Os Sultões Otomanos governaram a Turquia durante quase sete séculos. A seguir à Primeira Grande Guerra, o caos governativo em que se encontrava a Turquia terminou quando um General carismático e popular, chamado Mustafa Kemal assumiu o poder. Kemal estava convencido de que a Turquia tinha de se tornar uma nação moderna e acreditava que se o povo Turco continuasse a seguir as suas tradições, voltariam a ser atacados por uma qualquer potência Ocidental.
Kemal viajou pelo interior da Turquia para encorajar as pessoas a deixar "a ciência e as novas ideias fluir livremente". A Grécia atacou a Turquia em 1921 e, em 22, Kemal conduziu os Turcos à vitória, em meados dos anos 20 do século passado, iniciou o seu programa de modernização daquele país.
Kemal dizia que numa nação moderna, os homens e as mulheres tinham de ser iguais. Ordenou que fosse permitido às raparigas o acesso ao ensino e deu às mulheres os direitos de votar, ter emprego e participar no Governo do Estado. Também pôs de parte a lei religiosa, a Shariah, e estabeleceu um sistema de justiça do tipo Ocidental, implementando um sistema legal similar ao das nações Europeias. Proíbiu os homens de terem mais de uma mulher apesar de a prática da poligamia ser permitida pelo Corão e ilegalizou o uso das vestes tradicionais como véus, turbantes e outros, dizendo que "o povo da República Turca tem de provar que é civilizado pela forma como se apresenta", e isso, explicava, quer dizer botas ou sapatos, calças, camisas, gravatas, coletes e casacos, e, para completá-los, um chapéu na cabeça.
No campo da cultura, Kemal introduziu um alfabeto Ocidental e ordenou que todos os jornais, livros e sinalética fossem escritos nesse novo alfabeto. Kemal acreditava que o uso da escrita Árabe tinha levado o seu povo ao analfabetismo e dificultava as relações comerciais com os outros países pela sua dificuldade de aprendizagem. Andou pessoalmente pelo interior da Turquia a ensinar às pessoas como se pronunciavam as letras.
Kemal decretou que todos os cidadãos devem ter um apelido, ou nome de família. Em 1934, a Assembleia Turca deu a Mustafa Kemal o apelido de Ataturk, que significa "Pai dos Turcos".
O ano de 1981 foi declarado pela ONU e pela UNESCO como o "Ano Internacional de Ataturk", tendo a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas aprovado a Resolução sobre o Centenário de Ataturk. O texto aprovado foi o seguinte:
"Convencidos de que as personalidades que trabalharam para o entendimento e a cooperação entre as nações e para a paz mundial serão exemplos para as gerações futuras, e recordando que o centésimo aniversário do nascimento de Mustafa Kemal Ataturk, fundador da República da Turquia, se celebra em 1981. Sabendo que este foi um excepcional reformador em todos os campos relevantes para as competências da UNESCO, reconhecendo em particular que foi um grande líder da primeira luta iniciada contra o imperialismo e o colonialismo, recordando que foi um extraordinário promotor da boa vontade entre os povos e de uma paz duradoura entre as nações do mundo e que trabalhou toda a sua vida para o desenvolvimento da harmonia e cooperação entre os povos, sem distinção de cor, religião ou raça, é decidido que a UNESCO deve colaborar com o Governo Turco, em 1981, nos planos intelectual e técnico para um colóquio internacional com o objectivo de dar a conhecer ao mundo os vários aspectos da personalidade e acções de Ataturk, cujos objectivos foram a promoção da paz mundial, a mútua compreensão a nível internacional e o respeito pelos Direitos Humanos."
Mustafa Kemal implementou aquelas que ficaram conhecidas como as "Reformas de Ataturk", que levaram a mudanças radicais nas esferas políticas, culturais e económicas da nação Turca e fomentou a criação de um Estado democrático e laico baseado nos princípios de governação Ocidentais, definidos na "Ideologia Kemalista". Tendo atingido o seu pico de poder nos anos 30, foi considerado um dos grandes homens da sua época, ideia que ele rejeitava para que não fosse colocado lado a lado com Mussolini, que ele desprezava, ou Hitler, que ele considerava ser um débil mental.
O General Douglas MacArthur, dos Estados Unidos da América, que vai ser o objecto de estudo da próxima entrada deste breviário, visitou Kemal Ataturk em 1931, tendo os dois trocado pontos de vista sobre o estado das relações internacionais que eventualmente levariam o mundo à Segunda Guerra Mundial. MacArthur expressou a sua admiração por Ataturk em muitas ocasiões e afirmava que tinha "muito orgulho de ser um dos leais amigos de Ataturk".
Mustafa Kemal Ataturk conseguiu superar uma oposição interna e externa extraordinária, sendo hoje considerado, a nível mundial, um dos maiores estrategas de sempre, com a rara distinção de o seu currículo militar apenas registar vitórias e nenhuma derrota. Procurou criar, modernizar e democratizar uma República Turca a partir das ruínas do Império Otomano. No seu trabalho para o conseguir, Ataturk pôs em prática reformas duradouras, cuja consequência principal é a possibilidade de a Turquia aceder à União Europeia no início deste novo século em que nos encontramos.
Conheçamos então a vida desta figura incontornável do Século XX:
23- Mustafa Kemal Ataturk, 1º Presidente da República da Turquia
Ataturk nasceu em 1881, na cidade Otomana de Tessalónica, que presentemente integra o território da Grécia. Filho de um funcionário da alfândega chamado Ali Riza Efendi e de Zubeyde Hanim, foi-lhe dado, de acordo com a tradição Otomana, um único nome, Mustafa, que significa "o escolhido". Tendo ficado orfão de pai aos sete anos de idade, foi, a partir daí, criado pela sua mãe.
A partir dos doze anos de idade, foi enviado para escolas militares, primeiro na sua terra natal e depois para Bitola, que presentemente se localiza na República da Macedónia, e que eram centros de descontentamento com a administração Otomana.Na escola de Tessalónica foi-lhe dado a alcunha de Kemal, (que significa perfeição ou maturidade), pelo seu professor de Matemática, como reconhecimento da sua excelência académica. Mustafa Kemal entrou na Academia Militar de Manastir, (Bitola), em 1895, onde terá contactado pela primeira vez com a organização conhecida por "Jovens Turcos". Terminou a sua formação como Tenente em 1905 e foi destacado para Damasco ao serviço do 5º Exército. Ai se juntaria a uma pequena sociedade secreta de oficiais revolucionários chamada "Vatan va Hurriyet", (Pátria e Liberdade), e tornou-se um opositor activo do regime Otomano. Em 1907, obteve a promoção a Capitão e foi transferido para Manastir (Bitola), para o 3º Exército. Durante a sua estadia nessa cidade, juntou-se definitivamente ao "Comité de União e Progresso", nome pelo qual eram oficialmente conhecidos os "Jovens Turcos". Em 1908, os "Jovens Turcos" depuseram do poder o Sultão Abdul Ahmid II e Mustafa Kemal tornou-se uma figura militar de referência.
Em 1910, Ataturk participou em manobras militares na Picardia, em França e, em 1911, prestou serviço no Ministério da Guerra em Istambul. No final desse ano foi enviado para a província de Trablusgarp, (a actual Líbia), para combater a invasão Italiana. A seguir ao sucesso na defesa de Tobruk, foi nomeado Comandante de Derne.
A seguir à eclusão das Guerras Balcânicas, em Outubro de 1912, foi de novo chamado a Istambul. Durante a Primeira Guerra Balcânica, lutou contra o Exército Búlgaro em Gallipoli e em Bolayir, na costa da Trácia e, na Segunda Guerra Balcânica, teve um papel decisivo na captura de Edirne e Didymoteicho. Em 1913, aparentemente para o afastar da intriga política da Capital Turca, foi nomeado Adido Militar em Sofia, tendo sido chamado de volta à Turquia em 1914, ano em que rebentou a Primeira Guerra Mundial.
No início da Guerra, os Aliados procuravam abrir uma rota eficiente de abastecimento à Rússia. O Império Germânico e o Império Austro-Húngaro bloqueavam as linhas de abastecimentos terrestres entre a Europa e a Rússia e não havia uma rota marítima acessível. O Mar Branco e o Mar de Okhotsk a Oriente eram demasiado distantes da Frente Oriental e estavam frequentemente bloqueados pelo gelo. O Báltico estava bloqueado pela Marinha do Kaiser, pelo que, o único acesso à Rússia era pelo Mar Negro, cúja única entrada é o estreito do Bósforo, que era controlado pelo Império Otomano. Quando o Império Otomano se alinhou com as Potências Centrais em Outubro de 1914, a Rússia deixou de poder ser abastecida pelo Mediterrâneo. No final desse ano, a frente Ocidental, na Bélgica e na França, tinha-se tornado fixa e os aliados necessitvam desesperadamente de abrir uma nova frente. Discutiu-se que um ataque à Turquia teria o provável efeito de levar a Grécia e a Bulgária a lutar do lado aliado, no entanto, a proposta de usar tropas Gregas para invadir a província de Gallipoli foi vetada pela Rússia devido ao facto de um aumento da influência Grega na região ameaçar a posição dos aliados Balcânicos da Rússia.
No final de Novembro de 1914, entram na história de Ataturk mais dois personagens do nossos breviário, Winston Churchill, Primeiro Lorde do Almirantado, desenvolveu um plano de ataque naval aos Dardanelos, baseado, pelo menos em parte no que acabou por se verificar ter sido um mau relatório sobre a capacidade militar Otomana preparado pelo Tenente T. E. Lawrence, (que ficaria poucos anos depois célebre como Lawrence da Arábia, acabando por ser um dos heróis populares da Primeira Grande Guerra). Churchill, tendo à sua disposição um grande número de navios de guerra obsoletos que não podiam ser utilizados contra a moderna Marinha do Kaiser, decidiu dar-lhes utilidade noutro cenário. Inicialmente, o ataque ao Império Otomano seria feito apenas pela Royal Navy, com o apoio de algumas tropas de reservistas que seriam utilizadas para tarefas de ocupação. Este plano para a invasão de Gallipoli acabou por ser aprovado pelo Governo Britânico em Janeiro de 1915.
Em 1914, o Marechal Alemão Otto Liman von Sanders tinha sido colocado ao comando do 5º Exército Turco, com a missão de defender os Dardanelos. Nessa circunstância, Mustafa Kemal foi promovido a Tenente-Coronel, com a tarefa de organizar e comandar a 19.ª Divisão do 5º Exército. Com a sua Divisão estacionada em Gallipoli, Mustafa Kemal deu por ele no centro da tentativa Aliada de forçar a sua entrada na Península.
A 8 de Janeiro de 1915, o Estado-Maior Britânico lançou uma operação de bombardeamento e ocupação da península de Gallipoli, com o objectivo de tomar Istambul. Na segunda semana de operações, durante um reconhecimento britânico, um Sargento Turco chamado Mehmet neutralizou um marinheiro Britânico à pedrada depois de a sua arma ter encravado. Mustafa Kemal publicitou este incidente de forma a levantar a moral dos seus soldados e deu origem ao termo “Mehmetchik”, que é utilizado até hoje como alcunha para os soldados Turcos.
Ao ter travado a primeira fase do desembarque das tropas Aliadas em Chunuk Bair, Mustafa Kemal foi promovido a Coronel. A segunda fase do desembarque, a 6 de Agosto, encontrou-o a menos de trezentos metros da linha da frente. Comandou a sua Divisão nas Batalhas de Scimitar Hill e de Sari Bair e, durante o Desembarque na Enseada do ANZAC, defrontou o inimigo nos montes, travou-o e reconquistou a posição no terreno elevado, nessa ocasião, terá dito aos seus homens: “Não vos ordeno que ataquem, ordeno-vos que morram. No tempo que vai demorar até que nos matem, outras tropas e comandantes chegarão e tomarão os nossos lugares”. Tornou-se o maior responsável pela falha das tropas Australianas e Neo-Zelandesas na prossecussão dos seus objectivos e, de forma cavalheiresca, não impediu a evacuação dos soldados aliados, o que lhe garantiu o respeito dos seus antigos inimigos. Na Praça do ANZAC, em Canberra, na Austrália, existe um Memorial a Mustafa Kemal Ataturk. Na Enseada do ANZAC, na Turquia, encontra-se gravado o discurso de vitória de Mustafa Kemal:
“Os heróis que derramaram o seu sangue e perderam as suas vidas… descansam agora no solo de um país amigo. Portanto, descansem em paz. Não há diferença entre os Johnnies e os Mehmets onde eles descansam lado a lado neste nosso país… Vós, mães que enviaram os vossos filhos de países distantes, limpem as vossas lágrimas. Os vossos filhos descansam no nosso regaço e estão em paz, tendo perdido as suas vidas na nossa terra, tornaram-se nossos filhos também”.
Do lado Britânico, Churchill foi responsabilizado pelo fracasso e, quando o Primeiro-Ministro Asquith formou uma coligação de todos os partidos, os Conservadores exigiram a remoção de Churchill do Governo como preço para a sua adesão. Churchill demitiu-se e, apesar de se manter como Membro do Parlamento, realistou-se no Exército e seguiu para a frente Ocidental, onde, durante vários meses, comandou o 6.º Batalhão dos Royal Scots Fusiliers.
Entretanto, a seguir à Batalha de Gallipoli, Mustafa Kemal serviu em Edirne até Abril de 1916. Crê-se que Enver Pasha tenha deliberadamente retardado a sua promoção. A 1 de Abril de 1916, Mustafa Kemal foi promovido a Brigadeiro e colocado ao comando do 16.º Corpo do 2.º Exército e enviado para a Campanha do Cáucaso. A Sul, na Península Arábica, desenvolvia-se a Revolta Árabe, sob o comando do Coronel Britânico Thomas Edward Lawrence, (Lawrence da Arábia), que prenunciava a queda da parte Oriental do Império Otomano.
Quando Mustafa Kemal foi destacado para aquele posto, os dois Exércitos Russos do Cáucaso avançavam em direcção ao coração do Império Otomano. O 3.º Exército Turco era pressionado, a Norte e o 2º Exército combatia no Sul um Exército Russo comandado por Tovmas Nazarbekian coligado com um destacamento de voluntários Arménios que se haviam revoltado contra o domínio Otomano. As forças Russas e Arménias encontravam-se em constante avanço e tinha-se formado um Governo Provisório Arménio, cuja área de abrangência estava em expansão a partir do Lago Van. Quando Kemal chegou à região, Bitlis e Mus já tinham sido capturados pelas forças Russo-Arménias. A região era, para não dizer mais, pouco hospitaleira para o desenvolvimento de operações militares. As linhas de comunicações encontravam-se sob permanente ataque por parte dos insurgentes, era difícil encontrar operários especializados para reparar as coisas e centenas de milhares de refugiados, na maior parte, Curdos, que tinham relações amargas com os Arménios, fugiam à frente dos Exércitos. A tarefa inicial de Mustafa Kemal foi a de organizar e acalmar os refugiados de forma ao seu Corpo de Exército poder funcionar normalmente enquanto se deparava com aquela situação de sofrimento humano.
A chegada de Mustafa Kemal ao Cáucaso levantou de tal forma a moral das tropas, que haviam acabado de sofrer pesadas derrotas, que, passados cinco dias, as suas duas Divisões recapturaram Bitlis e Mus, perturbando imediatamente os planos do Estado-Maior Russo. Apesar deste esforço, o resto da frente não acompanhava os esforços dos homens de Ataturk e, em Setembro, Mustafa Kemal viu-se forçado a abandonar Mus de forma a estabilizar a frente. A sua vitória tinha, no entanto, sido a única no conjunto da série de derrotas que os Otomanos haviam sofrido naquela frente, pelo que, no final do ano, se viu agraciado com a Medalha da Espada Dourada da Ordem da Cimitarra. Durante esse seu comando, Mustafa Kemal, concentrou os seus esforços na inspecção dos hospitais de campanha e das Mesquitas que se tornaram centros de ajuda aos refugiados, paralelamente ao objectivo de confinar as movimentações inimigas à inóspita região montanhosa.
A 7 de Março de 1917, Mustafa Kemal passou ao comando de todo o 2.º Exército, mas esteve nesse posto durante muito pouco tempo e foi quase imediatamente transferido para a Palestina e Península do Sinai, onde se desenvolviam esforços contra a Revolta Árabe e o Exército Inglês comandado pelo General Allenby, de quem também falaremos neste breviário. A Norte, na Arménia, a situação ficaria estável até à Revolução de Outubro desse ano na Rússia, que provocou a saída dessa potência da Guerra e permitiu que os Otomanos recuperassem as províncias perdidas.
Após uma breve visita ao 7.º Exército, para onde havia sido transferido, na Palestina, Mustafa Kemal regressa a Istambul a 7 de Outubro para poder acompanhar o Príncipe Mehmed Vahdetin numa visita à Alemanha. Durante essa viagem, Kemal adoece e fica em Viena para tratamento médico. Só regressa a Aleppo, para reassumir o comando do 7.º Exército a 28 de Agosto de 1918, instalando-se no Quartel-General em Nablus, na Palestina. Voltava a estar sob o comando de Liman von Sanders, que tinha o Quartel-General de Grupo de Exércitos em Nazaré.
Mustafa Kemal estudou atentamente a situação da Síria e visitou a linha da frente, a conclusão a que chegou era alarmante. Os dois anos de guerra anteriores haviam deixado meio milhão de feridos Sírios à fome, não havia, naquela Província, Governador Civil ou Militar, abundava a propaganda Inglesa e haviam agentes secretos Britânicos por toda a parte. O povo odiava o Governo e esperava ansiosamente a chegada dos Aliados. As forças inimigas eram superiores às suas em números e na qualidade do equipamento.
Kemal tinha a Revolta Árabe entre mãos e Liman von Sanders perdeu a batalha de Megiddo, deixando para trás setenta e cinco mil prisioneiros de guerra só no primeiro dia. Kemal retirou para o Rio Jordão. Num par de dias, o número de desertores atingiu os trezentos mil. A guerra de Kemal mudava drasticamente de lutar contra os Aliados para lutar contra a desintegração das suas próprias forças. Enviou um telegrama furioso ao Sultão, sobre os Três Paxás e von Sanders:
“A retirada poderia ter sido efectuada nalguma ordem se um louco como Enver Paxá não fosse o Director Geral de Operações e se não tivéssemos aqui um comandante, Cevat Paxá, à frente de uma força de cinco a dez mil homens, que fugiu ao primeiro som de tiros, abandonando o seu exército e andando às voltas como uma galinha sem cabeça, e um comandante do 4.º Exército, Cemal Paxá, totalmente incapaz de avaliar uma situação militar, e se acima deles não tivéssemos um Quartel-General de Grupo que perdeu o controlo desde o primeiro dia de guerra. Agora, não há mais nada a fazer senão a paz”.
Mustafa Kemal foi nomeado para o comando do Yildirim Ordulari, substituindo von Sanders no comando da mais extensa frente de batalha da guerra. Estabeleceu o seu Quartel-General em Katma e conseguiu recuperar o controlo da situação. Conseguiu resistir a Sul de Aleppo, nas montanhas e conseguiu parar as forças Inglesas nas últimas batalhas da campanha. A linha de defesa de Kemal tornou-se a base para o acordo de paz. O último serviço que Mustafa Kemal prestou ao Império Otomano foi organizar o que restava do seu Sul.
A 30 de Outubro, os Otomanos capitularam aos Aliados e teve lugar o Armistício de Mudros. O Governo do Comité de União e Progresso demite-se e os Três Paxás, (Cemal, Enver e Talat), fogem para o exílio na Alemanha a 1 de Novembro. Este Armistício deu origem à formação do mundo Árabe e da actual Turquia. Como reacção à partição do Império Otomano, teve lugar uma Guerra de Independência da Turquia e a rejeição pelos Árabes do mapa do Armistício deu lugar, mais tarde, à criação dos países independentes da Síria, Iraque, Koweit, Jordânia e Líbano.
No final da Guerra, Mustafa Kemal tinha trinta e sete anos de idade e regressou, imediatamente a seguir à assinatura do Armistício, a uma Istambul ocupada por forças estrangeiras, para ocupar um lugar administrativo no Ministério da Guerra. As tropas Britânicas, Italianas, Francesas e Gregas começaram a ocupar a Anatólia, com a intenção de deixar apenas uma parte da Anatólia Central como território Turco. A ocupação de Istambul e Izmir deu origem ao estabelecimento do Movimento Nacional Turco e à Guerra da Independência da Turquia.
A implementação de um Movimento Nacional Turco foi o primeiro objectivo na mente de Mustafa Kemal. As ocupações geraram movimentos locais de oposição que se manifestaram no surgimento de numerosos grupos de resistência armada. Alguns desses grupos foram perseguidos pelos Aliados e os seus líderes foram exilados para Malta. O Sultão manteve o seu título durante a ocupação de Istambul e deu início aos Tribunais Marciais Turcos de 1919-20 com o fim de se livrar da pressão dos Aliados. Cemal, Enver e Talat foram julgados à revelia por um Tribunal Militar Turco, pressionado pelos estados Aliados, considerados culpados de crimes de guerra e condenados à morte a 4 de Abril de 1919. Entretanto, à medida que as forças ocupantes começam a insistir na divisão da Turquia com base nos acordos que haviam feito durante a Guerra, um novo movimento nacionalista Turco começou a formar-se em torno de Mustafa Kemal.
A participação activa de Kemal na resistência começou com a sua nomeação para Inspector-Geral do Exército Oriental, onde deveria supervisionar o desarmamento e desmobilização. Este cargo punha-o numa posição ideal para ajudar a organizar a resistência. Mustafa Kemal chegou à Anatólia a 19 de Maio de 1919 e, ignorando as ordens que levava, contactou os líderes locais e começou a ordenar aos Governadores Civis e Militares que resistissem à ocupação estrangeira. Em Junho, apoiado pelos seus amigos mais próximos, emitiu a Circular de Amasya, que descrevia porque é que o poder de Istambul se havia tornado ilegítimo.
Os Britânicos ficaram alarmados quando tomaram conhecimento das actividades de Mustafa Kemal. O Almirante Cathrope enviou um relatório ao seu Ministério dos Negócios Estrangeiros e, em resposta às comunicações seguintes, o Governo Otomano ordenou a execução de Mustafa Kemal. A 8 de Julho, Kemal demitiu-se do Exército Otomano enquanto estava em Erzurum, que era o ponto de passagem das tribos turcas em migração para a Anatólia Oriental. Estava a decorrer o Congresso de Erzurum e Mustafa Kemal foi declarado “Nativo Honorário” e homem livre da Cidade, o que lhe permitiu obter o seu primeiro registo de cidadania e respectivo certificado, tornando-se, ao mesmo tempo, Deputado da Cidade. O Congresso de Sivas, que decorreu a seguir ao de Erzurum, deu a Mustafa Kemal o título de Porta-Voz. Kemal pediu uma eleição nacional para a formação de um novo Parlamento que tomaria assento em Ankara. O Congresso concordou e decorreram as eleições.
A 12 de Fevereiro de 1920, o último Parlamento Otomano reuniu em Istambul e declarou o “Juramento Nacional”. Em consequência, os Britânicos ordenaram a sua dissolução e, em consequência, o Sultão obedeceu e dissolveu o Parlamento. Mustafa Kemal usou esta oportunidade para estabelecer a nova Assembleia. A primeira sessão da Grande Assembleia Nacional da Turquia teve lugar a 23 de Abril de 1920, em Ankara. Mustafa Kemal tornou-se Presidente da Assembleia e declarou o objectivo de libertar o Sultão.
Estes eventos deram origem a um conflito jurisdicional entre o Governo Otomano em Istambul e o novo Parlamento estabelecido em Ankara. O Governo Otomano assinou o Tratado de Sèvres com os Aliados, que resultou na ocupação da Anatólia e na consequente perda de legitimidade do Governo de Istambul. As ocupações eram inaceitáveis, portanto, Mustafa Kemal utilizou-as como argumento contra o Sultanato. Na nova Constituição de 1921 dava entrada o conceito da Soberania Popular, o que deu a Mustafa Kemal a ferramenta de que necessitava para declarar uma Guerra de Independência. A nova Constituição refutava os princípios que validavam o Tratado de Sèvres, ao entregar a soberania ao povo e não ao Monarca ou ao seu representante. Mustafa Kemal passou então à fase seguinte, persuadindo a Grande Assembleia Nacional, em Ankara, a mobilizar um grande Exército Nacional Turco.
O Exército Nacional, liderado pelo Marechal Mustafa Kemal enfrentava inimigos em três frentes, a Franco-Turca, a Greco-Turca e a Turco-Arménia. Quando as forças Turcas foram empurradas pelos Gregos para o Rio Sakarya, a oitenta quilómetros da Grande Assembleia Nacional, foi entregue a Mustafa Kemal o comando directo do Exército Turco, que acabou por derrotar os Gregos na Batalha de Sakarya, ao fim de vinte dias de confronto. A vitória final sobre os Gregos teve efeito na Batalha de Dumlupinar, a 30 de Agosto de 1922.
Após o colapso do Império Russo, em 1917, foram criadas três Repúblicas independentes no Cáucaso: Arménia, Azerbaijão e Geórgia. Kemal e o seu movimento estavam revoltados com a decisão do Governo Otomano de reconhecer a independência da Arménia e renunciar a quaisquer pretensões territoriais sobre ela. No início do Outono de 1920, o Exército de Kemal invadiu a Arménia e capturou a maior parte do território da República. Em Dezembro de 1920, a Arménia rendeu-se e, no tratado que se seguiu entre a Turquia e a União Soviética, depois de a Arménia ter sido incorporada nesta, a Turquia ganhou o controlo da maior parte do território da República Democrática da Arménia.
A partir de Março de 1921, começou a luta Diplomática pela estabilização do território da Turquia. Em Outubro, o Tratado de Kars define a fronteira Oriental, devolvendo à Turquia a soberania sobre as cidades de Kars e Adrahan, que tinham sido conquistadas pela Rússia Czarista durante a Guerra que opôs o Império Rússo ao Império Otomano entre 1877 e 1878. Em 24 de Julho de 1923, terminou a Guerra da Independência, com a assinatura do Tratado de Lausanne, e o trabalho de Mustafa Kemal passou a ser a criação de um novo Estado.
Mustafa Kemal tinha 42 anos quando a República da Turquia foi finalmente declarada em 29 de Outubro de 1923. Entrava em acção a ideologia Kemalista, definida como uma ideologia de modernização baseada no realismo e no pragmatismo. Silenciadas as armas, tinha começado a guerra pela modernização da Turquia, que se viria a revelar na adaptação das constituições e instituições de países como a França, a Suécia, a Itália e a Suiça.
Mustafa Kemal estava determinado a não pôr em risco as conquistas cívicas da Guerra da Independência. Nos primeiros anos da República, para além dos saudosos do antigo regime que o queriam fazer reviver, Mustafa Kemal teve de enfrentar as novas ideologias, como o comunismo representado por Nazim Hikmet. Apercebendo-se das consequências dos regimes Comunistas e Fascistas dos anos 20 e 30, Mustafa Kemal rejeitou-os a ambos, impedindo o crescimento de partidos com tendências totalitárias como os que se tinham desenvolvido na Itália, na Alemanha e na Rússia. Este facto, no entanto, foi conseguido à custa do silenciamento de determinadas opiniões e da colocação do Estado no centro da acção política. Alguns comentadores viram isto como um silenciamento da oposição, enquanto outros o viram como uma prevenção dos extremismos.
Sabe-se, a partir dos apontamentos de Mustafa Kemal, que as suas ideias democráticas divergiam da experiência Otomana e se baseavam no conceito da soberania popular. Kemal visualizava uma soberania parlamentar do tipo das democracias representativas Ocidentais, na qual o Parlamento fosse a fonte da soberania e não do poder executivo. As ideias que Mustafa Kemal cultivou entre 1919 e 1920 levaram-no a prometer um “governo directo pela Assembleia”, em 1920. Acreditava que o poder da Constituição originava na Assembleia Nacional e não no poder absoluto do monarca do Império Otomano. A Assembleia Nacional consolidou a posição de Mustafa Kemal na Constituição de 1921. No final da Guerra da Independência, tornou-se claro para Mustafa Kemal que a ideia do “governo directo pela Assembleia” não sobreviveria à imensa tarefa de reconstrução e à necessidade que haveria de fazer escolhas políticas enérgicas que possibilitassem a modernização do país, pelo que passou a advogar, a partir de Outubro de 1923, que era necessário estabelecer um Governo com um Primeiro Ministro a par de um Presidente da República.
O trabalho de desenvolvimento da soberania nacional intensificou-se durante o ano de 1923, à medida que se iam instalando as estruturas legislativas, judiciais e executivas. Para Mustafa Kemal, a independência total não era negociável, e tinha três dimensões, a económica, a cívica e a religiosa. Neste âmbito, Kemal defendia que uma democracia não pode ser formada sem independência económica. O esforço para o estabelecimento da independência económica começou mesmo antes da instauração da República. Kemal trabalhou para a abolição das capitulações durante a Conferência de Lausanne, tendo firmado a sua posição contra as concessões desiguais a estrangeiros e minorias e estabelecido que toda a influência estrangeira tinha que ser eliminada. Mustafa Kemal bloqueou as negociações da Conferência de Lausanne até que os Italianos e os Franceses mudassem as suas exigências económicas.
Kemal desenvolveu então um amplo trabalho ao nível da Lei Cívica, de que se destaca, como principal reforma, a separação entre o Governo e os assuntos religiosos e a adopção de uma forte interpretação do princípio do laicismo do Estado, expresso na Constituição. Este passo foi acompanhado da extinção dos tribunais Islâmicos e pela substituição do Direito Canónico Islâmico por um Código Civil modelado a partir do Suíço e de um Código Penal baseado no Italiano. A completar esta reestruturação, Kemal promoveu a abolição do Califado e a transferência dos seus poderes para a Grande Assembleia Nacional.
A liderança de Mustafa Kemal proporcionou o estabelecimento de uma democracia com eleições, Assembleia, Governo com um Primeiro-Ministro e um Presidente. O sistema político era de partido único, que era o Partido Republicano do Povo, (Cumhuriyet Halk Firkasi), fundado por Mustafa Kemal a 9 de Setembro de 1923. O autoritarismo da sua liderança foi frequentemente questionado, mas, como nota o seu biógrafo “entre as duas guerras, muitas sociedades mais ricas e desenvolvidas não conseguiram manter as suas democracias”. O autoritarismo iluminado de Ataturk deixou um espaço razoável para o desenvolvimento da vida privada da nação. A suas ideias eram de um realismo extremo relativamente aos limites do desenvolvimento sustentável da democracia. Em 1933, afirmou: “República significa administração democrática do Estado. Fundámos a República que chegou ao seu décimo ano e deve implementar todos os requisitos da democracia à medida que o tempo for passando”.
A revolução cultural de Ataturk provocou oposição. Em 1925, as tensões sociais eram elevadas e a solução para esse problema foi vista na criação de um novo partido. Mustafa Kemal pediu a Kazim Karabekir para estabelecer o Partido Republicano Progressista como partido de oposição na Assembleia, o que deu origem à primeira época bi-partidária. O programa económico do novo partido apontava o Liberalismo como oposição ao Socialismo de Estado que se vinha praticando, a sua agenda social era de conservadorismo como oposição ao modernismo. Os líderes do novo partido apoiavam, em princípio, a revolução Kemalista mas tinham opiniões diferentes com relação à revolução cultural e ao secularismo.
Ao fim de algum tempo, o novo partido foi controlado por pessoas que Mustafa kemal considerava fundamentalistas. Em 1925, em resposta à Rebelião do Sheik Said, a Lei de Manutenção da Ordem foi aprovada, dando a Ataturk o poder de acabar com os grupos subversivos, o que ele aproveitou para ilegalizar o Partido Republicano Progressita, numa acção que Mustafa Kemal advogou como necessária à preservação do Estado Turco. Em 1930, Ataturk decidiu voltar a tentar um movimento democrático, instruindo Ali Fethi Okyar para formar um novo partido. Na carta que dirigiu a Okyar, Ataturk insistiu que o partido fosse laico. No seu início, este Partido Liberal Republicano teve sucesso ao redor do país e cedo começou a tornar-se forte demais na oposição às reformas de Ataturk, particularmente no que dizia respeito ao papel da religião na vida pública. Ali Okyar acabou por abolir o seu próprio partido e Ataturk acabou por nunca conseguir democratizar o sistema parlamentar Turco.
Do ponto de vista de Mustafa Kemal Ataturk, o principal problema do Estado era o deficiente desenvolvimento das instituições políticas promotoras do desenvolvimento económico e social, com base nisto, Kemal promoveu políticas económicas dirigidas, não só ao desenvolvimento de negócios de pequena ou grande escala, mas também à criação de estratos sociais que não existiam durante a era Otomana.
Ataturk criou inúmeras empresas estatais para a agricultura, metalo-mecânica e têxtil que se tornaram empresas de sucesso e, eventualmente, foram privatizadas na segunda metade do Século XX. Outro passo que Ataturk considerava importante para o desenvolvimento da economia nacional era a construção de uma rede eficiente de carris de ferro, que foi levada a cabo a partir da fundação do Caminhos-de-Ferro Turcos em 1927, e conseguiu a implementação de um rede extraordinariamente extensa num período de tempo muito curto.
A nível da obras públicas, a obra de Mustafa Kemal foi notável. Com o objectivo de unir a nação, eliminando o controlo da economia por parte das potências estrangeiras e melhorar as comunicações, Istambul, que era um porto de escala que servia empresas internacionais, foi intencionalmente abandonado e os recursos que ai eram colocados foram canalizados para outras cidades.
Em 1929 deu-se a grande depressão e a jovem República entrou em crise. O Partido Liberal Republicano apareceu com um programa que propunha a abolição dos monopólios estatais e a atracção de capitais estrangeiros. Apesar de Ataturk discordar da possibilidade de atracção de capitais estrangeiros, a posição liberal sentiu-se fortemente e a forte intervenção estatal na economia acabou por ser substituída por um intervencionismo mais moderado. Um dos apoiantes de extrema-esquerda radical de Mustafa Kemal, Yakup Kadri Karaosmanoglu, iniciador do Movimento Cadre, argumentou nesta época que Ataturk tinha encontrado uma terceira via entre o Capitalismo e o Socialismo.
Mustafa Kemal capitalizou a sua reputação como líder militar até à sua morte, em 1938, por forma a instituir uma vasta gama de reformas políticas, económicas e sociais progressistas, que transformaram a sociedade turca dum grupo de súbditos Muçulmanos num grupo de cidadãos de uma Nação moderna, democrática e secular. As suas reformas foram vistas como demasiado rápidas por alguns, mas a maior parte dos Turcos estava disponível para aceitar a mudança. Na maior parte dos casos, as reformas religiosas de Ataturk mereceram dura oposição e continuam a gerar um grau considerável de tensão política e religiosa até aos dias de hoje. A seguir a ele, vários líderes políticos cederiam à tentação de utilizar as forças adormecidas da religião por forma a assegurar a sua posição no poder, tendo sempre sido enfrentados pelos militares, que sempre se consideraram os principais e mais fervorosos guardiães do secularismo do Estado Turco.
A ideia de desenvolvimento nacional de Ataturk era muito ampla, tendo promovido, para além da educação geral, a educação de adultos, na qual se empenhou pessoalmente, tendo criado Casas do Povo que se dedicavam e esta extraordinária tarefa de desenvolvimento educacional que ia desde a educação profissional de criados de mesa à educação das mulheres para a sua participação na vida económica nacional. Mustafa Kemal terá dito: “ Hoje, a nossa tarefa mais importante e mais produtiva é a educação nacional. Temos de ter sucesso nos assuntos da educação e vamos ter. A libertação de uma nação só se atinge desta forma”. Nesse âmbito, promoveu o desenvolvimento de um novo alfabeto que substituísse a escrita Árabe, que era demasiado complexa para um ensino que se pretendia rápido e eficaz. Combateu fortemente a iliteracia por meio da educação e de um forte apoio ao sector privado da publicação literária. Kemal modernizou o antigo sistema das Madrassas, reconstruindo as instituições educativas na linha do pragmatismo iluminado. O novo sistema educativo unificado teria como objectivo desenvolver cidadãos responsáveis que fossem membros úteis e apreciados da sociedade.
Apesar da proíbição Islâmica das bebidas alcoólicas, Kemal encorajou a produção doméstica de álcool e estabeleceu uma indústria estatal de bebidas espirituosas. Sabe-se que apreciava a bebida nacional, a Raki, e a consumia em quantidades um pouco acima do comum.
Mustafa Kemal decretou uma série de leis destinadas a limitar o uso de roupas religiosas fora dos cultos, tendo criado um código de vestuário próprio para estudantes e funcionários públicos, tendo encorajado os homens Turcos a utilizar vestuário de estilo Europeu.
Não reconhecendo o género como um factor de organização social, Kemal tratou de implementar o seu ponto de vista, procurando criar uma sociedade que caminhasse para os seus objectivos com homens e mulheres como iguais. Para Ataturk era cientificamente impossível atingir o progresso e ser civilizado se a segregação sexual continuasse como no tempo dos Otomanos. Dizia: “Tudo o que vemos neste mundo é produto das mulheres”. O papel das mulheres na revolução cultural Kemalista foi inscrito num livro cívico preparado sob supervisão do próprio Ataturk, onde defenderia brilhantemente o direito ao voto por parte das mulheres, alegando que: “As mulheres devem ter o direito ao voto e a ser eleitas porque a democracia o dita, porque há interesses que as mulheres têm de defender e porque há deveres sociais que as mulheres têm de cumprir”. A 5 de Dezembro de 1934, as mulheres Turcas passaram a ter os mesmos direitos políticos que os homens, muito antes das mulheres de outros países, ditos ocidentais. Durante este período, Ataturk não impôs quotas para a participação de mulheres na política pois era um firme defensor de que não seria a imposição, mas os hábitos políticos e culturais diários que levariam as mulheres a assumir um papel social mais relevante.
As artes plásticas e visuais, cujo desenvolvimento tinha sido impedido pelos Otomanos sob argumento de que a representação da forma humana seria idolatria, foram amplamente encorajadas por Ataturk, o que originou a abertura de muitos museus, o desenvolvimento de uma nova corrente arquitectónica e inúmeras manifestações culturais que promoveram a música clássica Ocidental, a Ópera, o Ballet e o Teatro. Aumentou o número de publicações e a indústria cinematográfica começou a florescer.
Ataturk vivia uma vida privada muito simples. Casou-se com Latife Hanim a 23 de Janeiro de 1923 e dela se divorciou a 5 de Agosto de 1925. O seu grande amor pelas crianças levou-o a adoptar sete raparigas e um rapaz e a tomar outros dois rapazes sob sua protecção, tendo tomado providências relativamente ao futuro destas crianças, que lhe sobreviveram. Doou as suas propriedades rurais ao Estado Turco e o seu património imobiliário às cidades de Ankara e Bursa, em 1937. Dividiu a sua herança entre a sua irmã, os seus filhos adoptivos e as Instituições de Língua e História Turcas. Morreu a 10 de Novembro de 1938 no Palácio de Domalbahçe e foi sepultado temporariamente no Museu de Etnografia de Ankara a 21 de Novembro.
Em 1945, a Turquia tornou-se um dos cinquenta e um membros originais da Organização das Nações Unidas.
A 10 de Novembro de 1953, quinze anos após a sua morte, o féretro de Ataturk foi transportado para o seu local de descanso eterno no Mausoléu erigido em sua honra na cidade de Ankara.