quinta-feira, 1 de março de 2007

Guerra Absoluta

Temos hoje mais um termo que se pode integrar no tema da estratégia dentro do nosso breviário. O conceito de “guerra absoluta” foi objecto de teorização por parte de um dos mais citados autores da área da estratégia militar, Carl von Clausewitz, que chegou a General na Prússia do início do Séc.XIX e será oportunamente alvo de uma das nossas breves biografias. Do seu livro inacabado “Vom kriege”, ou “Da guerra”, vão nascer uma série de importantíssimas entradas do nosso breviário, por estarem relacionadas com o essencial do que se deve saber sobre estratégia no nosso tempo. A estratégia militar é usada efectivamente nas relações políticas, económicas e sociais, deve, por isso, ser por nós considerada com a maior das atenções.

A criação do conceito de “Guerra Total” durante a I Grande Guerra levou a que muita gente confundisse este termo com a “Guerra Absoluta” de Clausewitz, levando às habituais confusões originadas pela utilização indiscriminada dos dois termos para significar uma mesma coisa. Ora, a “Guerra Total” é essencialmente uma guerra em que a frente doméstica é mobilizada a uma escala maciça com o objectivo de apoiar, continuar e expandir o esforço de guerra, sendo caracterizada pelo envolvimento da infra-estrutura civil e dos próprios civis na logística militar. Por outro lado, a “Guerra Absoluta” é uma guerra que atinge o seu extremo natural, quando está livre dos efeitos moderadores que lhe são impostos pela política ou pela sociedade. Como as guerras não se podem conduzir a si mesmas e carecem da política e das sociedades para existir, Clausewitz teorizou a impossibilidade da “Guerra Absoluta” por ser não poder evitar estas influências.


15- Guerra Absoluta, de acordo com Clausewitz

O conceito de “Guerra Absoluta” foi uma construção filosófica do teórico militar Carl von Clausewitz e aparece na primeira metade do seu livro “Da Guerra”. Depois de desenvolver este conceito, Clausewitz explica que a guerra absoluta é impossível porque é dirigida pela política e pela sociedade, à guerra influenciada por estas influências adicionais, ele chama a “Guerra Real”.

Na sua explicação do conceito de guerra absoluta, Clausewitz definiu a guerra como “um acto de violência com a intenção de forçar o nosso oponente a fazer a nossa vontade”. Para ele, a guerra, em si, não tem inerentemente nenhum aspecto moral ou político. De facto, essas condições, como por exemplo as leis da guerra, são-lhe impostas por quem luta nela e existem porque a inteligência das nações nela envolvidas exerce mais influência nos métodos usados para fazer a guerra que a sua hostilidade instintiva.

A guerra absoluta é, então um acto de violência sem compromisso, através do qual os estados lutam até atingir os extremos naturais da guerra. É uma guerra sem padrões de moderação política ou moral. Na sua obra, Clausewitz explica que a guerra absoluta é composta por três factores, denominados “As Três Acções Recíprocas”, são eles: um uso maximizado da força; o objectivo de desarmar o inimigo; e um esgotamento maximizado dos poderes do oponente.

Clausewitz afirma que “quem usar a força indiscriminadamente, sem se preocupar com o sangue derramado, deve obter a superioridade se o seu adversário for menos vigoroso na aplicação da força”. Assim, a guerra na sua forma mais natural implicaria que cada estado fizesse continuamente um uso da força recíproco ao do adversário, acrescendo alguma por forma a manter a superioridade até que ambos estivessem a usar a violência até ao máximo da sua extensão. Esta é a primeira acção recíproca e leva ao primeiro extremo da guerra.

De acordo com o mesmo autor, o propósito da guerra é fazer o nosso oponente vergar-se à nossa vontade. No entanto, é óbvio que o nosso adversário não fará isso até que essa seja a menos opressiva das suas opções disponíveis. Então, de maneira a atingir o objectivo final da guerra, um estado deve colocar o seu inimigo numa posição que é mais opressiva para ele que a sua submissão. Adicionalmente, essa posição não deve ser temporária nem aparentar sê-lo, porque então, o inimigo vai simplesmente adiar a solução, esperando encontrar-se numa posição mais vantajosa num ponto qualquer do futuro. Qualquer mudança nessa atitude seria uma mudança para pior, portanto, de forma a atingir a posição desejada, um estado deve desarmar totalmente o seu inimigo, forçando-o a uma posição na qual ele não possa resistir. Como uma guerra envolve pelo menos dois estados, este princípio aplica-se a ambos e então torna-se a segunda acção recíproca, tentando ambos impor essa posição, um ao outro.

A terceira acção recíproca diz que se um estado deseja derrotar o seu inimigo, deve proporcionar os seus esforços ao poder de resistência desse adversário, De acordo com Clausewitz, o uso do poder envolve dois factores: o primeiro é a força dos meios disponíveis, que é mensurável porque depende sobretudo dos números; o segundo factor é a força da vontade, que não pode ser medida com exactidão, apenas estimada, por ser intangível. Uma vez que um estado tenha obtido uma estimativa aproximada da capacidade de resistência do inimigo, deve rever os seus próprios meios e ajustá-los, incrementando-os proporcionalmente de forma a obter alguma vantagem. Como o inimigo também vai estar a fazer a mesma coisa, isto também se torna uma acção recíproca e cria uma pressão em direcção a um extremo.

Não é possível considerar a colocação de um estado em posição conducente a um conflito sem avaliar previamente estes três factores e pesar cuidadamente se existem condições para vencer um inimigo num cenário de guerra absoluta.

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