comum encontrarem-se escritos maçónicos que reclamam cinquenta e cinco dos cinquenta e seis signatários da declaração de independência dos Estados Unidos da América como membros da Maçonaria. Historiadores aparentemente imparciais também atribuem papéis de relevo à maçonaria em casos como a Independência do Brasil, a Revolução Francesa e posteriores movimentos revolucionários em França, Espanha, Portugal, na Rússia e em toda a América Central e do Sul. No que diz respeito à Revolução Turca, parece certo que o Partido dos Jovens Turcos, que dirigiu e levou a cabo a revolução, era conduzido por maçons e que os Grandes Orientes de Itália e de França tiveram um papel preponderante na sublevação que introduziu a República na Turquia. Levando a cabo este tipo de trabalho, a Franco-Maçonaria tem propagado princípios que são essencialmente revolucionários e têm servido de base para todo o tipo de movimentos revolucionários.
Ao instruir os maçons para que encontrem por si próprios reformas sociais conformes aos ideais maçónicos e trabalhem para a sua realização, a Maçonaria induz nos seus membros e, através deles, na sociedade, o espírito da inovação. A associação aparentemente benéfica e inofensiva que a Maçonaria pretende ser, devido ao seu secretismo e simbolismo ambíguo, tem-se transformado ao longo dos tempos no berço e abrigo de algumas conspirações. Em certas alturas, as próprias Lojas chegaram a transformar-se em clubes conspiratórios e noutras, os seus elementos foram incentivados e treinados para fundarem outras associações com esses objectivos ou para fazerem uso de instituições existentes.
Historicamente, no Séc. XVIII, a Maçonaria preparou a Revolução Francesa. A aliança da Franco-Maçonaria à Filosofia foi publicamente selada através da iniciação solene de Voltaire a 7 de Fevereiro de 1778, e a recepção por parte deste das suas vestes maçónicas pelas mãos do famoso materialista Irmão Helvetius. Antes da revolução, várias sociedades conspiratórias surgiram ligadas à Maçonaria, da qual copiaram a sua forma e métodos, como por exemplo os Illuminati e os clubes Jacobinos. Um número relativamente grande de líderes revolucionários foram membros de Lojas maçónicas, tendo sido treinados para as suas carreiras políticas pelas suas vidas dentro das Lojas. Até o programa para a revolução, expresso nos “direitos do homem” e o seu lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, foram retirados dos princípios maçónicos. Da mesma forma, em Itália, no Séc. XIX, a Franco-Maçonaria colaborou com a Carbonária no movimento revolucionário. Quase todos os líderes proeminentes e, entre eles, Mazzini e Garibaldi, são referidos como membros da maçonaria.
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