tag:blogger.com,1999:blog-48531873975427987642024-02-07T02:28:51.309+00:00Breviário Político BarreirenseColecção dos artigos do autor publicados no jornal digital ROSTOS, bem como de algumas peças do mesmo tema, não publicadas. Esta série de textos tem por objectivo colocar à disposição dos nossos leitores algumas ferramentas, na forma de definições, que permitam que, cada um por si, faça a sua leitura das entrelinhas dos discursos políticos e enriqueça o seu vocabulário.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.comBlogger38125tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-54332623236010590272010-09-07T00:14:00.004+00:002010-09-07T00:38:34.625+00:00Tenho um blogue novo!Pois é, já eram blogues a mais para fazer a manutenção, de maneira que agora passei a ter só um para generalidades e outro para a gastronomia.<br /><br />O blogue novo é <a href="http://sitiodoestadao.blogspot.com/">http://sitiodoestadao.blogspot.com/</a> e espero lá por todos vós.<br /><br />Um grande bem hajam,<br /><br />Pedro EstadãoPedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-59622486514572195932008-02-25T00:52:00.001+00:002008-02-25T00:55:40.643+00:00Ainda andamos por cá!De vez em quando tem que se postar uma mensagem para o blogue continuar online, fica aqui esta, que não serve para mais que isso.<br /><br />Brevemente, retomaremos a nossa actividade por aqui, pois as razões que nos afastaram tanto tempo do vosso convívio já se esgotaram e estamos de novo com tempo para nos dedicarmos à obra que aqui nos propusémos.<br /><br />Um abraço a todos,<br /><br />EstadãoPedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-27860193274609758952007-09-30T11:49:00.000+00:002007-09-30T11:52:39.981+00:00IntermezzoAinda não tive tempo para actualizar este blog mas o <a href="http://www.pestadao.blogspot.com">Bloguestadão</a> está em dia. Assim que acabar uma das peças que estou a preparar para este breviário, publicá-la-ei.<br />Bom fim-de semana para todos.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-35516627473269621792007-08-15T18:08:00.000+00:002007-08-15T18:11:28.743+00:00A caminho dos 10000!Estive sem internet durante quase um mês por um defeito num chip, quando regresso, verifico que o blog do Breviário está quase nas 10000 visitas, ena!<br /><br />Fica já prometida uma nova entrada para comemorar a efeméride.<br /><br />Um abraço a todos, e fiquem bem.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-39718510042292989532007-07-05T02:13:00.000+00:002007-07-05T02:17:09.075+00:00O Pai dos Turcos - Em comemoração das 7000 visitasOs Sultões Otomanos governaram a Turquia durante quase sete séculos. A seguir à Primeira Grande Guerra, o caos governativo em que se encontrava a Turquia terminou quando um General carismático e popular, chamado Mustafa Kemal assumiu o poder. Kemal estava convencido de que a Turquia tinha de se tornar uma nação moderna e acreditava que se o povo Turco continuasse a seguir as suas tradições, voltariam a ser atacados por uma qualquer potência Ocidental.<br /><br />Kemal viajou pelo interior da Turquia para encorajar as pessoas a deixar "a ciência e as novas ideias fluir livremente". A Grécia atacou a Turquia em 1921 e, em 22, Kemal conduziu os Turcos à vitória, em meados dos anos 20 do século passado, iniciou o seu programa de modernização daquele país.<br /><br />Kemal dizia que numa nação moderna, os homens e as mulheres tinham de ser iguais. Ordenou que fosse permitido às raparigas o acesso ao ensino e deu às mulheres os direitos de votar, ter emprego e participar no Governo do Estado. Também pôs de parte a lei religiosa, a Shariah, e estabeleceu um sistema de justiça do tipo Ocidental, implementando um sistema legal similar ao das nações Europeias. Proíbiu os homens de terem mais de uma mulher apesar de a prática da poligamia ser permitida pelo Corão e ilegalizou o uso das vestes tradicionais como véus, turbantes e outros, dizendo que "o povo da República Turca tem de provar que é civilizado pela forma como se apresenta", e isso, explicava, quer dizer botas ou sapatos, calças, camisas, gravatas, coletes e casacos, e, para completá-los, um chapéu na cabeça.<br /><br />No campo da cultura, Kemal introduziu um alfabeto Ocidental e ordenou que todos os jornais, livros e sinalética fossem escritos nesse novo alfabeto. Kemal acreditava que o uso da escrita Árabe tinha levado o seu povo ao analfabetismo e dificultava as relações comerciais com os outros países pela sua dificuldade de aprendizagem. Andou pessoalmente pelo interior da Turquia a ensinar às pessoas como se pronunciavam as letras.<br /><br />Kemal decretou que todos os cidadãos devem ter um apelido, ou nome de família. Em 1934, a Assembleia Turca deu a Mustafa Kemal o apelido de Ataturk, que significa "Pai dos Turcos".<br /><br />O ano de 1981 foi declarado pela ONU e pela UNESCO como o "Ano Internacional de Ataturk", tendo a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas aprovado a Resolução sobre o Centenário de Ataturk. O texto aprovado foi o seguinte:<br /><br />"Convencidos de que as personalidades que trabalharam para o entendimento e a cooperação entre as nações e para a paz mundial serão exemplos para as gerações futuras, e recordando que o centésimo aniversário do nascimento de Mustafa Kemal Ataturk, fundador da República da Turquia, se celebra em 1981. Sabendo que este foi um excepcional reformador em todos os campos relevantes para as competências da UNESCO, reconhecendo em particular que foi um grande líder da primeira luta iniciada contra o imperialismo e o colonialismo, recordando que foi um extraordinário promotor da boa vontade entre os povos e de uma paz duradoura entre as nações do mundo e que trabalhou toda a sua vida para o desenvolvimento da harmonia e cooperação entre os povos, sem distinção de cor, religião ou raça, é decidido que a UNESCO deve colaborar com o Governo Turco, em 1981, nos planos intelectual e técnico para um colóquio internacional com o objectivo de dar a conhecer ao mundo os vários aspectos da personalidade e acções de Ataturk, cujos objectivos foram a promoção da paz mundial, a mútua compreensão a nível internacional e o respeito pelos Direitos Humanos."<br /><br />Mustafa Kemal implementou aquelas que ficaram conhecidas como as "Reformas de Ataturk", que levaram a mudanças radicais nas esferas políticas, culturais e económicas da nação Turca e fomentou a criação de um Estado democrático e laico baseado nos princípios de governação Ocidentais, definidos na "Ideologia Kemalista". Tendo atingido o seu pico de poder nos anos 30, foi considerado um dos grandes homens da sua época, ideia que ele rejeitava para que não fosse colocado lado a lado com Mussolini, que ele desprezava, ou Hitler, que ele considerava ser um débil mental. <br /><br />O General Douglas MacArthur, dos Estados Unidos da América, que vai ser o objecto de estudo da próxima entrada deste breviário, visitou Kemal Ataturk em 1931, tendo os dois trocado pontos de vista sobre o estado das relações internacionais que eventualmente levariam o mundo à Segunda Guerra Mundial. MacArthur expressou a sua admiração por Ataturk em muitas ocasiões e afirmava que tinha "muito orgulho de ser um dos leais amigos de Ataturk".<br /><br />Mustafa Kemal Ataturk conseguiu superar uma oposição interna e externa extraordinária, sendo hoje considerado, a nível mundial, um dos maiores estrategas de sempre, com a rara distinção de o seu currículo militar apenas registar vitórias e nenhuma derrota. Procurou criar, modernizar e democratizar uma República Turca a partir das ruínas do Império Otomano. No seu trabalho para o conseguir, Ataturk pôs em prática reformas duradouras, cuja consequência principal é a possibilidade de a Turquia aceder à União Europeia no início deste novo século em que nos encontramos. <br /><br />Conheçamos então a vida desta figura incontornável do Século XX:<br /><br /><br /><strong>23- Mustafa Kemal Ataturk, 1º Presidente da República da Turquia</strong><br /><br />Ataturk nasceu em 1881, na cidade Otomana de Tessalónica, que presentemente integra o território da Grécia. Filho de um funcionário da alfândega chamado Ali Riza Efendi e de Zubeyde Hanim, foi-lhe dado, de acordo com a tradição Otomana, um único nome, Mustafa, que significa "o escolhido". Tendo ficado orfão de pai aos sete anos de idade, foi, a partir daí, criado pela sua mãe.<br /><br />A partir dos doze anos de idade, foi enviado para escolas militares, primeiro na sua terra natal e depois para Bitola, que presentemente se localiza na República da Macedónia, e que eram centros de descontentamento com a administração Otomana.Na escola de Tessalónica foi-lhe dado a alcunha de Kemal, (que significa perfeição ou maturidade), pelo seu professor de Matemática, como reconhecimento da sua excelência académica. Mustafa Kemal entrou na Academia Militar de Manastir, (Bitola), em 1895, onde terá contactado pela primeira vez com a organização conhecida por "Jovens Turcos". Terminou a sua formação como Tenente em 1905 e foi destacado para Damasco ao serviço do 5º Exército. Ai se juntaria a uma pequena sociedade secreta de oficiais revolucionários chamada "Vatan va Hurriyet", (Pátria e Liberdade), e tornou-se um opositor activo do regime Otomano. Em 1907, obteve a promoção a Capitão e foi transferido para Manastir (Bitola), para o 3º Exército. Durante a sua estadia nessa cidade, juntou-se definitivamente ao "Comité de União e Progresso", nome pelo qual eram oficialmente conhecidos os "Jovens Turcos". Em 1908, os "Jovens Turcos" depuseram do poder o Sultão Abdul Ahmid II e Mustafa Kemal tornou-se uma figura militar de referência.<br /><br />Em 1910, Ataturk participou em manobras militares na Picardia, em França e, em 1911, prestou serviço no Ministério da Guerra em Istambul. No final desse ano foi enviado para a província de Trablusgarp, (a actual Líbia), para combater a invasão Italiana. A seguir ao sucesso na defesa de Tobruk, foi nomeado Comandante de Derne.<br /><br />A seguir à eclusão das Guerras Balcânicas, em Outubro de 1912, foi de novo chamado a Istambul. Durante a Primeira Guerra Balcânica, lutou contra o Exército Búlgaro em Gallipoli e em Bolayir, na costa da Trácia e, na Segunda Guerra Balcânica, teve um papel decisivo na captura de Edirne e Didymoteicho. Em 1913, aparentemente para o afastar da intriga política da Capital Turca, foi nomeado Adido Militar em Sofia, tendo sido chamado de volta à Turquia em 1914, ano em que rebentou a Primeira Guerra Mundial.<br /><br />No início da Guerra, os Aliados procuravam abrir uma rota eficiente de abastecimento à Rússia. O Império Germânico e o Império Austro-Húngaro bloqueavam as linhas de abastecimentos terrestres entre a Europa e a Rússia e não havia uma rota marítima acessível. O Mar Branco e o Mar de Okhotsk a Oriente eram demasiado distantes da Frente Oriental e estavam frequentemente bloqueados pelo gelo. O Báltico estava bloqueado pela Marinha do Kaiser, pelo que, o único acesso à Rússia era pelo Mar Negro, cúja única entrada é o estreito do Bósforo, que era controlado pelo Império Otomano. Quando o Império Otomano se alinhou com as Potências Centrais em Outubro de 1914, a Rússia deixou de poder ser abastecida pelo Mediterrâneo. No final desse ano, a frente Ocidental, na Bélgica e na França, tinha-se tornado fixa e os aliados necessitvam desesperadamente de abrir uma nova frente. Discutiu-se que um ataque à Turquia teria o provável efeito de levar a Grécia e a Bulgária a lutar do lado aliado, no entanto, a proposta de usar tropas Gregas para invadir a província de Gallipoli foi vetada pela Rússia devido ao facto de um aumento da influência Grega na região ameaçar a posição dos aliados Balcânicos da Rússia.<br /><br />No final de Novembro de 1914, entram na história de Ataturk mais dois personagens do nossos breviário, Winston Churchill, Primeiro Lorde do Almirantado, desenvolveu um plano de ataque naval aos Dardanelos, baseado, pelo menos em parte no que acabou por se verificar ter sido um mau relatório sobre a capacidade militar Otomana preparado pelo Tenente T. E. Lawrence, (que ficaria poucos anos depois célebre como Lawrence da Arábia, acabando por ser um dos heróis populares da Primeira Grande Guerra). Churchill, tendo à sua disposição um grande número de navios de guerra obsoletos que não podiam ser utilizados contra a moderna Marinha do Kaiser, decidiu dar-lhes utilidade noutro cenário. Inicialmente, o ataque ao Império Otomano seria feito apenas pela Royal Navy, com o apoio de algumas tropas de reservistas que seriam utilizadas para tarefas de ocupação. Este plano para a invasão de Gallipoli acabou por ser aprovado pelo Governo Britânico em Janeiro de 1915.<br /><br />Em 1914, o Marechal Alemão Otto Liman von Sanders tinha sido colocado ao comando do 5º Exército Turco, com a missão de defender os Dardanelos. Nessa circunstância, Mustafa Kemal foi promovido a Tenente-Coronel, com a tarefa de organizar e comandar a 19.ª Divisão do 5º Exército. Com a sua Divisão estacionada em Gallipoli, Mustafa Kemal deu por ele no centro da tentativa Aliada de forçar a sua entrada na Península.<br /><br />A 8 de Janeiro de 1915, o Estado-Maior Britânico lançou uma operação de bombardeamento e ocupação da península de Gallipoli, com o objectivo de tomar Istambul. Na segunda semana de operações, durante um reconhecimento britânico, um Sargento Turco chamado Mehmet neutralizou um marinheiro Britânico à pedrada depois de a sua arma ter encravado. Mustafa Kemal publicitou este incidente de forma a levantar a moral dos seus soldados e deu origem ao termo “Mehmetchik”, que é utilizado até hoje como alcunha para os soldados Turcos.<br /><br />Ao ter travado a primeira fase do desembarque das tropas Aliadas em Chunuk Bair, Mustafa Kemal foi promovido a Coronel. A segunda fase do desembarque, a 6 de Agosto, encontrou-o a menos de trezentos metros da linha da frente. Comandou a sua Divisão nas Batalhas de Scimitar Hill e de Sari Bair e, durante o Desembarque na Enseada do ANZAC, defrontou o inimigo nos montes, travou-o e reconquistou a posição no terreno elevado, nessa ocasião, terá dito aos seus homens: “Não vos ordeno que ataquem, ordeno-vos que morram. No tempo que vai demorar até que nos matem, outras tropas e comandantes chegarão e tomarão os nossos lugares”. Tornou-se o maior responsável pela falha das tropas Australianas e Neo-Zelandesas na prossecussão dos seus objectivos e, de forma cavalheiresca, não impediu a evacuação dos soldados aliados, o que lhe garantiu o respeito dos seus antigos inimigos. Na Praça do ANZAC, em Canberra, na Austrália, existe um Memorial a Mustafa Kemal Ataturk. Na Enseada do ANZAC, na Turquia, encontra-se gravado o discurso de vitória de Mustafa Kemal:<br /><br />“Os heróis que derramaram o seu sangue e perderam as suas vidas… descansam agora no solo de um país amigo. Portanto, descansem em paz. Não há diferença entre os Johnnies e os Mehmets onde eles descansam lado a lado neste nosso país… Vós, mães que enviaram os vossos filhos de países distantes, limpem as vossas lágrimas. Os vossos filhos descansam no nosso regaço e estão em paz, tendo perdido as suas vidas na nossa terra, tornaram-se nossos filhos também”.<br /><br />Do lado Britânico, Churchill foi responsabilizado pelo fracasso e, quando o Primeiro-Ministro Asquith formou uma coligação de todos os partidos, os Conservadores exigiram a remoção de Churchill do Governo como preço para a sua adesão. Churchill demitiu-se e, apesar de se manter como Membro do Parlamento, realistou-se no Exército e seguiu para a frente Ocidental, onde, durante vários meses, comandou o 6.º Batalhão dos Royal Scots Fusiliers.<br /><br />Entretanto, a seguir à Batalha de Gallipoli, Mustafa Kemal serviu em Edirne até Abril de 1916. Crê-se que Enver Pasha tenha deliberadamente retardado a sua promoção. A 1 de Abril de 1916, Mustafa Kemal foi promovido a Brigadeiro e colocado ao comando do 16.º Corpo do 2.º Exército e enviado para a Campanha do Cáucaso. A Sul, na Península Arábica, desenvolvia-se a Revolta Árabe, sob o comando do Coronel Britânico Thomas Edward Lawrence, (Lawrence da Arábia), que prenunciava a queda da parte Oriental do Império Otomano.<br /><br />Quando Mustafa Kemal foi destacado para aquele posto, os dois Exércitos Russos do Cáucaso avançavam em direcção ao coração do Império Otomano. O 3.º Exército Turco era pressionado, a Norte e o 2º Exército combatia no Sul um Exército Russo comandado por Tovmas Nazarbekian coligado com um destacamento de voluntários Arménios que se haviam revoltado contra o domínio Otomano. As forças Russas e Arménias encontravam-se em constante avanço e tinha-se formado um Governo Provisório Arménio, cuja área de abrangência estava em expansão a partir do Lago Van. Quando Kemal chegou à região, Bitlis e Mus já tinham sido capturados pelas forças Russo-Arménias. A região era, para não dizer mais, pouco hospitaleira para o desenvolvimento de operações militares. As linhas de comunicações encontravam-se sob permanente ataque por parte dos insurgentes, era difícil encontrar operários especializados para reparar as coisas e centenas de milhares de refugiados, na maior parte, Curdos, que tinham relações amargas com os Arménios, fugiam à frente dos Exércitos. A tarefa inicial de Mustafa Kemal foi a de organizar e acalmar os refugiados de forma ao seu Corpo de Exército poder funcionar normalmente enquanto se deparava com aquela situação de sofrimento humano.<br /><br />A chegada de Mustafa Kemal ao Cáucaso levantou de tal forma a moral das tropas, que haviam acabado de sofrer pesadas derrotas, que, passados cinco dias, as suas duas Divisões recapturaram Bitlis e Mus, perturbando imediatamente os planos do Estado-Maior Russo. Apesar deste esforço, o resto da frente não acompanhava os esforços dos homens de Ataturk e, em Setembro, Mustafa Kemal viu-se forçado a abandonar Mus de forma a estabilizar a frente. A sua vitória tinha, no entanto, sido a única no conjunto da série de derrotas que os Otomanos haviam sofrido naquela frente, pelo que, no final do ano, se viu agraciado com a Medalha da Espada Dourada da Ordem da Cimitarra. Durante esse seu comando, Mustafa Kemal, concentrou os seus esforços na inspecção dos hospitais de campanha e das Mesquitas que se tornaram centros de ajuda aos refugiados, paralelamente ao objectivo de confinar as movimentações inimigas à inóspita região montanhosa.<br /><br />A 7 de Março de 1917, Mustafa Kemal passou ao comando de todo o 2.º Exército, mas esteve nesse posto durante muito pouco tempo e foi quase imediatamente transferido para a Palestina e Península do Sinai, onde se desenvolviam esforços contra a Revolta Árabe e o Exército Inglês comandado pelo General Allenby, de quem também falaremos neste breviário. A Norte, na Arménia, a situação ficaria estável até à Revolução de Outubro desse ano na Rússia, que provocou a saída dessa potência da Guerra e permitiu que os Otomanos recuperassem as províncias perdidas.<br /><br />Após uma breve visita ao 7.º Exército, para onde havia sido transferido, na Palestina, Mustafa Kemal regressa a Istambul a 7 de Outubro para poder acompanhar o Príncipe Mehmed Vahdetin numa visita à Alemanha. Durante essa viagem, Kemal adoece e fica em Viena para tratamento médico. Só regressa a Aleppo, para reassumir o comando do 7.º Exército a 28 de Agosto de 1918, instalando-se no Quartel-General em Nablus, na Palestina. Voltava a estar sob o comando de Liman von Sanders, que tinha o Quartel-General de Grupo de Exércitos em Nazaré.<br /><br />Mustafa Kemal estudou atentamente a situação da Síria e visitou a linha da frente, a conclusão a que chegou era alarmante. Os dois anos de guerra anteriores haviam deixado meio milhão de feridos Sírios à fome, não havia, naquela Província, Governador Civil ou Militar, abundava a propaganda Inglesa e haviam agentes secretos Britânicos por toda a parte. O povo odiava o Governo e esperava ansiosamente a chegada dos Aliados. As forças inimigas eram superiores às suas em números e na qualidade do equipamento.<br /><br />Kemal tinha a Revolta Árabe entre mãos e Liman von Sanders perdeu a batalha de Megiddo, deixando para trás setenta e cinco mil prisioneiros de guerra só no primeiro dia. Kemal retirou para o Rio Jordão. Num par de dias, o número de desertores atingiu os trezentos mil. A guerra de Kemal mudava drasticamente de lutar contra os Aliados para lutar contra a desintegração das suas próprias forças. Enviou um telegrama furioso ao Sultão, sobre os Três Paxás e von Sanders:<br /><br />“A retirada poderia ter sido efectuada nalguma ordem se um louco como Enver Paxá não fosse o Director Geral de Operações e se não tivéssemos aqui um comandante, Cevat Paxá, à frente de uma força de cinco a dez mil homens, que fugiu ao primeiro som de tiros, abandonando o seu exército e andando às voltas como uma galinha sem cabeça, e um comandante do 4.º Exército, Cemal Paxá, totalmente incapaz de avaliar uma situação militar, e se acima deles não tivéssemos um Quartel-General de Grupo que perdeu o controlo desde o primeiro dia de guerra. Agora, não há mais nada a fazer senão a paz”. <br /><br />Mustafa Kemal foi nomeado para o comando do Yildirim Ordulari, substituindo von Sanders no comando da mais extensa frente de batalha da guerra. Estabeleceu o seu Quartel-General em Katma e conseguiu recuperar o controlo da situação. Conseguiu resistir a Sul de Aleppo, nas montanhas e conseguiu parar as forças Inglesas nas últimas batalhas da campanha. A linha de defesa de Kemal tornou-se a base para o acordo de paz. O último serviço que Mustafa Kemal prestou ao Império Otomano foi organizar o que restava do seu Sul.<br /><br />A 30 de Outubro, os Otomanos capitularam aos Aliados e teve lugar o Armistício de Mudros. O Governo do Comité de União e Progresso demite-se e os Três Paxás, (Cemal, Enver e Talat), fogem para o exílio na Alemanha a 1 de Novembro. Este Armistício deu origem à formação do mundo Árabe e da actual Turquia. Como reacção à partição do Império Otomano, teve lugar uma Guerra de Independência da Turquia e a rejeição pelos Árabes do mapa do Armistício deu lugar, mais tarde, à criação dos países independentes da Síria, Iraque, Koweit, Jordânia e Líbano.<br /><br />No final da Guerra, Mustafa Kemal tinha trinta e sete anos de idade e regressou, imediatamente a seguir à assinatura do Armistício, a uma Istambul ocupada por forças estrangeiras, para ocupar um lugar administrativo no Ministério da Guerra. As tropas Britânicas, Italianas, Francesas e Gregas começaram a ocupar a Anatólia, com a intenção de deixar apenas uma parte da Anatólia Central como território Turco. A ocupação de Istambul e Izmir deu origem ao estabelecimento do Movimento Nacional Turco e à Guerra da Independência da Turquia.<br /><br />A implementação de um Movimento Nacional Turco foi o primeiro objectivo na mente de Mustafa Kemal. As ocupações geraram movimentos locais de oposição que se manifestaram no surgimento de numerosos grupos de resistência armada. Alguns desses grupos foram perseguidos pelos Aliados e os seus líderes foram exilados para Malta. O Sultão manteve o seu título durante a ocupação de Istambul e deu início aos Tribunais Marciais Turcos de 1919-20 com o fim de se livrar da pressão dos Aliados. Cemal, Enver e Talat foram julgados à revelia por um Tribunal Militar Turco, pressionado pelos estados Aliados, considerados culpados de crimes de guerra e condenados à morte a 4 de Abril de 1919. Entretanto, à medida que as forças ocupantes começam a insistir na divisão da Turquia com base nos acordos que haviam feito durante a Guerra, um novo movimento nacionalista Turco começou a formar-se em torno de Mustafa Kemal.<br /><br />A participação activa de Kemal na resistência começou com a sua nomeação para Inspector-Geral do Exército Oriental, onde deveria supervisionar o desarmamento e desmobilização. Este cargo punha-o numa posição ideal para ajudar a organizar a resistência. Mustafa Kemal chegou à Anatólia a 19 de Maio de 1919 e, ignorando as ordens que levava, contactou os líderes locais e começou a ordenar aos Governadores Civis e Militares que resistissem à ocupação estrangeira. Em Junho, apoiado pelos seus amigos mais próximos, emitiu a Circular de Amasya, que descrevia porque é que o poder de Istambul se havia tornado ilegítimo.<br /><br />Os Britânicos ficaram alarmados quando tomaram conhecimento das actividades de Mustafa Kemal. O Almirante Cathrope enviou um relatório ao seu Ministério dos Negócios Estrangeiros e, em resposta às comunicações seguintes, o Governo Otomano ordenou a execução de Mustafa Kemal. A 8 de Julho, Kemal demitiu-se do Exército Otomano enquanto estava em Erzurum, que era o ponto de passagem das tribos turcas em migração para a Anatólia Oriental. Estava a decorrer o Congresso de Erzurum e Mustafa Kemal foi declarado “Nativo Honorário” e homem livre da Cidade, o que lhe permitiu obter o seu primeiro registo de cidadania e respectivo certificado, tornando-se, ao mesmo tempo, Deputado da Cidade. O Congresso de Sivas, que decorreu a seguir ao de Erzurum, deu a Mustafa Kemal o título de Porta-Voz. Kemal pediu uma eleição nacional para a formação de um novo Parlamento que tomaria assento em Ankara. O Congresso concordou e decorreram as eleições. <br /><br />A 12 de Fevereiro de 1920, o último Parlamento Otomano reuniu em Istambul e declarou o “Juramento Nacional”. Em consequência, os Britânicos ordenaram a sua dissolução e, em consequência, o Sultão obedeceu e dissolveu o Parlamento. Mustafa Kemal usou esta oportunidade para estabelecer a nova Assembleia. A primeira sessão da Grande Assembleia Nacional da Turquia teve lugar a 23 de Abril de 1920, em Ankara. Mustafa Kemal tornou-se Presidente da Assembleia e declarou o objectivo de libertar o Sultão.<br /><br />Estes eventos deram origem a um conflito jurisdicional entre o Governo Otomano em Istambul e o novo Parlamento estabelecido em Ankara. O Governo Otomano assinou o Tratado de Sèvres com os Aliados, que resultou na ocupação da Anatólia e na consequente perda de legitimidade do Governo de Istambul. As ocupações eram inaceitáveis, portanto, Mustafa Kemal utilizou-as como argumento contra o Sultanato. Na nova Constituição de 1921 dava entrada o conceito da Soberania Popular, o que deu a Mustafa Kemal a ferramenta de que necessitava para declarar uma Guerra de Independência. A nova Constituição refutava os princípios que validavam o Tratado de Sèvres, ao entregar a soberania ao povo e não ao Monarca ou ao seu representante. Mustafa Kemal passou então à fase seguinte, persuadindo a Grande Assembleia Nacional, em Ankara, a mobilizar um grande Exército Nacional Turco.<br /><br />O Exército Nacional, liderado pelo Marechal Mustafa Kemal enfrentava inimigos em três frentes, a Franco-Turca, a Greco-Turca e a Turco-Arménia. Quando as forças Turcas foram empurradas pelos Gregos para o Rio Sakarya, a oitenta quilómetros da Grande Assembleia Nacional, foi entregue a Mustafa Kemal o comando directo do Exército Turco, que acabou por derrotar os Gregos na Batalha de Sakarya, ao fim de vinte dias de confronto. A vitória final sobre os Gregos teve efeito na Batalha de Dumlupinar, a 30 de Agosto de 1922.<br /><br />Após o colapso do Império Russo, em 1917, foram criadas três Repúblicas independentes no Cáucaso: Arménia, Azerbaijão e Geórgia. Kemal e o seu movimento estavam revoltados com a decisão do Governo Otomano de reconhecer a independência da Arménia e renunciar a quaisquer pretensões territoriais sobre ela. No início do Outono de 1920, o Exército de Kemal invadiu a Arménia e capturou a maior parte do território da República. Em Dezembro de 1920, a Arménia rendeu-se e, no tratado que se seguiu entre a Turquia e a União Soviética, depois de a Arménia ter sido incorporada nesta, a Turquia ganhou o controlo da maior parte do território da República Democrática da Arménia.<br /><br />A partir de Março de 1921, começou a luta Diplomática pela estabilização do território da Turquia. Em Outubro, o Tratado de Kars define a fronteira Oriental, devolvendo à Turquia a soberania sobre as cidades de Kars e Adrahan, que tinham sido conquistadas pela Rússia Czarista durante a Guerra que opôs o Império Rússo ao Império Otomano entre 1877 e 1878. Em 24 de Julho de 1923, terminou a Guerra da Independência, com a assinatura do Tratado de Lausanne, e o trabalho de Mustafa Kemal passou a ser a criação de um novo Estado.<br /><br />Mustafa Kemal tinha 42 anos quando a República da Turquia foi finalmente declarada em 29 de Outubro de 1923. Entrava em acção a ideologia Kemalista, definida como uma ideologia de modernização baseada no realismo e no pragmatismo. Silenciadas as armas, tinha começado a guerra pela modernização da Turquia, que se viria a revelar na adaptação das constituições e instituições de países como a França, a Suécia, a Itália e a Suiça.<br /><br />Mustafa Kemal estava determinado a não pôr em risco as conquistas cívicas da Guerra da Independência. Nos primeiros anos da República, para além dos saudosos do antigo regime que o queriam fazer reviver, Mustafa Kemal teve de enfrentar as novas ideologias, como o comunismo representado por Nazim Hikmet. Apercebendo-se das consequências dos regimes Comunistas e Fascistas dos anos 20 e 30, Mustafa Kemal rejeitou-os a ambos, impedindo o crescimento de partidos com tendências totalitárias como os que se tinham desenvolvido na Itália, na Alemanha e na Rússia. Este facto, no entanto, foi conseguido à custa do silenciamento de determinadas opiniões e da colocação do Estado no centro da acção política. Alguns comentadores viram isto como um silenciamento da oposição, enquanto outros o viram como uma prevenção dos extremismos.<br /><br />Sabe-se, a partir dos apontamentos de Mustafa Kemal, que as suas ideias democráticas divergiam da experiência Otomana e se baseavam no conceito da soberania popular. Kemal visualizava uma soberania parlamentar do tipo das democracias representativas Ocidentais, na qual o Parlamento fosse a fonte da soberania e não do poder executivo. As ideias que Mustafa Kemal cultivou entre 1919 e 1920 levaram-no a prometer um “governo directo pela Assembleia”, em 1920. Acreditava que o poder da Constituição originava na Assembleia Nacional e não no poder absoluto do monarca do Império Otomano. A Assembleia Nacional consolidou a posição de Mustafa Kemal na Constituição de 1921. No final da Guerra da Independência, tornou-se claro para Mustafa Kemal que a ideia do “governo directo pela Assembleia” não sobreviveria à imensa tarefa de reconstrução e à necessidade que haveria de fazer escolhas políticas enérgicas que possibilitassem a modernização do país, pelo que passou a advogar, a partir de Outubro de 1923, que era necessário estabelecer um Governo com um Primeiro Ministro a par de um Presidente da República.<br /><br />O trabalho de desenvolvimento da soberania nacional intensificou-se durante o ano de 1923, à medida que se iam instalando as estruturas legislativas, judiciais e executivas. Para Mustafa Kemal, a independência total não era negociável, e tinha três dimensões, a económica, a cívica e a religiosa. Neste âmbito, Kemal defendia que uma democracia não pode ser formada sem independência económica. O esforço para o estabelecimento da independência económica começou mesmo antes da instauração da República. Kemal trabalhou para a abolição das capitulações durante a Conferência de Lausanne, tendo firmado a sua posição contra as concessões desiguais a estrangeiros e minorias e estabelecido que toda a influência estrangeira tinha que ser eliminada. Mustafa Kemal bloqueou as negociações da Conferência de Lausanne até que os Italianos e os Franceses mudassem as suas exigências económicas. <br /> <br />Kemal desenvolveu então um amplo trabalho ao nível da Lei Cívica, de que se destaca, como principal reforma, a separação entre o Governo e os assuntos religiosos e a adopção de uma forte interpretação do princípio do laicismo do Estado, expresso na Constituição. Este passo foi acompanhado da extinção dos tribunais Islâmicos e pela substituição do Direito Canónico Islâmico por um Código Civil modelado a partir do Suíço e de um Código Penal baseado no Italiano. A completar esta reestruturação, Kemal promoveu a abolição do Califado e a transferência dos seus poderes para a Grande Assembleia Nacional.<br /><br />A liderança de Mustafa Kemal proporcionou o estabelecimento de uma democracia com eleições, Assembleia, Governo com um Primeiro-Ministro e um Presidente. O sistema político era de partido único, que era o Partido Republicano do Povo, (Cumhuriyet Halk Firkasi), fundado por Mustafa Kemal a 9 de Setembro de 1923. O autoritarismo da sua liderança foi frequentemente questionado, mas, como nota o seu biógrafo “entre as duas guerras, muitas sociedades mais ricas e desenvolvidas não conseguiram manter as suas democracias”. O autoritarismo iluminado de Ataturk deixou um espaço razoável para o desenvolvimento da vida privada da nação. A suas ideias eram de um realismo extremo relativamente aos limites do desenvolvimento sustentável da democracia. Em 1933, afirmou: “República significa administração democrática do Estado. Fundámos a República que chegou ao seu décimo ano e deve implementar todos os requisitos da democracia à medida que o tempo for passando”.<br /><br />A revolução cultural de Ataturk provocou oposição. Em 1925, as tensões sociais eram elevadas e a solução para esse problema foi vista na criação de um novo partido. Mustafa Kemal pediu a Kazim Karabekir para estabelecer o Partido Republicano Progressista como partido de oposição na Assembleia, o que deu origem à primeira época bi-partidária. O programa económico do novo partido apontava o Liberalismo como oposição ao Socialismo de Estado que se vinha praticando, a sua agenda social era de conservadorismo como oposição ao modernismo. Os líderes do novo partido apoiavam, em princípio, a revolução Kemalista mas tinham opiniões diferentes com relação à revolução cultural e ao secularismo.<br /><br />Ao fim de algum tempo, o novo partido foi controlado por pessoas que Mustafa kemal considerava fundamentalistas. Em 1925, em resposta à Rebelião do Sheik Said, a Lei de Manutenção da Ordem foi aprovada, dando a Ataturk o poder de acabar com os grupos subversivos, o que ele aproveitou para ilegalizar o Partido Republicano Progressita, numa acção que Mustafa Kemal advogou como necessária à preservação do Estado Turco. Em 1930, Ataturk decidiu voltar a tentar um movimento democrático, instruindo Ali Fethi Okyar para formar um novo partido. Na carta que dirigiu a Okyar, Ataturk insistiu que o partido fosse laico. No seu início, este Partido Liberal Republicano teve sucesso ao redor do país e cedo começou a tornar-se forte demais na oposição às reformas de Ataturk, particularmente no que dizia respeito ao papel da religião na vida pública. Ali Okyar acabou por abolir o seu próprio partido e Ataturk acabou por nunca conseguir democratizar o sistema parlamentar Turco. <br /><br />Do ponto de vista de Mustafa Kemal Ataturk, o principal problema do Estado era o deficiente desenvolvimento das instituições políticas promotoras do desenvolvimento económico e social, com base nisto, Kemal promoveu políticas económicas dirigidas, não só ao desenvolvimento de negócios de pequena ou grande escala, mas também à criação de estratos sociais que não existiam durante a era Otomana.<br /><br />Ataturk criou inúmeras empresas estatais para a agricultura, metalo-mecânica e têxtil que se tornaram empresas de sucesso e, eventualmente, foram privatizadas na segunda metade do Século XX. Outro passo que Ataturk considerava importante para o desenvolvimento da economia nacional era a construção de uma rede eficiente de carris de ferro, que foi levada a cabo a partir da fundação do Caminhos-de-Ferro Turcos em 1927, e conseguiu a implementação de um rede extraordinariamente extensa num período de tempo muito curto.<br /><br />A nível da obras públicas, a obra de Mustafa Kemal foi notável. Com o objectivo de unir a nação, eliminando o controlo da economia por parte das potências estrangeiras e melhorar as comunicações, Istambul, que era um porto de escala que servia empresas internacionais, foi intencionalmente abandonado e os recursos que ai eram colocados foram canalizados para outras cidades.<br /><br />Em 1929 deu-se a grande depressão e a jovem República entrou em crise. O Partido Liberal Republicano apareceu com um programa que propunha a abolição dos monopólios estatais e a atracção de capitais estrangeiros. Apesar de Ataturk discordar da possibilidade de atracção de capitais estrangeiros, a posição liberal sentiu-se fortemente e a forte intervenção estatal na economia acabou por ser substituída por um intervencionismo mais moderado. Um dos apoiantes de extrema-esquerda radical de Mustafa Kemal, Yakup Kadri Karaosmanoglu, iniciador do Movimento Cadre, argumentou nesta época que Ataturk tinha encontrado uma terceira via entre o Capitalismo e o Socialismo.<br /><br />Mustafa Kemal capitalizou a sua reputação como líder militar até à sua morte, em 1938, por forma a instituir uma vasta gama de reformas políticas, económicas e sociais progressistas, que transformaram a sociedade turca dum grupo de súbditos Muçulmanos num grupo de cidadãos de uma Nação moderna, democrática e secular. As suas reformas foram vistas como demasiado rápidas por alguns, mas a maior parte dos Turcos estava disponível para aceitar a mudança. Na maior parte dos casos, as reformas religiosas de Ataturk mereceram dura oposição e continuam a gerar um grau considerável de tensão política e religiosa até aos dias de hoje. A seguir a ele, vários líderes políticos cederiam à tentação de utilizar as forças adormecidas da religião por forma a assegurar a sua posição no poder, tendo sempre sido enfrentados pelos militares, que sempre se consideraram os principais e mais fervorosos guardiães do secularismo do Estado Turco.<br /><br />A ideia de desenvolvimento nacional de Ataturk era muito ampla, tendo promovido, para além da educação geral, a educação de adultos, na qual se empenhou pessoalmente, tendo criado Casas do Povo que se dedicavam e esta extraordinária tarefa de desenvolvimento educacional que ia desde a educação profissional de criados de mesa à educação das mulheres para a sua participação na vida económica nacional. Mustafa Kemal terá dito: “ Hoje, a nossa tarefa mais importante e mais produtiva é a educação nacional. Temos de ter sucesso nos assuntos da educação e vamos ter. A libertação de uma nação só se atinge desta forma”. Nesse âmbito, promoveu o desenvolvimento de um novo alfabeto que substituísse a escrita Árabe, que era demasiado complexa para um ensino que se pretendia rápido e eficaz. Combateu fortemente a iliteracia por meio da educação e de um forte apoio ao sector privado da publicação literária. Kemal modernizou o antigo sistema das Madrassas, reconstruindo as instituições educativas na linha do pragmatismo iluminado. O novo sistema educativo unificado teria como objectivo desenvolver cidadãos responsáveis que fossem membros úteis e apreciados da sociedade.<br /><br />Apesar da proíbição Islâmica das bebidas alcoólicas, Kemal encorajou a produção doméstica de álcool e estabeleceu uma indústria estatal de bebidas espirituosas. Sabe-se que apreciava a bebida nacional, a Raki, e a consumia em quantidades um pouco acima do comum.<br /><br />Mustafa Kemal decretou uma série de leis destinadas a limitar o uso de roupas religiosas fora dos cultos, tendo criado um código de vestuário próprio para estudantes e funcionários públicos, tendo encorajado os homens Turcos a utilizar vestuário de estilo Europeu.<br /><br />Não reconhecendo o género como um factor de organização social, Kemal tratou de implementar o seu ponto de vista, procurando criar uma sociedade que caminhasse para os seus objectivos com homens e mulheres como iguais. Para Ataturk era cientificamente impossível atingir o progresso e ser civilizado se a segregação sexual continuasse como no tempo dos Otomanos. Dizia: “Tudo o que vemos neste mundo é produto das mulheres”. O papel das mulheres na revolução cultural Kemalista foi inscrito num livro cívico preparado sob supervisão do próprio Ataturk, onde defenderia brilhantemente o direito ao voto por parte das mulheres, alegando que: “As mulheres devem ter o direito ao voto e a ser eleitas porque a democracia o dita, porque há interesses que as mulheres têm de defender e porque há deveres sociais que as mulheres têm de cumprir”. A 5 de Dezembro de 1934, as mulheres Turcas passaram a ter os mesmos direitos políticos que os homens, muito antes das mulheres de outros países, ditos ocidentais. Durante este período, Ataturk não impôs quotas para a participação de mulheres na política pois era um firme defensor de que não seria a imposição, mas os hábitos políticos e culturais diários que levariam as mulheres a assumir um papel social mais relevante.<br /><br />As artes plásticas e visuais, cujo desenvolvimento tinha sido impedido pelos Otomanos sob argumento de que a representação da forma humana seria idolatria, foram amplamente encorajadas por Ataturk, o que originou a abertura de muitos museus, o desenvolvimento de uma nova corrente arquitectónica e inúmeras manifestações culturais que promoveram a música clássica Ocidental, a Ópera, o Ballet e o Teatro. Aumentou o número de publicações e a indústria cinematográfica começou a florescer. <br /><br />Ataturk vivia uma vida privada muito simples. Casou-se com Latife Hanim a 23 de Janeiro de 1923 e dela se divorciou a 5 de Agosto de 1925. O seu grande amor pelas crianças levou-o a adoptar sete raparigas e um rapaz e a tomar outros dois rapazes sob sua protecção, tendo tomado providências relativamente ao futuro destas crianças, que lhe sobreviveram. Doou as suas propriedades rurais ao Estado Turco e o seu património imobiliário às cidades de Ankara e Bursa, em 1937. Dividiu a sua herança entre a sua irmã, os seus filhos adoptivos e as Instituições de Língua e História Turcas. Morreu a 10 de Novembro de 1938 no Palácio de Domalbahçe e foi sepultado temporariamente no Museu de Etnografia de Ankara a 21 de Novembro.<br /><br />Em 1945, a Turquia tornou-se um dos cinquenta e um membros originais da Organização das Nações Unidas.<br /><br />A 10 de Novembro de 1953, quinze anos após a sua morte, o féretro de Ataturk foi transportado para o seu local de descanso eterno no Mausoléu erigido em sua honra na cidade de Ankara.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-32644735761012297312007-06-14T23:38:00.000+00:002007-06-14T23:42:18.282+00:00Isto está a aquecer! chegámos aos 6000.Só uma nota para registar os 6000 cliques.<br /><br />1000 páginas vistas em 10 dias, bela média, não é?<br /><br />Pareçe ke ysto está a começar a aqueçer, eh! eh!<br /><br />Obrigado a todos.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-34187558939535938312007-06-11T19:07:00.000+00:002007-06-11T19:22:57.753+00:00Ich bin ein BerlinerHá líderes políticos, militares, empresariais, académicos e religiosos que impressionam pela força da sua imagem pessoal, do seu discurso, das suas acções ou das suas histórias de vida. Hoje vamos dar início, nestas páginas, a uma série de breves biografias de grandes líderes do Séc. XX, visitaremos os discursos e as biografias de John Kennedy, Mohandas Ghandi, Kemal Ataturk, Winston Churchill, Benito Mussolini, o Dalai Lama, Mao Tse Tung, Albert Einstein, George S. Patton, Henry Ford, Nelson Mandela, Vladimir Ilich Ilianov, T.E. Lawrence, entre outros que marcaram o ritmo e os eventos do Século passado.<br /><br />Tentaremos, sempre que possível, enquadrar as suas vidas nos momentos históricos que viveram, acrescentando, para isso, títulos a este breviário que se encontrem relacionados com os episódios relevantes. Hoje abordaremos a história de John FItzgerald Kennedy. Os seus discursos envolventes e motivantes, que nunca nos cansamos de voltar a ouvir, aliados a uma história trágica, converteram este Presidente dos Estados Unidos da América num ícone do Séc.XX, para a história da Europa fica o seu discurso de Berlim, que foi, na nossa modesta opinião, um dos seus melhores, tendo fixado na história um dos momentos mais marcantes da Guerra Fria.<br /><br />Em Junho de 1963, o Presidente John Kennedy iniciou uma visita a cinco países da Europa Ocidental com o propósito de aumentar a boa vontade e a unidade entre os aliados dos E.U.A.. A sua primeira paragem foi na República Federal da Alemanha, uma nação que, menos de vinte anos antes tinha estado envolvida num projecto de conquista mundial sob a ditadura de Hitler. A seguir à derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, o país tinha sido dividido em dois, com o Leste sob controlo da União Soviética e o Oeste tornando-se uma nação democrática.<br /><br />A Alemanha dividida cedo se tornou um foco de tensões entre as duas novas super potências mundiais, os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Berlim, a anterior capital alemã, tornou-se o ponto quente político desse período a que se veio a chamar “Guerra Fria”. Apesar da cidade estar localizada na Alemanha de Leste, Berlim encontrava-se dividida, com Berlim Leste sob o controlo da URSS e Berlim Ocidental sob jurisdição Americana, Inglesa e Francesa.<br /><br />Em 1948, os Soviéticos levaram a cabo um bloqueio temporário de Berlim Ocidental, cortando-lhe todos os acessos por via terrestre. Durante os onze meses que se seguiram, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha levaram a cabo uma ponte aérea maciça, levando quase dois milhões de toneladas de comida, carvão e matérias primas à cidade cercada.<br /><br />Em 1961, o governo da Alemanha Oriental, que era liderado por Walter Ulbricht, erigiu uma barreira de arame farpado em volta da parte ocidental de Berlim, numa extensão de cerca de 150 Km. Esta barreira foi oficialmente chamada “antifaschistscher shutzwall”, (barreira de protecção anti-fascista), e as autoridades da Alemanha Oriental argumentaram que servia para impedir a entrada na RDA, (República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental), de espiões e agentes da Alemanha Ocidental (RFA), que eles consideravam um estado fascista. No entanto, esta obra tornou-se universalmente conhecida como o “Muro de Berlim” e a opinião maioritária era que o seu propósito era impedir os cidadãos da Alemanha Oriental de fugir para o Ocidente.<br /><br />Ao longo de um período de meses, a barreira foi reconstruída usando betão armado e os edifícios que se encontravam na sua proximidade foram demolidos para criar uma zona morta, permanentemente vigiada por guardas da RDA armados com metralhadoras. Em 1962, a primeira tentativa de fuga que resultou na morte de um cidadão da RDA, tirou a vida a Peter Fechter. Até à queda do muro, foram abatidas perto de duzentas pessoas, das que tentaram a fuga para o Ocidente.<br /><br />O Presidente Kennedy chegou a Berlim a 26 de Junho de 1963, depois de visitar Bona, Colónia e Frankfurt, onde havia discursado perante multidões extasiadas. Em Berlim, uma imensa multidão reuniu-se na Rudolph Wilde Platz, (que hoje se chama John F. Kennedy Platz), perto do muro, para ouvir o Presidente Americano que fez o seu discurso mais memorável e o concluiu com a frase que ficou para a história: Ich bin ein Berliner.<br /><br />“Eu sou um cidadão de Berlim” , disse Kennedy, reafirmando o apoio dos Estados Unidos da América à Alemanha Ocidental, num discurso em que foi ladeado pelo Presidente da Câmara de Berlim, Willy Brandt, e que constituiu uma injecção de moral para os cidadãos da cidade cercada que temiam uma invasão por parte da Alemanha de Leste. Falando da varanda da Rathaus Shoeneberg, Kennedy afirmou:<br /><br />“Freedom has many difficulties and democracy is not perfect, but we never had to put a wall up to keep our people in.”<br /><br />(A liberdade tem muitas dificuldades e a democracia não é perfeita, mas nunca tivemos de erigir um muro para manter o nosso povo cá dentro.)<br /><br />Fica ainda desse discurso a afirmação:<br /><br />“Two thousand years ago the proudest boast was “civis romanus sum”. Today, in the world of freedom, the proudest boast is ´Ich bin ein Berliner´... All free men, wherever they may live, are citizens of Berlin, and, therefore, as a free man, I take pride in the words ´Ich bin ein Berliner!´ ”<br /><br />(Há dois mil anos, a afirmação mais orgulhosa era “civis romanus sum”, (sou cidadão de Roma). Hoje, no mundo da liberdade, a afirmação mais orgulhosa é “ich bin ein Berliner”, (sou um cidadão de Berlim)... Todos os homens livres, onde quer que residam, são cidadãos de Berlim e, portanto, com homem livre, tenho orgulho nas palavras “ich bin ein Berliner”!)<br /><br />John Fitzgerald Kennedy foi o 35.º Presidente dos Estados Unidos da América e foi assassinado aos 46 anos de idade, ao longo da sua presidência, ocorreram eventos, que terão lugar neste breviário, como a Invasão da Baia dos Porcos, a Crise dos Mísseis Cubanos, a construção do Muro de Berlim, a Corrida Espacial, o Movimento Americano dos Direitos Civis e os primeiros eventos da Guerra do Vietname. Hoje vamos conhecer a história deste homem:<br /><br /><br /><strong>22- John Fitzgerald Kennedy, 35.º Presidente dos Estados Unidos da América</strong><br /><br />John Fitzgerald Kennedy nasceu a 29 de Maio de 1917 em Brookline, no Estado de Massachussets, de uma família de ascendência Irlandesa e tradicionalmente Católica. Foi o esundo filho de Joseph Patrick Kennedy Sr. e de Rose Fitzgerald. O seu avô materno tinha sido uma figura proeminente na política de Boston, de que chegou a ser Mayor e representante no Congresso dos Estados Unidos da América ao longo de três mandatos. O seu pai chegou a ser Embaixador dos Estados Unidos em Londres.<br /><br />Aos dez anos de idade a família Kennedy mudou-se para uma mansão em Rverdale, no Bronx Nova-Iorquino, e, dois anos mais tarde, voltaram a mudar-se, desta vez para Bronxvill, em Nova-Iorque. Ai, John Kennedy, tornou-se membro dos Escuteiros, tendo-se mais tarde tornado no primeiro Presidente Americano que fez parte do movimento Escutista. <br /><br />Depois de ter iniciado a escola no ensino público, no 5.º Ano foi inscrito numa escola privada para rapazes em Riverdale, onde ficou até ao final do 7.º Ano de escolaridade. Ao iniciar o 8.º Ano, em Setembro de 1930, Kennedy foi enviado para a Canterbury School, um internato Católico para rapazes a 80 Km. de distância de sua casa. Em Abril de 1931, foi operado a uma apendicite, pelo que abandonou aquela escola e voltou para casa. Em Setembro do mesmo ano, foi inscrito noutro internato, desta vez a Choate School em Wallingford, no Conneticut, onde faria a preparação para a Universidade, do 9.º ao 12.º Ano, co-habitando ai com o seu irmão mais velho que estava dois anos adiantado em relação a ele.<br /><br />Em Janeiro de 1934, adoeceu e foi internado no Hospital de New Haven, em Yale, e ai permaneceu até à Páscoa, em Junho foi internado na Clínica Mayo, em Rochester, no Minnesota para ser tratado de uma Colite. Acabou a instrução secundária em Choate, em 1935, no seu Livro de Curso, era apontado como “O mais provável de chegar a Presidente”. Em Setembro desse ano embarcou no SS Normandie com os seus pais e a a sua irmã Kathleen, com destino a Londres, onde iria estudar um ano na London School of Economics, com o Professor Harold Laski, acabou por ser hospitalizado com iterícia, e, ao fim de menos de três semanas em Londres, embarcou de volta. Em Outubro inscreveu-se na Universidade de Princeton, mas voltou a ser hospitalizado, desta vez por uma possível leucemia. Com o ano de estudos perdido, no fim da convalescença que durou de Janeiro a Abril, passou dois meses a trabalhar num rancho de gado no Arizona e depois passou os meses de Julho e Agosto em Hyannis Port, a fazer corridas de veleiros.<br /><br />Em Setembro de 1936, inscreveu-se no Harvard College. No ano seguinte viajou por toda a Europa durante dez semanas. Em 1938, voltou à Europa, desta vez, na companhia do seu pai e do seu irmão Joseph, tendo passado o mês de Julho a trabalhar na Embaixada Americana em Londres e o mês de Agosto com a sua família em Cannes. De Fevereiro a Setembro de 1939, Kennedy faz uma viagem de sete meses em que passa por toda a Europa, incluindo a União Soviética e os Balcãs e passa pelo Médio Oriente, com o fim de recolher informação para a sua tese de final de curso. Passou os últimos dez dias desta viagem na Checoslováquia e na Alemanha, de onde regressou para Londres a 1 de Setembro de 1939, o dia em que a Alemanha invadiu a Polónia. A 3 de Setembro, a família Kennedy encontrava-se na Galeria dos Visitantes da Casa dos Comuns a ouvir um famoso discurso de Winston Churchill a exortar a declaração de Guerra à Alemanha por parte do Reino Unido.<br /><br />Regressado à América, Kennedy escreve a sua tese final de curso, intitulada “Apaziguamento em Munique”, sobre as negociações Germano-Britânicas relativas ao Acordo de Munique. Inicialmente pretendeu que a sua tese fosse apenas para uso académico, no entanto, o seu pai encorajou-o a publicar a tese em livro. Foi diplomado “cum laude” por Harvard em Relações Internacionais, em Junho de 1940. A sua tese foi publicada em livro, com o título “Porque a Inglaterra adormeceu?”, e tornou-se um best-seller.<br /><br />De Setembro a Dezembro de 1940, Kennedy foi assistente na Stanford Graduate School of Business. No inicio do ano seguinte, ajudou o seu pai a escrever a suas memórias sobre os seus três anos como embaixador em Londres. Na primavera, alistou-se no Exército dos E.U.A., mas foi rejeitado devido a um problema com as suas costas. Em Maio e Junho, viajou pela América do Sul. Em Setembro voltou a tentar o alistamento, desta vês na Marinha, que o aceitou devido à influência do Director do Gabinete de Ineligência naval, que havia sido adido militar do seu pai, enquanto Embaixador. Kennedy começou com o posto de Aspirante no gabinete que preparava os relatórios para o Secretário de Estado da Marinha. Durante esta época ocorreu o ataque Japonês a Pearl Harbour. Depois de ser destacado para a Escola de Oficiais de Reserva e para a Escola de Navios Torpedeiros, foi enviado para o Panamá e mais tarde para o Pacífico. Participou em vários comandos na campanha do Pacífico e foi promovido a Tenente, sendo-lhe atríbuido o comando do barco de patrulha PT-109.<br /><br />A 2 de Agosto de 1943, o barco de Kennedy realizava uma patrulha nocturna próximo da Nova Geórgia, nas Ilhas Salomão. A meio da noite, o seu barco foi abalroado pelo destroyer Japonês Amagiri. Kennedy foi lançado através do convés, aleijando-se nas costas. Apesar disso, conseguiu salvar três camaradas, chegando rebocar um deles, a nado, ao longo de cinco quilómetros de mar, até chegarem a uma ilha onde ele e a sua tripulação acabaram por ser, posteriormente recolhidos. Depois deste evento, Kennedy foi condecorado com a “Naval and Marine Corps Medal”. Passou à reserva no princípio de 1945, poucos meses antes da rendição do Japão.<br /><br />No final da Segunda Guerra Mundial, Kennedy pensou em tornar-se jornalista por uns tempos antes de acabar por decidir seguir uma carreira política.Antes da Guerra, a política tinha sempre estado fora das suas perspectivas pois a família já tinha escolhido o seu irmão Joseph como o futuro político da casa, preparando-o para um dia ser o possível Presidente. Tragicamente, o irmão mais velho morreu na Guerra, colocando John na linha para cumprir as ambições políticas do seu pai.<br /><br />Em 1946, John Fitzgerald Kennedy concorre a Representante no Congresso, sendo eleito com uma vantajosa margem contra o seu oponente Republicano. Foi congressista durante seis anos, divergindo frequentemente do Presidente Harry Truman e do resto do Partido Democrático. Em 1952 derrotou o candidato Republicano Henry Cabot Lodge Jr., conquistando o seu lugar no Senado dos Estados Unidos da América. Em 1953 casa-se com Jacqueline Lee Bouvier. Nos dois anos seguintes foi operado várias vezes à coluna vertebral e quase morreu, o que fez com que tivesse recebido a extrema-unção quatro vezes durante a sua vida e estivesse afastado do Senado durante bastante tempo. Nessa época publicou o seu livro “Perfis de coragem”, no qual analisava oito circunstâncias em que diferentes Senadores arriscaram as suas carreiras por seguirem as suas convicções pessoais. O livro foi galardoado com o Prémio Pulitzer em 1957.<br /><br />Em 1956, depois de Adlai Stevenson deixar à Convenção Democrata a tarefa de escolher o candidato a Vice-Presidente, Kennedy ficou em segundo lugar nessa votação, no entanto, obteve bastante exposição pública em função desse facto. A seguir a isso foi eleito para um segundo mandato no Senado.<br /><br />O Senador Joseph McCarthy era um amigo próximo da família Kennedy e o pai de John era um dos seus maiores apoiantes. Robert Kennedy trabalhava para a sub-comissão McCarthy e McCarthy namorava Patrícia Kennedy. Em 1954, quando o Senado estava prestes a condenar McCarthy, John Kennedy tinha um discurso preparado para censurar McCarthy, mas nunca o chegou a fazer. Quando o Senado publicou a sua decisão de censurar McCarthy, John Kennedy estava hospitalizado. Kennedy nunca indicou como teria votado nessa ocasião.<br /><br />Em Janeiro de 1960, Kennedy declarou a sua intenção de concorrer a Presidente dos Estados Unidos da América. Ganhou as primárias e, na Convenção Democrata de Julho foi nomeado candidato do Partido Democrata às Eleições Presidenciais. Kennedy pediu a Lindon Johnson para ser o seu candidato a Vice-Presidente. Apesar da oposição da ala Liberal do seu partido, Kennedy precisava da força de Johnson nos Estados do Sul, para ter algumas hipóteses de ganhar aquelas que se previam ser as eleições mais renhidas desde 1916. Os temas que dominaram a campanha foram o re-lançamento da economia, o catolicismo de Kennedy, a situação de Cuba e a corrida espacial e ao armamento com a U.R.S.S.. Para afastar os receios de que o seu catolicismo tivesse impacto no voto dos Americanos, maioritariamente protestantes, declarou, num famoso discursoem Houston: “Não sou o candidato católico a Presidente, sou o candidato do Partido Democrata a Presidente, que por acaso também é católico. Não falo pela minha Igreja em assuntos públicos, e a Igreja não fla por mim”. Kennedy também suscitou o facto de um quarto dos cidadãos Americanos serem relegados para segundo plano pelo facto de serem Católicos.<br /><br />Em Setembro e Outubro, Kennedy debateu com o candidato Republicano, o Vice-Presidente Richard Nixon, nos primeiros debates televisivos da história da televisão Americana. Durante os debates, Nixon apareceu tenso e descorado, enquanto Kennedy apareceu composto, isto levou a audiência televisiva a dar a vitória a Kennedy, enquanto que a audiência radiofónica deu a vitória a Nixon. Nixon não usou maquilhagem para o debate, ao contrário de Kennedy. Estes debates são considerados como um marco histórico, sendo o momento em que o meio televisivo passou a ter importância na política.<br /><br />John Fitzgerald Kennedy tomou posse como Presidente dos Estados Unidos da América a 20 de Janeiro de 1961. No seu discurso inaugural falou da necessidade dos cidadãos tomarem um papel activo. A sua afirmação mais famosa: “Não perguntem o que o vosso país pode fazer por vós, perguntem o que vocês podem fazer pelo vosso país”, foi feita nessa ocasião, na qual também exortou todas as nações do mundo a lutar em conjunto contra os “inimigos comuns do Homem: a tirania, a pobreza, a doença e a própria guerra”.<br /><br />Pouco tempo depois de tomar posse, Kennedy é confrontado com um plano que estava, secretamente, em preparação, desde a Administração Eisenhower, para derrubar o Regime de Castro, em Cuba. O plano, desenvolvido pela CIA sem a participação do Departamento de Estado, consistia em armar um exército de insurgência contra-revolucionária, constituído por Cubanos anti-Castro. Rebeldes Cubanos treinados pelos E.U.A. invadiriam Cuba e instigariam uma sublevação popular, na esperança de derrubar o Ditador Castro. A 17 de Abril de 1961, Kennedy deu a sua aprovação à prossecussão do plano previamente aprovado. Apesar de Kennedy não autorizar a utilização de apoio aéreo por parte dos E.U.A., a CIA prosseguiu com o envio de 1500 exilados Cubanos, a que chamaram a Brigada 2506, para o que ficou conhecido como a Invasão da Baia dos Porcos. A 19 de Abril, o Governo Cubano tinha morto ou capturado todos os invasores, e Kennedy foi forçado a negociar a libertação dos 1189 sobreviventes. A falha do plano teve base na completa falta de diálogo entre as chefias militares, que resultou na total ausência de apoio naval frente a forças de artilharia bem organizadas na ilha que facilmente incapacitaram a força invasora nas praias onde desembarcou. Ao fim de 20 meses, Cuba libertou os prisioneiros em troca de 53 milhões de dólares em comida e medicamentos.<br /><br />Este incidente, para além do grande embaraço que provocou aos Estados Unidos, fez Castro passar a olhar para os Americanos com suspeição, e a acreditar que mais tarde ou mais cedo, teria lugar outra invasão. Isto levou a que Cuba reforçasse a sua colaboração militar com Moscovo e optasse definitivamente pela implementação de um regime do tipo Comunista.<br /><br />A 14 de Outubro de 1962, aviões espiões U-2 Americanos tiraram fotografias da construção de um silo de mísseis balísticos de alcance intermédio Soviético, em Cuba. Começara a Crise dos Mísseis Cubanos. A 16 de Outubro, as fotografias chegaram às mãos de Kennedy. A América enfrentava a ameaça do nuclear. Colocou-se então, a Kennedy, um dilema: se os E.U.A. atacassem esses silos, isso poderia provocar uma guerra mundial com a U.R.S.S., se nada fizessem, teriam de viver com a ameaça perpétua de armas nucleares na sua região, a uma proximidade tal que se os mísseis fossem lançados, os E.U.A. não teriam tempo de retaliar. Outra ameaça era a de os Estados Unidos aparecerem ao mundo como fracos no seu próprio hemisfério. Kennedy ordenou um bloqueio naval em que os Estados Unidos passariam a inspeccionar todos os navios que se dirigissem a Cuba.<br /><br />Kennedy iniciou negociações com os Soviéticos e ordenou-lhes que retirassem todo o material “defensivo” que estava a ser construído na ilha de Cuba, caso contrário, os povos Cubano e Soviético seriam confrontados com bloqueios navais. O mundo esteve à beira da Guerra Nuclear. Uma semana mais tarde, chegou a um acordo com Nikita Khrutchev, o primeiro-ministro Russo. Khrutchev acordou em retirar os mísseis de Cuba enquanto os Estados Unidos prometeram publicamente nunca invadir a ilha, desde que inspectores das Nações Unidas pudessem verificar a retirada. Kennedy também prometeu, secretamente, retirar nos seis meses seguintes, os mísseis que os Estados Unidos tinham na Turquia.<br /><br />Argumentando que “aqueles que tornam a revolução pacífica impossível, tornam a revolução violenta inevitável”, Kennedy tentou conter o comunismo na América Latina estabelecendo uma Aliança para o Progresso, que enviava ajuda humanitária aos países em dificuldades na região e procurava elevar os padrões dos direitos humanos nesses países.<br /><br />Em seguida, Kennedy criou o Peace Corps, uma organização através da qual os Americanos se podiam voluntariar para a ajuda a países sub-desenvolvidos em áreas como a educação, a agricultura, a saúde e a construção.<br /><br />Entretanto, no Sudoeste Asiático, Kennedy seguiu a política de Eisenhower de utilizar acções militares limitadas para combater os forças comunistas lideradas por Ho Chi Minh. Proclamando a luta contra a expansão do Comunismo, Kennedy pôs em prática políticas de apoio político, económico e militar ao instável Governo instalado pela França no Vietname do Sul, o que incluiu o envio de dezasseis mil conselheiros militares e tropas especiais para aquela área. Kennedy também aprovou o uso de zonas de fogo livro, napalm, desfolhantes e aviões a jacto. O envolvimento Americano naquela zona cresceu continuamente até que forças regulares Norte-Americanas estavam no terreno na Administração seguinte.<br /><br />A Administração Kennedy aumentou o apoio militar mas o exército Sul-Vietnamita não era capaz de fazer frente aos movimentos pró-independência do Viet-Minh e do Viet-Cong. Em Julho de 1963, Kennedy enfrentava uma crise no Vietname. A resposta da sua Administração foi auxiliar num golpe de estado contra o Presidente Ngo Dinh Diem. Em 1963, um grupo de Generais Vietnamitas derrubou o Governo de Diem, prendendo-o e depois matando-o, sendo que as circunstâncias exactas da sua morte permanecem pouco claras até aos dias de hoje. Kennedy sancionou o derrube de Diem. Uma razão para o apoio ao golpe foi o receio de que Diem pudesse negociar uma coligação de Governo com os Comunistas, como tinha ocorrido no Laos em 1962. Continua a ser controverso o debate sobre se a situação no Vietname teria chegado ao ponto que chegou se Kennedy tivesse cumprido o seu mandato até ao fim. A alimentar esta controvérsia existem declarações do Secretário de Estado da Defesa de Kennedy, Robert MacNamara, de acordo com as quais Kennedy estaria a pensar retirar do Vietname a seguir às eleições de 1964, adicionalmente, existe uma ordem dada por Kennedy a 23 de Outubro de 1963 para a retirada de mil efectivos até ao fim do ano. Após o seu assassinato, o novo Presidente Lindon Johnson, imediatamente anulou essa ordem de Kennedy, a 26 de Novembro de 1963.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC_Zi5PK-KW9QcIhPHn7-VORGKst3T5UfK_2p4VAO5NCzmu61j1H_xvUH2cMxQ97ws2FTyXQTgHLAS_3HrMTziTMZDDOrcflHl7KF4JahiCiLxqaPv3xSbm_6Vkdm38tLURwRtYjoevSI/s1600-h/kennedy.bmp"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC_Zi5PK-KW9QcIhPHn7-VORGKst3T5UfK_2p4VAO5NCzmu61j1H_xvUH2cMxQ97ws2FTyXQTgHLAS_3HrMTziTMZDDOrcflHl7KF4JahiCiLxqaPv3xSbm_6Vkdm38tLURwRtYjoevSI/s320/kennedy.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5074886208415627874" /></a><br />Sob pressões opostas e simultâneas dos Aliados e dos Soviéticos, a Alemanha encontrava-se dividida. O Muro de Berlim isolava Berlim Ocidental como um enclave no meio da Alemanha de Leste, que se encontrava sob domínio Soviético. A 26 de Junho de 1963, Kennedy visitou Berlim Ocidental e fez um discurso público, criticando o Comunismo, usando a construção do muro para defender a sua tese: “A Liberdade tem muitas dificuldades e a democracia não é perfeita, mas nunca tivemos de construir um muro para manter o nosso povo cá dentro”. O discurso ficou famoso pela sua frase “Ich bin ein Berliner”. Quase cinco sextos da população estavam na rua quando Kennedy disse a famosa frase. Mais tarde, diria aos seus asssistentes: “Nunca teremos outro dia como este”.<br /><br />Atormentado pelos perigos a longo prazo da contaminação radioactiva e da proliferação do armamento nuclear, Kennedy promoveu a adopção de um Tratado Parcial de Proibição de Testes Nucleares, que proibia testes no solo, na atmosfera e debaixo de água, mas não proibia os testes subterrâneos. Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética foram os primeiros signatários desse tratado. O tratado foi passado para a Lei em Agosto de 1963.<br /><br />Kennedy chamou à sua política interna a “Nova Fronteira”. Prometia, de forma ambiciosa, financiamento federal para a educação, assistência médica para os idosos e intervenção governamental para parar a recessão. Kennedy também prometeu acabar com a discriminação racial. Em 1963, propôs uma reforma fiscal que incluía cortes nos impostos sobre os rendimentos, mas esta reforma só foi aprovada pelo Congresso em 1964, após a sua morte. Poucos dos maiores planos de Kennedy foram aprovados pelo Congresso durante a sua vida, no entanto, o Congresso acabou por votá-los em 1964 e 1965.<br /><br />Como Presidente, Kennedy assistiu à última execução Federal e à última execução militar até à data.<br /><br />O turbulento fim da era da discriminação racial sancionada pelo estado era um dos assuntos internos mais complexos da era de Kennedy. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos determinara em 1954 que a segregação em escolas públicas era inconstitucional, no entanto, muitas escolas, sobretudo nos Estados do Sul, não obedeceram à ordem so Supremo Tribunal. A segregação nos autocarros, em resturantes, cinemas, casas de banho e outros espaços públicos persistia. Kennedy apoiava a integração racial e os direitos civis e, durante a campanha de 1960, telefonou a Coretta Scott King, mulher do Reverendo Martin Luther King Jr. que estava preso. A intervenção de John e Robert Kennedy permitiu a saída prematura de Luther King da prisão.<br /><br />Em 1962, James Meredith tentou inscrever-se na Universidade do Mississipi, mas foi impedido por estudantes brancos. Kennedy respondeu com o envio de quatrocentos agentes federais e três mil militares para garantir que Meredith poderia assistir à sua primeira aula. Depois de um incidente semelhante na Universidade do Alabama, Kennedy fez o seu famoso discurso sobre os direitos civis na Rádio e Televisão Nacionais, propondo o que se tornaria a Lei de Direitos Civis de 1964.<br /><br />Kennedy desejava ardentemente que os Estados Unidos liderassem a corrida espacial. Por duas vezes propôs a Nikita Khrushtchev uma parceria na exploração espacial, em Junho de 1961 e no Outono de 1963. Naprimeira ocasião, a União Soviética estava muito avançada em relação aos Americanos em termos de tecnologia espacial. Kennedy estabeleceu pela primeira vez o objectivo de fazer o Homem chegar à lua num discurso a uma sessão cojunta do Congresso, em Maio de 1961. Mais tarde faria um outro discurso na Universidade Rice, em Setembro de 1962 diria: “Escolhemos ir à lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque são fáceis, mas porque são difíceis”.<br /><br />Na segunda conversa com Khrushtchev, o Russo ficou convencido de que partilhar os custos era benéfico e a tecnologia Americana estava a desenvolver-se rapidamente. Os Estados Unidos tinham lançado o primeiro satélite geo-estacionário e Kennedy tinha pedido ao Congresso para aprovar uma verba de mais de vinte e dois mil milhões de dólares para o Projecto Apollo, que tinha como objectivo colocar um Americano na Lua antes do final da década. Khrushtchev concordou com a parceria no Outono de 1963 mas Kennedy morreu antes de o acordo poder ser formalizado.<br /><br />A 20 de Julho de 1969, quase seis anos após a morte de Kennedy, o objectivo do programa Apollo cumpriu-se quando Neil Armstrong e Buzz Aldrin se tornaram os primeiros homens a aterrar na Lua.<br /><br />O aspecto familiar também teve muito peso durante a Presidência de Kennedy. O Presidente e a sua mulher, Jackie, eram muito novos quando comparados com Presidentes e Primeiras-Damas anteriores e eram ambos extremamante populares, mais como estrelas pop que como políticos, influenciando modas e tornando-se o objecto de numerosas reportagens fotográficas em revistas sociais populares.<br /><br />Os Kennedys deram um novo vigor e uma nova vida à atmosfera da Casa Branca. Acreditavam que a residência Presidencial devia ser um lugar de celebração das história, cultura e empreendimentos Americanos, assim, convidaram artistas, escritores, cientistas, poeta, músicos, actores, Prémios Nobel, e atletas para os visitarem. Jacqueline Kennedy também redecorou a casa e eventualmente, restaurou todas as suas divisões. <br /><br />O Presidente Kennedy foi baleado em Dallas, às 12.30h de 22 de Novembro de 1963, enquanto fazia uma digressão política pelo Texas. Foi declarado morto à uma hora da madrugada seguinte.<br /><br />O seu assassinato teve um efeito tremendo na maior parte da população mundial, muita gente recorda-se vividamente de onde estava quando teve notícia do acontecimento. O Embaixador Americano nas Nações Unidas, Adlai Stevenson afirmou perante a Assembleia Geral: “todos nós carregaremos a dor da sua morte até ao dia da nossa”.<br /><br />Em última análise, a morte o Presidente Kennedy e a consequente confusão que rodeou os factos do seu assassinato são de importância histórica e política até aos nossos dias pois marcaram o declínio da crença do povo Americano nas instituições políticas. Associada ao assassinato do seu irmão Robert e ao do Reverendo Martin Luther King, nos cinco anos tumultuosos que se seguiram a 1963, iniciou uma desilusão crescente relativamente à esperança de mudança política e social que tanto marcou as vidas dos que viveram nos anos sessenta.<br /><br />Muitos dos discursos de Kennedy, (especialmente o seu discurso de posse), tornaram-se icónicos, e, apesar do seu mandato relativamente curto e das poucas mudanças legislativas que ocorreram durante esse período, os Americanos ainda o consideram como um dos seus melhores Presidentes, a par de Abraham Lincoln, George Washington e Franklin Delano Roosevelt. Alguns excertos do seu discurso inaugural estão gravados na sua lápide, no cemitério de Arlington.<br /><br />Doze dias antes do assassinato de Kennedy, comemoravam-se 40 anos da fundação da República da Turquia e os 25 anos da morte de Kemal Ataturk, por essa ocasião, o Presidente Americano dirigiu uma mensagem ao povo Turco que começava assim:<br /><br />“I am happy to join in commemorating the 25th anniversary of the death of Kemal Ataturk. The name of Ataturk brings to mind the historic accomplishments of the great men of this century, his inspired leadership of the Turkish People, his perceptive understanding of the modern world and his boldness as a military leader.”<br /><br />(Estou feliz por me juntar às comemorações do 25º aniversário da morte de Kemal Ataturk. O nome de Ataturk traz à memória os feitos históricos dos grandes homens deste século, a sua inspirada liderança do povo Turco, o seu entendimento perspicaz do mundo moderno e a sua bravura como líder militar).<br /><br />O próximo alvo deste Breviário vai ser Kemal Ataturk.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-31174892810829713782007-06-11T00:28:00.000+00:002007-06-11T00:41:02.864+00:00Carta de um leitor - a propósito de D. João IIPasso a publicar uma carta de um leitor que me chegou hoje, acompanhada por um artigo publicado pelo mesmo no Semanário Económico de 7 de Julho de 1997, que encontrarão publicado como comentário a este post.<br /><br />“Sendo senhor dos senhores, nunca quis <br />nem parecer servo dos servos”<br />D. João II, Rei de Portugal<br />---------------------------------------<br /><br />Caro Pedro Estadão,<br /><br />sendo avô de um dos descendentes de D. João II (» Brites Anes A boa Dona » Brites Anes de Santarém) gostei muito do seu trabalho.<br /><br />Como me dedico à cibernética social -Estratégia e Liderança- observo o seguinte:<br /><br />Devido ao comportamento linear e algo confuso do seu pai, D. João II encontrou uma situação que tinha saido fora do leme, com "os frades ricos e a ordem pobre" (-tal como, aliás, acontece hoje em dia com a "pax americana" and her partners in misleadership", incluindo e sobretudo a UE e cada um dos seus estados membros » "candeias às avessas").<br /><br />Daí, D. João II tomou as seguintes medidas: contenção do "mal" ou, melhor<br />dito, "limpeza"). As mesmas, bastante draconianas e mecanicistas sob o ponto<br />de vista de hoje, resultaram em ganhos de poder primeiro não solidário. Aproveitou essa liberdade de movimentos (fôlego) para tomar a medida certa que lhe permitiu transformar o poder inicialmente não solidário em poder solidário:<br /><br />fez do fomento decidido aos descobrimentos portugueseses a sua primeira prioridade governamental o que acabou por lançar Portugal na "saga épica da busca do caminho marítimo para a Índia" por si referida. Com outras palavras: deu a Portugal um novo perfil, um novo designio, de índole extrovertido e alterocêntrico que depois Camões descrevera como "dar novos mundos ao mundo". Foram estas medidas que fundamentaram o sucesso português de então levando o país a uma grande ascensão sócio-económica, cultural e ecológica. Com efeito, a partir dos séculos 15 e 16 Portugal acertou, <br />para falar na minha linguagem, no "ponto cibernéticamente mais eficaz" que despoletou a espiral positiva daquela ascensão da qual não só Portugal mas outros países d Europa e do mundo tiraram grande partido. Claro, os portugueses também não eram altruistas, eles também perseguiam os lucros materiais, contudo a forma como o fizeram observou, intuitivamente, as regras das leis naturais da evolução, ou seja, primeiro dar, para receber depois. Isso, sempre em combinação com o know how e consequente poder dos especialistas.<br /><br />Para mim, a maior proeza e maior mérito de D. João II consiste nessa reorientação estratégica que fez com que o país deixasse de reagir e que comecasse a AGIR, dando cartas de acordo com os seus pontos fortes únicos e inconfundíveis.<br /><br />Infelizmente, esse sucesso, com o comportamento linear (natural), no decorrer dos séculos convertiu-se num insucesso crónico, pois, observado de mais perto, o país desde então começou a olhar para dentro, querendo então bater-se, sistematicamente, com armas que outros dominam melhor. É o "me too".<br /><br />O outro dia, vi essa minha tese corrobaorada por Roberto Carneiro que afirmou na SIC Notícias, perante o meu aplauso incondicional, mais ou menos, como segue:<br /><br />"(...) Sempre quando Portugal olhou para fora, o país esteve bem, sempre quando se fechou em copas e olhou para dentro, então as coisas andaram mal (...)". Continuou: "(...) Por isso, temos é que agir e olhar para fora, sem termos medo nem da Espanha, nem da Europa (...)" Quando ele disse "Europa" o meu aplauso cessou e fiquei sem graça: lá estava outra vez esse preconceito de um Portugal e uma Espanha de um lado e a tal "outra Europa" -será a do adamastor ?- a outro. (O magazine alemão DER SPIEGEL já observou nos anos setenta que "na Grécia e em Portugal as pessoas falam da Europa como se não fizessem parte dela".)<br /><br />É imperioso que esse preconteio de outros tempos seja superado para que Portugal saia da estagnação. Todavia, não se trata de um problema apenas português mas sim da União Europeia na qual o país se encontra integrado. De facto, o sistema UE encontra-se desde há mais de três décadas às avessas e essa situação não ajuda muito na urgente reorientação estratégica de Portugal. <br /><br />Porém, cada estado membro -também Portugal !- poderá saír deste círculo vicioso, dando então exemplo para o sistema. Escrevi sobre este tema no Semanário Económico de 07.07.1997. Um governante que tinha recebido, em 1999, um cópia do meu artigo, porventura, deve ter achado interessante. <br /><br />Não tenho a certeza, mas facto é que em 2002 começou uma grande iníciativa para<br />desenvolver Angola e alguns dos argumentos citados pelo Expresso podiam ser minhas. Só que, infelizmente, esse governante às tantas "fugiu" para Bruxelas e como as coisas estão hoje não é fácil de descobrir.<br /><br />Será preciso o país esperar até que chegue um novo D. João II com métodos de correcção oxalá* menos violentos ?<br /><br />Melhores cumprimentos<br /><br />Rolf Dahmer<br /><br />* A propósito de "oxalá" ! Se a UE continuar a via linear de perseguir os jogos de soma nula, mais dia, menos dia teremos, começando por Portugal e<br />Espanha, novamente a forma antiga do termo na Europa. "inch-allah" . <br />:-)Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-63374708161693066982007-06-09T01:17:00.000+00:002007-06-09T01:25:29.841+00:00A Fogueira das VaidadesFrequentemente, políticos menos escrupulosos embarcam em cruzadas que visam a sua própria promoção à custa do bom nome de outros. Este fenómeno, que consiste numa exploração pouco escrupulosa da queda em desgraça de uma qualquer figura pública, frequentemente alimentada por mentiras ou meias verdades sobre a sua vida privada ou sobre a moralidade das suas acções, (pelo personagem que procura a ascensão), chama-se a “Fogueira das Vaidades”. É uma das formas mais habituais de usar um bode expiatório para atingir objectivos políticos, aproveitando a natural inveja que a pessoa que se quer que caia em desgraça possa suscitar nos outros, (pares ou eleitores).<br /><br />O termo “Fogueira das Vaidades” nasceu no dia de Carnaval de 1497, quando os fanáticos seguidores do padre Girolamo Savonarola, (o mesmo que é retratado no livro “A regra de quatro”, de Ian Caldwell), reuniram e queimaram publicamente milhares de objectos em Florença. Entre estes encontravam-se livros, manuscritos de peças musicais, quadros e muitos artigos de luxo como espelhos, cosméticos ou vestuário, mesas de jogo, e outros objectos supostamente pecaminosos a que conseguiram deitar as mãos. Conta-se que terão sido queimadas todas as cópias do Decameron de Bocaccio e das obras de Ovídio que haviam, na época, em Florença e que o próprio Boticelli foi obrigado deitar quadros seus ao fogo.<br /><br />Estas fogueiras de vaidades não foram inventadas por Savonarola, de facto, eram um acontecimento relativamente comum época e os actos deste padre baseavam-se nas fogueiras que frequentemente acompanhavam os sermões de São Bernardino de Siena, na primeira metade do Séc. XV. Os primeiros registos deste tipo de fogueiras datam do tempo dos antigos Egípcios.<br /><br />Dois anos depois, em Granada, um auto de fé ordenado pelo Arcebispo Cisneiro levou à incineração pública de mais de um milhão de livros Árabes e Hebraicos. A Santa Inquisição, de resto, foi profícua neste tipo de acções ao longo de todo o Sec. XVI.<br /><br />No final do Séc. XVII, as obras de vários autores, entre eles e principalmente, as de Thomas Hobbes, foram queimadas nos jardins da Universidade de Oxford. Depois, no final do Séc. XVIII, Robespierre ordenou a destruição pelo fogo das bibliotecas religiosas, bem como de todas as obras que glorificassem a monarquia ou os Reis Franceses, esses livros foram classificados como “Inimigos da França Reformada”.<br /><br />No Início do Séc. XX, durante a Revolução de Outubro, os Bolcheviques ordenaram a destruição de todos os livros contrários ao Comunismo, incluindo muitas obras religiosas, obras sobre a história Czarista, sobre o nacionalismo, a liberdade ou o lucro económico. Em torno desta realidade, desenrola-se o fabuloso romance de Boris Pasternak, “O Dr. Jivago”, consagrado como um dos melhores filmes de todos os tempos pela lente de David Lean.<br /><br />Duas décadas mais tarde, os Nazis queimavam publicamente as obras de todos os autores Judeus e de livros apelidados de “degenerados”, num total de cerca de dezoito mil títulos que consideravam não corresponder à sua ideologia<br /><br />Mais próximo a nós passaram-se alguns episódios similares nos Estados Unidos da América, no tempo do Senador McCarthy, dirigidos aos livros Comunistas, e no Brasil de Getúlio Vargas, que ordenou a queima pública das obras de Jorge Amado.<br /><br />No alvorecer do nosso Século XXI, mais concretamente em Janeiro de 2001, o Ministro Egípcio da Cultura mandou incinerar seis mil volumes da obra de poesia homo-erótica da autoria de Abu Nuwas, depois de ter sido pressionado por grupos de fundamentalistas Islâmicos.<br /><br />Os exemplos são muito mais numerosos do que os que nos foi dado descrever aqui, e ocorreram em todas as épocas e em todas as localizações geográficas, no entanto, o mais emblemático destes eventos, por não se limitar à queima de livros, estendendo a diabolização do outro aos próprios objectos que eram considerados simbólicos do pecado foi o que deu o nome a este tipo de acção, a Fogueira das Vaidades de Florença, ordenada por Savonarola.<br /><br />Quando nos dedicarmos ao tema da censura, no nosso Breviário, exploraremos mais este aspecto das queimas de livros. Hoje, debruçamo-nos sobre o aspecto mais simbólico destas fogueiras e dos seus objectivos psicológicos no controlo das massas, verificando que há paralelos não literais entre o acto concreto de queimar objectos que simbolizam determinado bode expiatório e a exploração da destruição da imagem pública de um qualquer personagem com base em comportamentos supostamente imorais, ilegais ou desonrosos, mesmo que não correspondam inteiramente à verdade.<br /><br />Esta “Fogueira das Vaidades” simbólica foi magistralmente utilizada por Tom Wolfe no seu romance com esse nome que actualizou o termo para os nossos dias, tornando-o uma expressão comum na descrição de determinado tipo de acções políticas focadas na utilização de um determinado bode expiatório.<br /><br /><br /><strong>21- A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe</strong><br /><br />“A Fogueira das Vaidades” é o título um romance escrito por Tom Wolfe, em 1987. A história anda à volta dos temas da ambição, do racismo e da ganância na Nova Iorque dos anos oitenta. Apesar do título ter origem na fogueira de Savonarola, a história do livro não se desenvolve em torno desse evento histórico, (o que, na realidade, se passa com um outro livro: “A Regra de Quatro”, de Ian Caldwell). O título refere-se então à vaidade, ao materialismo e à ânsia de poder que marcaram a época dos yuppies.<br /><br />Sinopse<br /><br />O enredo centra-se em Sherman McCoy, cuja luxuosa vida como “Mestre do Universo” em Wall Street é destruída quando a sua amante, Maria Ruskin, atropela um jovem negro no Bronx enquanto segue ao volante do carro de McCoy.<br /><br />Este evento representa uma oportunidade única para Peter Fallow, um jornalista alcoólico e caído em desgraça que escreve para o tablóide City Light. Ao ser persuadido a escrever uma série de artigos sobre o caso de um jovem afro-americano que foi vítima de um atropelamento e fuga por parte de um condutor branco, Fallow suspeita estar a ser usado por um líder político e religioso Nova-Iorquino, o Rverendo Bacon, que está a explorar o acontecimento para progredir na sua carreira política à custa da comunidade negra de Nova Iorque. Bacon encoraja a mãe da vítima, que entretanto ficou em estado de coma a seguir ao atropelamento, a processar o Hospital em que o filho se encontra, por não lhe terem prestado tratamento apropriado, que o poderia ter salvo.<br /><br />Quando McCoy é identificado como dono do carro que efectuou o atropelamento, Fallow inicia uma série de artigos que insinuam que Sherman McCoy é o culpado. A um dado momento, sabe-se que esta série de artigos lhe vale um prémio Pulitzer. McCoy torna-se o homem mais odiado em Nova-Iorque e torna-se o alvo de numerosas manifestações. Abe Weiss, um ambicioso Procurador Público do Bronx à beira da re-eleição, decide que McCoy tem de ser condenado a qualquer custo, o que inclui a obtenção de um falso testemunho por parte da amante deste. A condenação de McCoy permitiria a Weiss ganhar o apoio da população negra de Nova-Iorque para a sua re-eleição.<br /><br />Quando a amante de McCoy foge do país com outro homem para evitar ter de admitir que era ela a verdadeira condutora, um investigador privado, contratado por McCoy descobre a gravação de uma conversa incriminatória feita pelo seu senhorio durante um dos seus encontro com Maria Ruskin. McCoy usa a gravação para se livrar das acusações que lhe são feitas na audiência preliminar e quase ocorre um motim à porta do tribunal, durante o qual McCoy perde a cabeça e agride vários manifestantes.<br /><br />No final descobrimos que o jornalista Fallow se casou com uma mulher rica, Maria fugiu à justiça e McCoy vive na miséria enquanto aguarda julgamento por homicídio involuntário.<br />Discussão<br /><br />“A Fogueira das Vaidades” foi a primeira novela de Tom Wolfe. O seu trabalho antes deste livro consistiu fundamentalmente de artigos e livros não-ficcionais. As suas obras de ficção e de não-ficção têm em comum um fascínio intenso com as incríveis histórias e surpreendentes detalhes da vida americana. Tal como o seu trabalho jornalístico anterior, “A Fogueira das Vaidades” funde intriga, enredo e detalhe sociológico. O enredo baseia-se nos conflitos de classes da Nova-Iorque dos anos oitenta e na exploração desses conflitos pelos políticos. Ao longo de capítulos extensos e imensamente texturados, que parecem inspirados em Émile Zola, Wolfe descreve os pormenores mais singulares de cada personagem e de cada circunstância.<br /><br />A atenção de Wolfe ao pormenor chega a ser cansativa de tão exaustivo que é na descrição de todos os pequenos nadas e nos apartes que faz para nos levar em direcções perfeitamente desnecessárias ao desenrolar da história, no entanto, este facto torna “A Fogueira das Vaidades” um livro único, que nos dá a perceber todos os tons e matizes da sociedade Nova-Iorquina dos anos oitenta. Na versão original, chegamos ao ponto de perceber nos diálogos, toda uma variedade de dialectos e sotaques das diversas zonas daquela imensa cidade.<br /><br />Em 1990, Brian de Palma realizou o filme com o mesmo nome, baseado na história de Wolfe, que foi nomeado para cinco Óscares, contando no elenco com Tom Hanks, Bruce Willys, Melanie Griffith e Morgan Freeman, entre outros. Um filme que vale a pena ver. De Palma mantém o nome mas dá uma volta completa à história, que chega ao fim muito diferente, mas não menos ilustrativa que a obra de Wolfe.<br /><br />A cinematografia apresenta uma vaidade própria, com imagens filmadas de todos os planos e com todos os graus de aproximação possíveis, chegando alguns planos a poder ser considerados vertiginosos e alucinantes. De Palma parece nem chegar a usar o livro e a fazer a sua própria história, preservando unicamente a espiral descendente dos personagens McCoy e Fallow. Acaba de vez com o livro ao mudar o final e entregando a Morgan Freeman o papel de Juiz, que no livro é apresentado como sendo Judeu e transformando o julgamento numa paródia circense de conflito racial, que traz ao de cima uma leitura doentia do sistema judicial Americano. No filme, em vez do Juiz Judeu do livro, é um Juiz Negro que faz a sensível leitura política final. Imperdível.<br /><br />Enfim, cada história muda conforme quem a conta, mas no final, o sentido genérico é o mesmo: A ganância e a inveja são ingredientes poderosos para a criação de bodes expiatórios e a vaidade, a luxúria do poder e a sensação de impunidade são provavelmente a principal causa da queda em desgraça de figuras mais ou menos públicas.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-88851910444316053262007-06-03T23:55:00.000+00:002007-06-04T00:05:28.541+00:00Upa, Upa! Chegámos aos 5000Obrigado amigos.<br /><br />Aqui vai mais uma breve paragem para assinalar uma efeméride.<br /><br />30 artigos publicados, 2198 visitantes únicos, a maior parte dos quais vindos dos motores de busca à procura de definições para assuntos do seu interesse, e 5000 cliques nas diversas páginas do nosso modesto blog, (pouco mais de 2 por visitante).<br /><br />Os artigos mais visitados continuam a ser os que se relacionam com a Maçonaria, imediatamente seguidos do artigo sobre o "Mercador de Veneza".<br /><br />Continuando a agradecer a vossa atenção, reforçamos aqui o nosso compromisso de continuar a apresentar, no nosso blog, conteúdos de qualidade.<br /><br />Até breve.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-79691155418880111812007-05-27T14:28:00.000+00:002007-05-27T14:31:48.205+00:00Viriato, o LusitanoNo que toca a grandes líderes, o território onde se encontra hoje implantado Portugal tem tido a sua quota parte. Não me restam dúvidas de que se fossemos um país anglófono, muitos deles teriam já merecido ser alvos de argumentos de filmes como o Braveheart do Mel Gibson, cujo protagonista, William Wallace, ainda será contemplado com uma entrada neste breviário. O mais distinto e lendário destes líderes míticos é sem sombra de dúvida o Lusitano Viriato, cuja história se viu tristemente utilizada instrumento propagandístico pelo Estado Novo, da mesma forma que o Nacional Socialismo Alemão utilizou o guerreiro germânico Hermann ou o Fascismo Italiano utilizou a figura de Júlio César.<br /><br />Ora, Viriato nem é Português nem Espanhol, foi Lusitano, membro de um povo que habitava uma zona da península que provavelmente se estendia do Algarve ao Rio Douro e de Toledo a Sevilha. A lenda atribui-lhe o nascimento nos montes Hermínios, mas não se sabe ao certo qual foi a localidade do seu nascimento, mas sabe-se que a propaganda do Estado Novo espalhou largamente esta teoria, talvez para localizar o nascimento deste herói mítico o mais próximo possível de Santa Comba.<br /><br />A vida de Viriato desenrolou-se durante o período em que os Romanos desenvolveram o seu esforço militar de ocupação da Península Ibérica. Este esforço desenvolveu-se desde muito antes de Viriato nascer e decorreu ainda por longos anos depois da sua morte, em 139 a.C.. Seis décadas após o desaparecimento de Viriato, foi nas forças da resistência Lusitana que Quinto Sertório encontrou apoio na sua luta contra Roma, entre 80 e 72 a.C., esta resistência acabaria por se manter ainda por mais uma década até ser finalmente anulada durante a presença de Júlio César como Governador da Hispânia Ulterior, em 61 a.C..<br /><br />Ao longo dos quase dois séculos que os Romanos demoraram a obter o domínio da região Lusitana houve um líder que se destacou e que impressionou os historiadores Romanos, talvez mais do que qualquer outro líder de qualquer outro povo que os Romanos conquistaram por essa Europa fora, esse líder foi Viriato, cujo nome advém das vírias, adornos em forma de bracelete que os líderes guerreiros Lusitanos ostentavam nos braços como símbolo do seu poder. Imagine-se a influência que Viriato conquistou para lhe ser atribuído o nome do próprio símbolo da liderança militar.<br /><br />Vale a pena conhecer a vida deste personagem histórico, já Cervantes no seu D. Quixote, quando coloca o cónego a aconselhar D. Quixote a ler os feitos dos grandes personagens históricos, ao invés de se perder na ilusão dos contos de cavaleiros andantes, põe Viriato à frente de um rol de importantes heróis militares que vão da antiguidade clássica à época medieval: <br /><br />“Eia, Senhor D. Quixote! Tenha dó de si mesmo, refugie-se no seio da discrição e procure usar da muita com que o seu foi servido brindá-lo, ocupando o mui feliz talento do seu engenho em leituras outras, que redundem em proveito da sua consciência e aumento da sua honra! E se, apesar de tudo, levado pela sua natural inclinação, quiser ler livros de façanhas e de cavaleiros, leia, nas Sagradas Escrituras, o dos Juízes, onde encontrará verdades grandiosas e feitos tão grandiosos como destemidos. Teve a Lusitânia um Viriato; Roma, um César; Cartago, um Aníbal; a Grécia, um Alexandre; Castela, o Conde Fernán González; Valência, o Cid; Andaluzia, um Gonzalo Fernández; a Extremadura, Diego Garcia de Paredes; Jerez, um Garci Perez de Vargas; Toledo, um Garcilaso; Sevilha, um D. Manuel de Léon!... Os seus valorosos feitos constituirão entretenimento, aprendizagem, deleite e admiração aos mais altos engenhos que os lerem! E essa, sim, será leitura digna do bom entendimento de Vossa Mercê, meu senhor D. Quixote! Dela sairá erudito na História, enamorado da virtude, mestre em bondade, aperfeiçoado em costumes, valente sem temeridade, ousado sem cobardia… E tudo isso para honra de Deus, para proveito seu e fama de La Mancha, donde, como é sabido, lhe advém a Vossa Mercê seu princípio e sua origem.”<br /><br />Os historiadores antigos apresentam Viriato como uma personalidade forte e aglutinadora, semelhante à de outros chefes militares, como Alexandre, Aníbal, Amílcar, Quinto Sertório, Pompeu ou o próprio Júlio César. O seu poder pessoal e a sua influência nos seus conterrâneos seria, decerto, fascinante. Esse facto, aliás percebe-se nos relatos do majestoso funeral que o exército Lusitano lhe consagrou.<br /><br />Foi o fundador da aplicação militar da guerra de guerrilha tal como a conhecemos hoje. Pese embora haver referências anteriores ao mesmo estilo de acção militar, por exemplo nas campanhas de Alexandre, o Grande, ou da Guerra de Jugurta, em África, foi o estilo de táctica militar de Viriato que passou à história como modelo de guerrilha e que se perpetuou até aos nossos dias.<br /><br />Morreu às mãos de alguns dos seus camaradas de armas, que o assassinaram. De acordo com a história, (que foi provavelmente inventada para ocultar a vergonha Romana causada pela participação em tal tipo de acções), os assassinos não receberam qualquer recompensa, pois o Senado Romano considerou a sua acção indigna. Séculos mais tarde, os historiadores resumiriam esta atitude Romana numa frase que espelha perfeitamente o sentido dessa decisão do Senado:<br /><br />“Roma não paga a traidores.”<br /><br /> <br /><strong>20- Viriato, filho de Comínio</strong><br /><br />Viriato, filho de Comínio, nasceu provavelmente por volta de 179 a.C., na localidade de Aritius Vetium (Alvega), É duvidoso que tenha sido pastor nos Montes Hermínios, como conta a lenda porque teve acesso a elementos culturais e ensinamentos militares que lhe permitiram transformar tribos de pastores num exército consistente e desenvolver uma guerra de guerrilha baseada em elementos estratégicos e tácticos extremamente sofisticados para a época em que viveu, adicionalmente sabe-se que detinha conhecimento da língua Latina e que foi capaz de abordar os aspectos diplomáticos que o levaram, pelo diálogo mantido com os Romanos, a ser designado, a certo ponto, “Amicus Populi Romani”, que era o título dado aos chefes tribais e aos reis que eram considerados aliados em paz com Roma.<br /><br />No final da segunda Guerra Púnica com Cartago, cerca de 200 a.C., Roma dominava o Leste e o Sul da Península Ibérica, nesta guerra já haviam participado, integrando o exército Cartaginês, grupos de guerreiros Lusitanos, Celtiberos e Celtas, oriundos dos povos que dominavam o resto do território peninsular. Os Romanos prosseguiram o seu avanço militar no sentido de conseguir o domínio do total da península a que chamavam Hispânia, mas a ocupação foi obtida dificilmente pois os povos indígenas, dos quais se destacaram os Lusitanos, opuseram feroz oposição às Legiões Romanas.<br /><br />Após cinquenta anos de acções militares romanas, em 150 a.C, o pretor romano Sérvio Sulpício Galba, Governador da Província Romana da Hispânia Citerior, aceita uma proposta de paz, que incluía o desarmamento dos lusitanos. Vergonhosamente, Galba não cumpriu a sua parte do acordo, massacrando de cerca de 10 mil lusitanos e enviando outros 20 mil para a Gália, onde foram vendidos como escravos. Um guerreiro chamado Viriato foi um dos poucos sobreviventes a esta chacina. A guerra de resistência continuou.<br /><br />Em 147 a.C. os Lusitanos encontravam-se cercados por Caio Vetílio no Vale do Bétis, na Turdetânia. Estando prestes a negociar uma rendição. Viriato aparece na História quando se opõe a isso, lembrando aos seus companheiros a traição anterior de Galba. Os Lusitanos fogem e reorganizam-se. Depois desse evento, a fama de Viriato como guerreiro e estratega foi crescendo entre as várias tribos lusitanas, o que lhe permitiu tornar-se o líder efectivo de uma coligação de tribos lusitanas, pela primeira vez na história unidas por um objectivo comum.<br /><br />Em 146 a.C., Viriato derrota os romanos no desfiladeiro de Ronda, que separa a planície do Guadalquivir da costa marítima da Andaluzia, fazendo nas fileiras inimigas uma espantosa chacina, contaram-se milhares de Romanos mortos, incluindo o próprio Vetílio.<br /><br />Em 145 a.C., Quinto Fábio Máximo, irmão de Cipião, "O Africano", é nomeado Cônsul da Hispânia Citerior e é encarregado da campanha contra Viriato, sendo-lhe entregue o comando de duas legiões. Ao princípio tem algum êxito, mas Viriato recupera e no final de 143 a.C. volta a derrotar os romanos em Baecula e obriga-os a refugiar-se em Córdova. Viriato entra triunfante na Província Romana da Hispânia Citerior e exige tributo às cidades que reconhecem o Governo de Roma.<br /><br />As notícias do êxito do líder Lusitano, vevam as tribos celtibéricas da Hispânia Citerior, entre as quais se contavam os Belos, os Titos e os Arevacos a revoltar-se contra os Romanos, iniciando uma guerra que só terminaria em 133 aC, com a queda de Numância.<br /><br />Em Roma, organizam-se mais quatro Legiões para uma nova expedição contra os Lusitanos, são enviadas para a Hispânia sob comando do novo Cônsul Fábio Máximo Serviliano. Em 140 a.C., estas Legiões são derrotadas por Viriato, cujas tropas matam mais de 3.000 romanos, encurralando o inimigo e podendo destroçá-lo. O Lusitano, no entanto, deixou Serviliano libertar-se da posição desastrosa em que se encontrava, em troca de promessas e garantias de os lusitanos conservarem o território que haviam conquistado. Em Roma, esse tratado de paz foi mais tarde considerado humilhante e vexatório, como consequência, o Senado romano volta atrás na sua palavra, e declara guerra a Viriato. <br /> <br />Entretanto, dá-se a destruição de Cartago, o principal centro de oposição ao poder de Roma no Mediterrâneo. Este evento constituiu o ponto de viragem da guerra, pois Roma pôde reforçar as suas tropas nas restantes frentes, incluindo a frente Ibérica.<br /><br />Em consequência da atenção e poder militar concentrados de novo na Ibéria, para além da desmilitarização Lusitana que entretanto sucedeu ao tratado de paz, as tropas Romanas conseguem levar Viriato a refugiar-se a norte do rio Tejo, num lugar denominado "Monte de Vénus", localizado provavelmente entre Cáceres e Badajoz. Face aos avanços do General Romano Quinto Servílio Cipião, entretanto reforçado por tropas comandadas por Popílio Lenas, Viriato, chegando a um impasse, apesar de manter alguma superioridade militar, enviou-lhe três emissários, Audax, Ditalco e Minuro, para negociar a paz, mas estes foram subornados e convencidos a matar Viriato.<br /><br />Viriato foi assassinado durante o sono, por estes mesmos três emissários. Após o assassinato, os traidores refugiaram-se junto do Procônsul Romano Cipião, reclamando o prémio prometido. No entanto, o procônsul ordenou a sua execução. De acordo com historiadores posteriores, terão ficado os três expostos em praça pública com os dizeres: "Roma não paga a traidores".<br /><br />O exército Lusitano, chefiado por Táutalo, até então, braço direito de Viriato, tentou ainda uma incursão contra os territórios do Sul, mas foi vencido. Depois destes acontecimentos, que tiveram lugar em 139 a.C., Décius Június Brutus conseguiu finalmente marchar para o Norte, através da Lusitânia central, e dominar a Gallaecia. Começou então, efectivamente, a ocupação romana do extremo Ocidental da Hispânia Táutalo foi capturado alguns anos mais tarde. <br /><br />Após a governação de Júlio César, o Imperador Augusto fundou a cidade de Emérita Augusta (hoje Mérida), no ano 25 aC, que, a partir de 5 a.C. se tornou a capital da Província Romana Lusitânia.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-35209095479147431322007-05-26T18:18:00.000+00:002007-05-26T18:20:06.538+00:00O Príncipe PerfeitoPoucos homens marcaram mais o seu tempo e a história da Humanidade que D. João II, Rei de Portugal, a quem os inimigos apelidaram de “o Tirano” e os amigos de “o Príncipe Perfeito”. Tem sido referido que “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel, escrito cerca de 20 anos após a sua morte, pode ter sido, em parte, baseado na sua pessoa e nos métodos novos que introduziu na forma de fazer política e reger o reino.<br /><br />Tendo sido contemporâneo dos Médicis, D. João II foi o mais perfeito executante do conceito de pragmatismo político que se desenvolveu naquela época na Europa. Exemplificou, em Portugal, o poder do príncipe renascentista, contrastando o seu reinado com o do seu antecessor, D. Afonso V, que foi, também ele, um expoente, mas de outra época, a dos cavaleiros medievais.<br /><br />Para D. João II, o poder radicava todo na instituição real, por isso, baseou a sua acção na repressão do poder dos grandes, sem nunca se ter apoiado nos pequenos, alterando radicalmente a relação de poderes que existia nos tempos medievais que precederam o seu reinado.<br /><br />Nos primeiros tempos do seu reinado, surge em Portugal uma expressão nova: “Sua Majestade Real”, que representa um conceito de realeza completamente novo. Um dos seu biógrafos, Rui de Pina escreveu que: “Sendo senhor dos senhores, nunca quis nem parecer servo dos servos”.<br /><br />Hoje, apresento-vos o Príncipe Perfeito.<br /><br /><br /><strong>18- D. João II de Portugal, o Príncipe Perfeito</strong><br /><br />Filho do Rei Afonso V de Portugal e de Isabel de Coimbra, o décimo terceiro Rei de Portugal, D. João II, nasceu em Lisboa, no Paço das Alcáçovas, a 3 de Maio de 1455.<br /><br />Depois da tentativa falhada de conquista de Tânger em 1464, D. Afonso V dirige uma campanha contra Arzila em 1471, na qual é acompanhado pelo Príncipe. Depois da tomada de Arzila, que também resultou na ocupação de Tânger, que entretanto foi abandonada pelos mouros em fuga, a 21 de Agosto de 1471, João II foi armado cavaleiro junto ao corpo do Conde de Marialva, que faleceu na batalha. No início do ano seguinte, casa com Leonor de Viseu, princesa de Portugal, que era sua prima direita, filha do infante D. Fernando. Fruto desta união, nasce em 1475, o infante D. Afonso.<br /><br />Em 1474, assumiu a direcção da política de expansão ultramarina, enquanto D. Afonso V invadia Castela para fazer valer os direitos de sucessão sobre o trono que haviam resultado da morte de Henrique IV. A 25 de Abril de 1475, parte para Espanha para auxiliar o pai, participando a 2 de Março na batalha de Toro, na qual D. Afonso V fica gravemente ferido.<br /><br />Sucedeu ao seu pai após a abdicação deste, em 1477, no entanto, D. Afonso V decidiu retornar e logo D. João II lhe devolveu o poder, só se tornando Rei após a sua morte, em 1481.<br /><br />Desde o início, o jovem rei não foi muito popular junto dos pares do reino, pois mostrava-se imune a influências externas e desprezava as intrigas da corte. Os nobres mais poderosos, encabeçados por Fernando II, Duque de Bragança, temiam a sua governação. Assim que tomou as rédeas do país, o Rei provou que tinham razões para isso.<br /><br />Depois de D. João II ter posto em prática uma série de medidas que transferiram poder da nobreza para a sua pessoa, começaram as conspirações contra ele. Tendo-se colocado na posição de um simples observador, João aguardou para ver o que se ia passar. Em 1483, os espiões do Rei conseguiram interceptar cartas do Marquês de Montemor, que era irmão do Duque de Bragança, dirigidas aos Reis Católicos de Espanha a propor a invasão de Portugal por tropas Castelhanas com o fito de derrubar D. João II. Em consequência disto, a Casa de Bragança foi proscrita e o Duque de Bragança, primeira figura da nobreza nacional e proprietário de quase metade do território do país, foi considerado envolvido na conspiração, julgado e executado por degolação em Évora, perante uma imensa multidão. Os bens dos Bragança foram anexados à coroa. Ao que parece, perante rumores de que João teria recompensado as testemunhas de acusação, a honestidade do julgamento foi mais tarde posta em causa, mas o facto estava criado.<br /><br />Entretanto, entra em cena Diogo, Duque de Beja e de Viseu, filho do Infante D. Fernando e cunhado de D. João II, era, a seguir ao Duque de Bragança, o mais poderoso nobre do Reino, era Condestável do Reino e Governador da Ordem de Cristo. Após a execução do Duque de Bragança foi feito chefe dos descontentes e preparou uma conspiração para assassinar o Rei e o Príncipe Herdeiro, o que lhe permitiria, então, subir ao trono. Mais uma vez, D. João II toma conhecimento desta conjura através dos seus espiões. Atraindo Diogo a Palmela, ai o apunhala com as suas próprias mãos. Seguiu-se a execução de vários outros membros da alta nobreza e a fuga de muitos mais. O Bispo de Évora, D. Garcia de Meneses, que havia desempenhado um papel político importantíssimo no reinado anterior, foi envenenado na prisão. Foi ainda emitido um édito condenando à morte Isaac Abravanel, um dos mais ricos judeus da Península Ibérica, que foi acusado de financiar a conspiração, este conseguiu, no entanto, fugir para Castela, onde se refugiou junto da corte. Dedicamos a este último, uma pequena entrada biográfica no final deste tema.<br /><br />De acordo com a tradição oral, D. João II terá comentado, relativamente à limpeza que fez no país: “eu sou o senhor dos senhores, não sou o servo dos servos”. Depois destes eventos, mais ninguém ousou conspirar contra o Rei, que não hesitava em fazer justiça pelas próprias mãos. D. João II tornou-se então um governante com poderes absolutos.<br /><br />Tendo sido um grande defensor da política de exploração atlântica iniciada por D. Henrique, tornou os descobrimentos portugueses a sua primeira prioridade governamental e lançou Portugal na saga épica da busca do caminho marítimo para a Índia. Durante o tempo do seu reinado, Diogo Cão descobre, em 1484, a foz do Rio Congo e explora a costa da Namíbia Quatro anos depois, Bartolomeu Dias leva duas pequenas caravelas para lá do Cabo da Boa Esperança, tornando-se o primeiro Europeu a navegar no Oceano Índico. Em 1493, Álvaro de Caminha inicia a colonização de S. Tomé e Príncipe. Em seguida são enviadas as expedições de Pêro da Covilhã e de Afonso de Paiva que atingem a Abissínia em busca do lendário Reino do Preste João, de cujos relatórios D. João II extraiu a certeza de poder atingir a Índia por via marítima.<br /><br />Tendo a maior parte dos arquivos deste período sido destruídos no incêndio que se seguiu ao terramoto de 1755, e tendo D. João II sido um escrupuloso implementador do segredo de estado, permanecem desconhecidas a totalidade das descobertas e progressos feitos nesta época. Os historiadores ainda discutem a verdadeira extensão das descobertas feitas no tempo deste Rei, suspeitando que os Portugueses tivessem chegado à América antes de Cristóvão Colombo. Sabe-se que na época, os Portugueses dispunham de cálculos bastante precisos do diâmetro da Terra, e enquanto Cristóvão Colombo acreditava poder chegar à Índia seguindo para Oeste, é provável que D. João II já soubesse da existência de um continente no meio. As misteriosas viagens do Capitão Duarte Pacheco Pereira para Oeste de Cabo Verde foram possivelmente mais importantes que o que é usual supor. Tudo isto se passou numa época em que o resto do mundo ainda pensava que a Terra era plana.<br /><br />Quando o piloto Genovês Cristóvão Colombo, que vivia em Portugal há dez anos se dirigiu a D. João II com o seu projecto, D. João II recusou. Colombo partia de uma suposição que o Rei Português sabia estar errada, afirmando que cada grau media 84 Km, quando na realidade, os Portugueses já sabiam que media 111 Km.. D. João II estava decidido a chegar à Índia pelo Oriente, contornando a África. Em 1492, Colombo descobre a América ao serviço de Isabel, a Católica. Na viagem de regresso, para primeiro em Lisboa, para lançar à cara do Rei o facto de este não lhe ter dado crédito quando lhe propôs aquela viagem, D. João II respondeu-lhe que, de acordo com o Tratado de Alcáçovas, aquelas terras eram da Coroa de Portugal. Parece que D. João II chegou a mandar armar navios para ocupar as terras descobertas por Colombo, mas, entretanto, entrou em negociações com Espanha para uma solução pacífica. Em resultado destas negociações surgiu o Tratado de Tordesilhas, o mundo era dividido entre Portugal e Espanha por uma linha que passava, de pólo a pólo a 370 léguas a Oeste de Cabo Verde, Espanha ficava com o que estivesse a Ocidente dessa linha e Portugal com que estivesse a Oriente. Até à sua morte, Colombo esteve convencido de que havia chegado à Índia.<br /><br />A divisão do Mundo não era o único problema entre os Reinos Ibéricos, os Reis Católicos tinham várias filhas mas apenas um filho, Juan, de saúde frágil. Se Juan morresse sem deixar descendência, o mais provável seria Afonso, único filho legítimo de D. João II, tornar-se Rei, não só de Portugal, mas de toda a Península Ibérica. Esta ameaça à coroa Espanhola era real pois a filha mais velha de ambos era casada com o Príncipe Português. Fernando e Isabel tentaram por todas as vias diplomáticas dissolver o casamento, mas não tiveram sucesso. Em 1491, Afonso morre em consequência de uma misteriosa queda de cavalo durante um passeio à beira Tejo. A ligação dos Reis Católicos ao acidente nunca foi provada, mas tanto eles como a alta nobreza Portuguesa tinha muito a ganhar com isso, no caso destes últimos por esse acidente colocar em linha directa de descendência o Duque de Beja, Manuel, irmão do Duque de Viseu, que havia morrido às mãos de D. João II.<br /><br />Durante o resto da sua vida, D. João II tentou legitimar o seu filho bastardo, Jorge. D. Jorge, Duque de Coimbra era filho de uma relação adúltera do Rei com D. Ana Furtado de Mendonça, que era dama de honor da princesa D. Joana, a Beltraneja. Mas os adversários do Rei tinham muita força, tanto dentro como fora do país e esse objectivo nunca foi conseguido.<br /><br />D. João II, o Príncipe Perfeito, faleceu no Alvor em 1495, três anos antes da chegada de Vasco da Gama à Índia. Morreu sem deixar herdeiros legítimos. Não é de excluir o envenenamento como causa da sua morte, dado o ódio que a nobreza lhe tinha. Antes de morrer, D. João II escolheu Manuel de Viseu, Duque de Beja, seu primo direito e cunhado, para sucessor. Na data da sua morte, Isabel de Castela terá afirmado: “Murió el Hombre!”. O Homem jaz no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha. Deixou como legado uma política de expansão ultramarina que foi continuada ao longo dos séculos seguintes e que tornou Portugal na primeira potência verdadeiramente mundial da história da humanidade.<br /><br /><br /><strong>19 – Isaac ben Judah, o Abarbanel</strong><br /><br />Isaac bem Judah ou Yitchak bem Yehuda Abravanel foi um estadista Judeu, um filósofo, comentador da Bíblia e financeiro. Descendente da família Abravanel, em várias obras é referido apenas pelo seu apelido, que por vezes surge como Abravanel, Abarbanel, Abrabanel. Muitos estudiosos da Tora e do Talmude referem-se a ele simplesmente como “O Abarbanel”. Nasceu em Lisboa, em 1437. Faleceu em Veneza, em 1508. Foi enterrado em Pádua.<br /><br />A família Abravanel é uma das mais antigas e distintas famílias judaicas sefarditas, cuja ascendência directa tem origem no Rei David bíblico. Membros desta família viveram em Sevilha, onde viveu o seu representante mais velho, Judá Abravanel.<br /><br />Tendo sido aluno de Joseph Hayim, rabino de Lisboa, Isaac Abravanel era versado em literatura rabínica e nos estudos do seu tempo, devotando os seus jovens anos ao estudo da filosofia judaica. Com apenas 20 anos de idade escreveu sobre a forma original dos elementos naturais, sobre questões religiosas e sobre profecias. As suas capacidades na política também lhe valeram a atenção de terceiros mesmo ainda na juventude. Entrou para o serviço do Rei Afonso V de Portugal como Tesoureiro do Reino e em breve ganhou a sua confiança.<br /><br />Não obstante a sua alta posição e grande riqueza que herdou do seu pai, era notável o seu amor pelos pobres e oprimidos. Quando Arzila foi tomada pelos portugueses e os prisioneiros judeus foram vendidos como escravos, Abravanel contribuiu largamente com os fundos necessários para os libertar e organizou também colectas em seu favor por todo Portugal, tendo chegado a escrever ao seu rico e influente amigo Jehiel de Pisa, em apelo pelos presos.<br /><br />Após a morte do Rei Afonso V, foi obrigado a deixar o seu cargo, tendo sido acusado por D. João II de conivência com o Duque de Bragança, que havia sido executado e com Diogo, Duque de Beja e Viseu, que tinha sido apunhalado pelo Rei por estarem a desenvolver uma conspiração contra este. Avisado a tempo, Abravanel salvou-se, fugindo para Castela em 1483. A sua grande fortuna foi confiscada por decreto real.<br /><br />Em Toledo, sua nova residência, ocupou-se inicialmente com estudos bíblicos, e no decorrer dos meses seguintes, produziu uma grande quantidade de comentários aos livros de Josué, Juízes e Samuel. Pouco tempo depois,entrou ao serviço da Casa de Castela. Juntamente com o seu amigo, o influente Don Abraham Senior, de Segóvia, encarregou-se de administrar as receitas e fornecer abastecimentos ao exército real, com contratos que ele executou bem, para satisfação total de Isabel de Castela.<br /><br />Durante as Guerras Mouriscas, Abravanel emprestou somas avultadas de dinheiro ao governo e quando foi decretada a expulsão dos Judeus de Espanha, tentou por todos os meios convencer o rei a revogar o édito, chegando a oferecer-lhe 30.000 ducados. Mas foi em vão. Com os seus companheiros de fé, Abravanel deixou a Espanha para ir viver para Nápoles, onde em breve entraria para os serviços do Rei. Por um período curto, viveu em paz, mas quando a cidade foi tomada pelos Franceses, foi roubado de todas as suas posses e seguiu o Rei Francês Ferdinand, em 1495, para Messina e, mais tarde, para Corfu.Em 1496 instalou-se em Monopoli, e finalmente em 1503 em Veneza, onde os seus serviços foram empregues na negociação de um tratado comercial entre Portugal e a República de Veneza. Ao longo desta época, foi contemporâneo de Nicolau Maquiavel e é de imaginar que tenham cruzado caminhos e talvez até discutido temas de política.<br /><br />O mundo é pequeno…Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-10336659239711595732007-05-25T18:34:00.000+00:002007-05-25T18:37:23.122+00:00Maçonaria, Igreja Católica e IlluminatiHoje encerramos a entrada sobre a Franco-Maçonaria neste nosso breviário. As histórias, como a vida, não são estanques, por isso, é provável que encontremos adiante, noutras entradas deste breviário, algumas referências a este tema e até o desenvolvimento de alguns dos momentos que neste artigo foram abordados ao de leve, como sejam as histórias de revoluções e movimentos de independência que registaram alguma influência maçónica.<br /><br />Não nos debruçámos sobre o funcionamento da Maçonaria nos dias de hoje porque consideramos que esse é um trabalho para ser levado a cabo por jornalistas, o nosso papel não é o de fazer notícias mas sim o de contribuir para a formação dos nossos leitores, fazendo-lhes chegar alguns dados que, muito provavelmente, desconhece e que lhe são úteis para a compreensão do mundo em que vivemos e para a análise das relações políticas e sociais.<br /><br />No que diz respeito à Maçonaria, consideramos que, com o artigo de hoje, a nossa missão está cumprida, tendo disponibilizado os dados suficientes para que o leitor atento entenda do que se trata, como funciona e quais os seus objectivos, esperamos ainda ter contribuído para uma melhor compreensão do tema por parte do público em geral e conseguir, com esta peça, o enquadramento de algumas outras que já surgiram e continuarão a surgir neste breviário.<br /><br />Dito isto, sigamos em frente:<br /><br /><strong><br />5.7 - Relações dos Estados e das Autoridades Religiosas com a Maçonaria</strong><br /><br />Curiosamente, o primeiro sobrerano a aderir e a proteger a Maçonaria foi o Imperador Católico Francisco I, que foi o fundador da última dinastia reinante da Áustria, enquanto as primeiras medidas contra a Maçonaria foram tomadas por governos Protestantes, na Holanda, em 1735. Desde então até tempos recentes, a Maçonaria foi perseguida e proibida, intermitentemente por toda a Europa. Durante o período de 1827 a 1834, foram tomadas medidas contra a Maçonaria em vários Estados Americanos. No que diz respeito à Europa pode-se afirmar que todos os regimes que não originaram em movimentos revolucionários, de uma forma ou de outra, tentaram proteger-se das sociedades secretas do tipo maçónico, quer limitando-as, quer proibindo-as.<br />A acção da Igreja tem-se baseado em pronunciamentos papais contra a Franco-Maçonaria, que têm ocorrido regularmente desde 1738, tendo todos os Papas, com excepção do último, que provavelmente ainda não teve tempo para isso, emitido o seu juízo quanto à maldade intrínseca deste movimento. Os mais profícuos neste capítulo foram Bento XIV, Pio IX e Leão XIII . Estes escritos pontifícios têm estado perfeitamente de acordo uns com os outros e apenas têm evoluído de acordo com os desenvolvimentos que foram sendo exigidos pelo crescimento da influência da Maçonaria e de outras sociedades secretas, tendo os mais recentes sempre reiterado os anteriores.<br />Clemente XII indica claramente as razões pelas quais as associações maçónicas devem ser condenadas do ponto de vista católico, nos aspectos morais, políticos e sociais. Estas razões são diversas. Em primeiro lugar, Clemente XII aponta o carácter peculiar, não-sectário e naturalista da Fraco-Maçonaria, através do qual, em teoria e na prática, esta mina a fé Cristã e Católica, primeiro nos seus membros e através deles, no resto da sociedade, gerando indiferenciação religiosa e desprezo pela ortodoxia e pela autoridade eclesiástica. Em segundo lugar, aponta o inescrutável secretismo e o disfarce camaleónico da Maçonaria e da sua obra, através dos quais, “homens deste tipo entram como ladrões numa casa e, como raposas, conseguem esquivar-se por entre as vinhas”, “pervertendo os simples, usurpando o seu bem estar espiritual e temporal”. Em terceiro lugar, este Papa, que foi o primeiro a pronunciar-se sobre a questão, aponta que os votos de secretismo e de fidelidade à Maçonaria e à ora Maçónica, são condenáveis, porque o objecto e o âmbito da Maçonaria são malvados e condenáveis e o candidato é, na maioria dos casos ignorante da importância e da extensão das obrigações que assume. Os segredos ritualísticos e doutrinais, que são o principal objecto dos votos, de acordo com Clemente XII, são ninharias ou mesmo inexistentes, afirmando este que mesmo os códigos de reconhecimento mútuo dos maçons, que representariam o único e essencial segredo da maçonaria, estão representados em muitos livros, então, defende este Papa, os verdadeiros segredos da Maçonaria só podem ser conspirações políticas ou anti-religiosas. Assim, em todos os aspectos, os votos maçónicos não são apenas sacrílegos como também representam uma ameaça à ordem pública. A finalizar, Clemente XII, afirma o perigo que tais sociedade representam para a segurança e tranquilidade do Estado e para a saúde espiritual das almas, e consequentemente, a sua incompatibilidade com os Direitos Civil e Canónico.<br />Os restantes éditos papais apresentam apenas alguns traços característicos. Bento XIV apelou à urgência dos príncipes católicos e autoridades civis auxiliarem a Igreja na sua luta contra a Maçonaria. Pio VII condenou a sociedade secreta da Carbonária, que segundo ele não era um derivado, era certamente uma imitação da Maçonaria. Leão XII deplora o facto de as autoridades civis não terem atendido aos anteriores decretos papais e de em consequência disso, terem nascido das antigas sociedades maçónicas, seitas ainda mais perigosas que as anteriores. Gregório XVI declara que as calamidades da sua era se deveram principalmente às conspirações das sociedades secretas, e, como Leão XII, critica o indiferencialismo religioso e as falsas ideias de tolerância propagadas pelas sociedades secretas. Pio IX caracteriza a Franco-Maçonaria como uma organização insidiosa, fraudulenta e perversa, insultuosa tanto para a religião como para a sociedade e condena novamente a sociedade maçónica e outras similares, que diferindo apenas na aparência, “abertamente conspiram contra a Igreja e as autoridades legais”. Depois, segundo Leão XIII, o propósito último da Maçonaria é “derrubar toda a ordem religiosa, política e social baseada nas instituições Cristãs e o estabelecimento de um novo estado de coisas de acordo com as suas próprias ideias e baseado, nos seus princípios e leis, em puro Naturalismo”. Papas mais recentes têm emitido decretos no mesmo sentido destes dos Sécs. XVIII e XIX.<br />Devido a estas razões variadas, os Católicos, desde 1738, incorrem em pena de excomunhão se participarem de ou promoverem de qualquer forma seitas maçónicas, pelo que os éditos papais contra a Franco-Maçonaria têm frequentemente levado a acusações falsas e erróneas ao longo dos três últimos séculos e provavelmente têm contribuído mais do que qualquer outra coisa para a cimentação da fama da Maçonaria como fomentadora e participante de conspirações.<br /><br /><strong>5.8 – A Maçonaria e os Illuminati</strong><br /><br /><br />Quando, em 1776, Adam Weishaupt formou os Illuminati da Baviera, planeou infiltrar a sua organização na Maçonaria e usar o secretismo das Lojas maçónicas para recrutar maçons para os Illuminati, convencendo-os de que era ele quem tinha a chave para os graus mais elevados da Maçonaria. O seu plano era criar uma organização secreta para controlar o mundo a partir dos bastidores para “benefício“ da humanidade, tornando as guerras obsoletas, os pobres ricos, eliminando fronteiras nacionais e raciais, retirando aos pais a responsabilidade de criar as suas próprias crianças e formando um governo comunista universal. O único senão era que, entretanto, teria que provocar algumas guerras, abolir a religião, e muitas pessoas teriam de morrer no processo. Para Weishaupt isto não eram muito mau porque, como costumava dizer: ”os fins justificam os meios”.<br /><br />Weishaupt decidiu então que não contaria a ninguém a parte má até que subissem o suficiente para serem capazes de fazer tudo para manterem o seu poder e posição social. Recrutou os líderes sociais, os ricos e os prestigiados e poucos anos depois haviam centenas de Lojas Iluminadas na Europa e dezenas na América. No tempo da Guerra Revolucionária e da assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, houveram rumores acerca de os Illuminati estarem a trabalhar para destruir a República. George Washington escreveu acerca deles nos seus diários e descreveu possíveis ligações deste grupo ao Eastern Banking Establishment bem como o fomento de deserções nas fileiras revolucionárias através de acções de propaganda dos Illuminati.<br /><br />Os Illuminati aproveitaram a sua oportunidade para chegar ao poder em 1789, em França, durante a Revolução Francesa, espalhando a revolta contra a religião e a monarquia. Controlando a imprensa e os vendedores de livros, conseguiram emitir toda a espécie de propaganda a incitar o povo à revolução. Quando tudo acabou e o povo pensou que tinha o poder para si, os Illuminati detinham secretamente as rédeas do poder na Assembleia Nacional Francesa. Foram necessárias décadas de trabalho de um grupo muito mais secreto e muito mais antigo para a situação se começar a inverter. Mas, essa é uma outra história…Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-6811042918505155752007-05-02T23:31:00.000+00:002007-05-02T23:32:21.165+00:00A Guerra das GáliasNo primeiro século antes de Cristo, na Península Itálica, não havia rádio, televisão ou imprensa. A informação circulava verbalmente ou através de rolos de papiro que eram copiados por escribas, o que tornava a edição de qualquer obra literária um empreendimento extraordinariamente dispendioso e as poucas obras que eram copiadas eram cobiçadas e lidas por todos os que sabiam ler. No tumultuoso e complexo jogo que era a política Romana, haver uma obra literária a dizer bem de alguém era meio caminho andado para a fama e a glória.<br /><br />Júlio César apercebeu-se disso e, em resultado escreveu os seus “Comentários sobre a Guerra das Gálias”, que foram lidos e relidos nos serões romanos e funcionaram como um tremendo trunfo publicitário à personalidade daquele que viria a ser considerado o primeiro cidadão da República Romana e esteve prestes a ser consagrado como o primeiro Rei de Roma. O objectivo de manipular os leitores Romanos levou este homem a escrever a primeira obra-prima da propaganda política da história Romana.<br /><br />O texto, com o título de Comentarii de Bello Gallico, descreve as batalhas e intrigas que tiveram lugar durante os nove anos que Júlio César passou a combater os exércitos que se opunham à ocupação Romana da Gália. A Gália a que César se refere é por vezes toda a Gália, com excepção da Província Narbonensis, (a Provença), englobando toda a França, Bélgica e parte da Suíça, em outras ocasiões, refere-se ao território ocupado pelos Celtas, a quem os Romanos chamavam Gauleses, entre o Canal da Mancha e Lyon.<br /><br />Esta obra permanece, até aos dias de hoje, como a mais importante fonte histórica sobre a campanha militar de conquista da Gália pelo exército Romano. Sendo frequentemente aplaudida pelo estilo polido e claro do seu Latim, este livro é ainda um dos primeiros exemplos da escrita na terceira pessoa, (quem ouvisse a leitura do livro, ouviria: César fez isto, César fez aquilo, César veio para cá, César foi para lá, etc…), o que demonstra a excepcional capacidade do autor para explorar ao máximo a ferramenta publicitária ao seu dispor. A maior parte das pessoa que viriam a ter contacto com o texto, efectivamente, seriam ouvintes e não leitores, o que tornava excepcionalmente importante escrever o livro como se o leitor estivesse a contar a história de Júlio César, em lugar de ser este a contar a sua própria história. Neste livro percebe-se uma clareza de sintaxe e uma beleza de estilo, que é ao mesmo tempo simples e elegante, essencial e não retórico, isento de adornos mas rico em detalhes.<br /><br />Os Comentários sobre a Guerra das Gálias são ainda valiosos pelos inúmeros factos históricos e geográficos que apresentam, e que passam pela descrição dos costumes e religião dos Gauleses, uma comparação entre os povos Gauleses e os Germânicos e ainda notas curiosas como seja a indicação sobre a falta de interesse dos Germanos pela agricultura.<br /><br />O primeiro livro trata exclusivamente da Guerra Helvética, em 58 a.C., nele, Júlio César descreve a Gália e a campanha contra os Helvéticos, um conglomerado de povos cujo número excedia os trezentos mil que decidiu migrar pela força das armas das regiões Alpinas que ocupavam, através do centro da Gália até ao Oeste para fugirem às pressões populacionais. Isto implicava que atravessariam a província Romana de Narbonensis ou áreas ocupadas por tribos aliadas de Roma. Quando Júlio César tornou claro que não permitiria isso, os Helvéticos formaram uma aliança de tribos para o combater. Os restantes seis livros versam sobre as campanhas contra os Venetos, os Aquitanos, povos Germânicos e Bretões, as invasões da Bretanha, a insurreição da Gália e, finalmente, a derrota de Vercingetorix na batalha de Alesia.<br /><br />No final do segundo ano de guerra, a maior parte das tribos hostis haviam sido derrotadas e a maior parte da Gália estava sob controlo Romano, nesse ponto, qualquer ameaça à província ou a Roma era no mínimo dúbia. Foi feito notar que este livro também pode ter sido escrito em resposta aos opositores políticos de César, que questionavam a real necessidade dessa guerra, que foi uma das mais dispendiosas da história Romana. Muitas das explicações avançadas por César desafiam a credulidade dos leitores, por exemplo, a razão apontada para a invasão da Bretanha resumiu-se à descoberta de que os exércitos que os Romanos combateram no Noroeste da Gália eram apoiados por mercenários Bretões.<br /><br />Em suma, uma história que merece ser incluída no nosso breviário…<br /><br /><br /><strong>17- A Guerra das Gálias</strong><br /><br />A Guerra das Gálias foi o nome que se deu à série de campanhas militares em que várias Legiões Romanas invadiram a Gália sob o comando de Júlio César e às sublevações de tribos Gaulesas que a estas se seguiram. Os Romanos teriam chegado a entrar na Bretanha e na Germânia mas estas incursões nunca foram invasões em grande escala. A Guerra das Gálias culminou com a decisiva batalha de Alesia, em 52 a.C., que resultou na derrota de Vercingetorix e na incorporação de toda a Gália na República Romana.<br /><br />Apesar de César ter retratado esta invasão como uma acção defensiva e preventiva, a maior parte dos historiadores concorda que esta guerra foi travada principalmente para promover a ascensão política de Júlio César e para pagar as suas dívidas astronómicas. No entanto, não se pode descartar a importância militar da Gália para os Romanos, que haviam sido atacados várias vezes por tribos célticas indígenas das terras a Norte de Itália. A conquista da Gália ajudaria a cimentar a fronteira natural no Rio Reno.<br /><br />Em 58 a.C., Júlio César terminou o seu consulado em Roma e estava incrivelmente endividado. No entanto, tendo sido membro do Primeiro Triunvirato, junto com Marco Licínio Crasso e Pompeu, assegurou para si o governo de duas províncias: a Gália Cisalpina e o Ilirico. Quando o Governador da Gália Transalpina morreu inesperadamente, esta província também foi entregue a César para governar, os postos de Governador de César foram estendidos para cinco anos, mais três que os dois que eram de uso na República Romana.<br /><br />Inicialmente, César tinha sob seu comando quatro legiões veteranas: A VII Legião, a VIII Legião, a IX Legião Hispana e a X Legião. César conhecia pessoalmente todas estas legiões pois havia estado em campanha com elas contra os Lusitanos em 61 a.C., enquanto foi Governador da Hispânia Ulterior. César também tinha a autoridade para formar novas legiões e unidades auxiliares, conforme considerasse necessário.<br /><br />O seu objectivo era claramente o de conquistar e saquear algumas regiões, mas é pouco provável que a Gália fosse o seu alvo inicial. Pensa-se que estivesse a planear uma campanha nos Balcãs contra o Reino da Dácia.<br /><br />As tribos Célticas, por outro lado eram bastante civilizadas, ricas e totalmente divididas entre si. A maior parte delas tinha negócios com mercadores Romanos e estava a ser influenciada pela cultura Romana. Algumas até havia mudado os seus sistemas políticos de Monarquias tribais para Repúblicas inspiradas na Romana. Os Romanos respeitavam e temiam as tribos Gaulesas e Germânicas. Apenas cinquenta anos antes, em 109 a.C., a Itália tinha sido invadida por eles e salva apenas após várias batalhas sangrentas e muito custosas em que os Romanos foram comandados por Gaio Mário. Muito recentemente, os Suevos haviam migrado para a Gália sob o comando do seu líder Ariovisto e parecia que as tribos estavam novamente em movimento.<br /><br />Em 61 a.C., os Helvéticos começaram a planear uma migração em massa, instigados por Orgetorix. Os Helvéticos estava insatisfeitos com a extensão do seu território, comprimidos entre os Celtas Sequani e os Romanos da Gália Narbonense. Como diplomata, Orgetorix negociou com os Sequani e os Eduínos. Orgetorix tmbém fez contactos pessoais e uma aliança com Casticus e Dumnorix, os líderes dessas tribos, chegando a casar a sua filha com o último. César acusou os três de terem ambições Reais. Ao longo de três anos, os Helvéticos planearam e prepararam-se, tendo enviado emissários a diversas tribos Gaulesas à procura de salvo-conduto e alianças.<br /><br />Em 58 a.C., as ambições de Orgetorix foram reveladas à sua tribo e ele foi levado a julgamento, ao qual escapou. No entanto, este evento não dissuadiu os Helvéticos dos seus planos. Eram uma tribo endurecida por constantes guerras e também eram muito numerosos. Quando partiram, queimaram todas as cidades e aldeias e juntaram-se-lhes várias tribos vizinhas: os Rauracios, os Tulingios, os Latovícios e os Boios. Tinham duas rotas disponíveis, uma era o difícil e perigos Pás de l’Ecluse, entre as montanhas de Jura e o Reno, o segundo, que era muito mais fácil, levá-los-ia em direcção à cidade de Geneva, onde o Lago Geneva se une ao Reno e onde uma ponte facilitaria a passagem do Rio. Essas terras pertenciam aos Alobrógios, um tribo que havia sido submetida por Roma e, como tal, faziam parte da província Romana da Gália Transalpina.<br /><br />Entretanto, César estava em Roma e apenas uma Legião se encontrava na Província ameaçada. Mal teve notícia dos acontecimentos, César apressou-se a chegar a Geneva e, para além de ordenar o levantamento de várias unidades auxiliares, mandou destruir a ponte. Os Helvéticos enviaram uma embaixada liderada por Nammeius e Veroclécio, para negociar uma passagem pacífica, prometendo não fazer qualquer mal. César, ganhando tempo valioso, empatou as negociações até que as suas tropas conseguissem fortificar as suas posições ao longo do Rio.<br /><br />Quando a embaixada regressou, César recusou oficialmente e avisou-os de que qualquer passagem forçada teria a sua oposição. Várias tentativas foram rapidamente repelidas. Os Helvéticos voltaram para trás e começaram negociações com os Sequani para uma passagem pacífica. Deixando a Legião sob o comando do seu Lugar-Tenente, Tito Labénio, César seguiu para a Gália Cisalpina. Quando Chegou, tomou o comando das três legiões que estavam em Aquileia e recrutou duas novas legiões, a XI e a XII. À cabeça destas cinco legiões, atravessou os Alpes pelo caminho mais curto, cruzando o território de várias tribos hostis e combatendo diversas escaramuças pelo caminho.<br /><br />Entretanto, os Helvéticos já tinham atravessado os territórios dos Sequani e estavam ocupados a pilhar os territórios dos Eduínos, dos Ambarrinos e dos Alobrógios. Estas tribos não tinham capacidade para se lhes opor e, como aliados de Roma, pediram a César a sua ajuda. César acedeu aos seus pedidos e surpreendeu os Helvéticos enquanto estes atravessavam o rio Arar. Três quartos dos Helvéticos já tinham passado, mas um quarto, o clã Helvético dos Tigúrios ainda estava na margem oriental. Três Legiões comandadas por César, surpreenderam e derrotaram os Tigúrios na Batalha de Arar, infligindo-lhes grandes perdas. Os Tigúrios sobrantes fugiram para os bosques circundantes.<br /><br />Finda a batalha, os Romanos construíram uma ponte sobre o Arar, (actual Saône), para perseguir os restantes Helvécios. Os Helvéticos enviaram uma embaixada liderada por Divico, mas as negociações falharam. Os Romanos perseguiram os Helvéticos durante umaquinzena até ficarem com problemas de abastecimentos. Aparentemente, Dumnorix estava a fazer tudo ao seu alcance para atrasar as entregas de mantimentos. Posto isto, os Romanos pararam a perseguição e dirigiram-se à cidade Eduína de Bribacte. A situação havia mudado e agora eram os Helvéticos a perseguir os Romanos, assediando a sua retaguarda. César escolheu uma elevação próxima para a batalha e as legiões Romanas ficaram frente a frente com os seus inimigos.<br /><br />Seguiu-se a Batalha de Bribacte, na qual os Romanos esmagaram os seus opositores e os Helvéticos derrotados ofereceram a sua rendição, que César aceitou. No entanto, seis mil homens do Clã dos Verbigénios fugiram para evitar a captura. Por ordem de César, outras tribos Gaulesas capturaram e entregaram esses homens, que foram executados. Como eram úteis como almofada entre os Romanos e outros invasores mais a Norte, os sobreviventes foram devolvidos às suas terras, para as reconstruir e foram organizados os mantimentos necessários para os alimentar. Foi encontrado um censo, escrito em grego, que indica que, de trezentos e sessenta e oito mil Helvéticos, apenas cento e dez mil sobreviveram e voltaram para casa.<br /><br />A seguir a esta campanha, vários aristocratas Gauleses de quase todas as tribos chegaram para felicitar César por esta sua vitória. Convocaram uma Assembleia Pan-Gálica para discutir vários assuntos e convidaram César a estar presente.<br /><br />Nessa reunião, os deputados queixaram-se de, devido à guerra entre os Eduínos e os Arvernios, numerosos mercenários Germânicos terem sido contratados pelos últimos. Estes mercenários, que eram liderados por Ariovisto, tinham trído os seus empregadores e haviam levado os filhos de vários aristocratas como reféns. Tinham ganho várias batalhas e recebido importantes reforços e a situação estava a ficar fora de controlo. César interveio no conflito e derrotou claramente Ariovisto na Batalha de Vosges, empurrando as restantes forças Germânicas para lá do Reno.<br /><br />Em 57 a.C., César voltou a intervir num conflito entre Gauleses, marchando contra os Belgas, que habitavam numa área mais ou menos idêntica à actual Bélgica e haviam atacado recentemente uma tribo aliada dos Romanos. O seu exército sofreu uma emboscada enquanto montava acampamento próximo do Rio Sambre e esteve quase a ser derrotado, mas foi salvo pela sua grande disciplina e pela intervenção pessoal de César na luta. Os Belgas sofreram pesadas baixas e eventualmente renderam-se quando foram confrontados com a destruição das suas cidades.<br /><br />No ano seguinte, César voltou a sua atenção para as tribos da frente atlântica onde os Venécios, uma tribo da Armórica (a Bretanha actual), haviam congregado uma aliança de tribos anti-Romanas. Os Venécios eram uma tribo de marinheiros e tinham construído uma frota no Golfo de Morbihan, o que obrigou os Romanos a construir Galés e levar a cabo uma invulgar campanha marítima e terrestre. Mais uma vez, César derrotou os Gauleses, destruindo as suas tribos.<br /><br />Em 55 a.C., César levou as suas tropas para lá do Reno numa expedição punitiva contra os Germanos, apesar de os Suevos, a tribo contra a qual a expedição tinha sido montada, nunca terem entrado em combate. Depois, atravessou o Canal da Mancha com duas legiões com o fim de levar a cabo uma expedição semelhante contra os Bretões. A aventura britânica quase acabou em desastre quando o mau tempo destruiu grande parte da frota e os seus soldados foram confrontados com a visão pouco familiar de uma massa de carroças. César conseguiu, no entanto, uma promessa de reféns, dos quais foram entregues apenas dois. Retirou e voltou no ano seguinte com uma força muito maior, com a qual acabou por derrotar os poderosos Catuvelanos e os forçou a pagar tributo a Roma. Estas expedições tiveram um efeito muito pouco duradouro mas foram grandes vitórias propagandísticas para César, mantendo-o no centro da atenção pública em Roma.<br /><br />As campanhas de 56 e 55 a.C. têm causado controvérsia ao longo dos séculos. Já eram controversas no tempo do próprio César entre os seus contemporâneos e, especialmente, entre os seus opositores políticos que as denegriram como um dispendioso exercício de engrandecimento pessoal. Em tempos modernos, os comentadores dividem-se entre os críticos da agenda imperialista de César e os defensores dos benefícios que a expansão do poder Romano acabaram por trazer à Gália.<br /><br />O descontentamento entre os Gauleses subjugados provocou uma grande rebelião no Inverno de 54 a.C., quando os Eburónios do Nordeste da Gália se sublevaram sob a liderança do seu líder Ambiorix. Quinze coortes Romanas foram dizimadas perto de Atuatuca e uma Legião comandada por Quinto Túlio Cícero sobreviveu por pouco, por ter sido reforçada por César mesmo à última da hora. 53 a.C. foi passado em expedições punitivas contra os Eburónios e os seus aliados, de quem se diz terem sido todos exterminados pelos Romanos.<br /><br />Esta sublevação, no entanto, foi apenas o prelúdio de uma insurreição muito maior, liderada por Vercigetórix, chefe dos Arvérnios, uma tribo da Gália Central, que conseguiu, com sucesso, unir todos os gauleses contra os Romanos. Percebendo que os Romanos tinham a vantagem no campo de batalha, porque os Gauleses haviam passado os vinte anos precedentes lutando entre si e contra inimigos exteriores, Vercingetórix recusou-se a combater directamente os Romanos, e, em vez disso, optou por uma campanha de terra queimada para os privar de mantimentos.<br /><br />César, rapidamente regressou da Itália para se encarregar da campanha, perseguindo os Gauleses e capturando a cidade de Avaricum mas sofrendo uma pesada derrota em Gergóvia. Acabou por encurralar e derrotar Vercingetórix em Alesia. Este evento marcou o fim da Guerra das Gálias, apesar de ainda terem decorrido algumas operações de limpeza durante o ano de 51 a.C. e de algumas pequenas rebeliões terem ocorrido subsequentemente, mas o controlo da Gália por parte dos Romanos não voltou a ser seriamente ameaçado até ao Séc. II d.C.. <br />O sucesso Romano na Guerra das Gálias foi devido a uma combinação de uma política inteligente, logística eficiente e maior capacidade militar que os opositores Gauleses. César seguiu uma política de “dividir para conquistar” para poder seleccionar os seus inimigos, aliando-se a tribos individuais nas suas disputas com os seus rivais locais. César recolheu sistematicamente informações sobre as tribos Gaulesas por forma a poder identificar as suas características, fraquezas e divisões, para poder eliminá-las por ordem.<br /><br />Muitos dos soldados de César eram, eles próprios, Gauleses, portanto o conflito não era uma simples guerra entre Romanos e Gauleses. O exército de César era uma entidade extremamente cosmopolita. O seu núcleo duro era constituído por seis, (mais tarde dez), legiões de infantaria pesada, apoiadas por mais duas nas campanhas posteriores. César contava com aliados estrangeiros para a sua cavalaria e infantaria ligeira, tendo recrutado Numídios, Cretenses, Hispanos, Lusitanos, Germânicos e Gauleses, tendo conseguido um uso muito eficiente destas forças, explorando o orgulho e a vaidade das unidades individuais para os conduzir a maiores esforços.<br /><br />Os opositores Gauleses de César eram consideravelmente menos capazes que os Romanos, em termos militares. Conseguiam reunir grandes exércitos mas faltava-lhes disciplina e flexibilidade. Os guerreiros Gauleses eram lutadores ferozes e eram, por isso, enormemente admirados pelos Romanos. A sua táctica consistia unicamente em carregar sobre o adversário em massa e a sua falta de coesão tornava-os incapazes de qualquer tipo de sofisticação na batalha. Também lhes faltava apoio logístico e não podiam estar em campo tanto tempo como os Romanos.<br /><br />Por outro lado, também é possível que a derrota Gaulesa tenha sido causada por gerações de guerreio contra os invasores Germânicos que só foram repelidos com grande custo humano.<br /><br />Já agora, vale a pena pensar nisso…Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-58223097011824320752007-05-02T17:13:00.000+00:002007-05-02T17:17:36.889+00:00Números, números, números... Chegámos aos 3000Escrevo hoje só para registar que chegámos às 3000 páginas vistas por 1740 visitantes individuais, cuja preferência foi para o texto sobre a "Breve História da Franco-Maçonaria" que teve 382 leitores.<br /><br />Um grande obrigado a todos pela visita.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-11177193697884885842007-05-01T15:43:00.000+00:002007-05-01T16:04:05.123+00:00O Mercador de VenezaSempre considerei que uma das maiores vantagens de escrever é que podemos falar sobre o tema que nos apetece sem ninguém nos interromper, o que, só por si, constitui um poderoso estimulante para a escrita.<br /><br />Hoje, apetece-me falar sobre uma das minhas peças de teatro preferidas: O Mercador de Veneza, de William Shakespeare. Como não podia deixar de ser, o tema, à semelhança da maior parte dos escritos shakespearianos é político, ou antes, envolve no enredo a descrição de temas que são universais e de todos os tempos, e que nos levam a reflectir profundamente sobre o significado das acções dos personagens e nos colocam em debate interno sobre a nossa atitude perante a vida e sobre a nossa posição sobre este ou aquele tema.<br /><br />Para os que não gostam de teatro ou não têm paciência para ler o texto da peça, recomendo o excepcional filme de Michael Radford, de 2004, que conta com a participação de Jeremy Irons, Al Pacino, Joseph Fiennes, Lynn Collins e Zuleikha Robinson. Garanto que no final não se sentirão confortáveis enquanto não resolverem dentro de vós os vários dilemas que a história encerra e se calharem a ver o filme acompanhados, encontrarão ali pretexto para várias horas de conversa.<br /><br />No dia do disparatado cartaz do avião que convidava os imigrantes a partir para outras paragens foi d’ O Mercador de Veneza que me lembrei, não sei porque associações neuronais e dei por mim a reler o pequeno opúsculo da Penguin Books que tenho lá por casa. The Most Excelent Tale of The Merchant of Venice, by William Shakespeare, de que hoje vos trago a sinopse e uma breve análise.<br /><br /> <br /><strong>16- O Mercador de Veneza, de William Shakespeare</strong><br /><br />Escrita possivelmente entre 1596 e 1598, O Mercador de Veneza é uma das peças mais famosas de William Shakespeare. Sendo por vezes classificada como uma comédia, (comédia, naqueles tempos, não tinha exactamente o mesmo significado que tem hoje), partilha alguns aspectos com as restantes comédias românticas de Shakespeare e é frequentemente lembrada pelas suas cenas dramáticas, principalmente a do julgamento e a do solilóquio do 3º acto. Ficou conhecida pela forma como retrata o Judeu Shylock e por ter, com isso, atraído acusações de anti-semitismo.<br /><br />O personagem que dá o título à peça é o mercador António e não o vilão que acabou por ficar mais famoso, o agiota Shylock, que é uma espécie de anti-herói da história. Apesar de Shylock ser um personagem atormentado, ele também é um atormentador, portanto, cabe à audiência decidir se o vê com desdém ou simpatia. De acordo com isto, esta peça é por vezes classificada como uma das peças problemáticas de Shakespeare.<br /><br />A peça parece ter sido influenciada ou talvez escrita em reacção à comédia negra imensamente popular de Christopher Marlowe, O Judeu de Malta, que foi escrita por volta da 1589 e revista em 1594. O personagem Shylock parece baseado no Barrabás de Marlowe, cuja filha também se apaixona por um Cristão e é convertida. No entanto, a principal fonte é “Giannetto de Veneza e a Senhora de Belmonte”, do Il Perocone de Ser Giovanni, ao qual Shakespeare adiciona a escolha de três baús e o motivo da libra de carne, que é comum no folclore britânico. Uma peça perdida chamada “O Judeu”, parece também ter sido uma influência. No tempo da escrita da peça, o Médico da Rainha Isabel, Rodrigo Lopez foi acusado de conspirar no envenenamento da rainha, tendo sido preso em Janeiro de 1594, condenado em Fevereiro e executado em Junho. Alguns historiadores e críticos literários afirmam que o julgamento de Lopez terá de alguma forma influenciado Shakespeare. Entre outras fontes que podem ter sido usadas encontra-se o Decameron de Boccacio.<br /><br /><br /><strong>Sinopse</strong><br /><br />O jovem veneziano Bassanio pretendia viajar até à ilha de Belmonte para cortejar a bela e rica herdeira Portia. Pede ao seu amigo António, um mercador, os três mil ducados necessários para sustentar os seus gastos de viagem como pretendente durante três meses. Como todos os bens de António se encontram embarcados, António dirige-se ao agiota Judeu Shylock para lhe pedir um empréstimo.<br /><br />Shylock, cheio de raiva por António, na semana anterior, o ter insultado e lhe ter cuspido por ser Judeu, propõe uma condição para o empréstimo. Se António não conseguir pagar o empréstimo até à data combinada, Shylock será livre de tirar uma libra da carne de António de qualquer parte do corpo à sua escolha. Apesar de Bassanio não querer que António aceite uma condição tão arriscada, António, surpreendido pelo que ele vê como um acto generoso do agiota, aceita e assina o contrato. Com o dinheiro na mão, Bassanio parte para Belmonte com Gratiano, outro amigo.<br /><br />Em Belmonte, Portia não tem falta de pretendentes. O seu pai, no entanto, deixou um testamento em que estipulava que cada um dos pretendentes deveria escolher correctamente um de três baús, um de ouro, outro de prata e outro de chumbo, antes de poder ter a mão de Portia em casamento. Para além disso, cada pretendente devia prometer que viveria o resto da sua vida solteiro no caso de escolher de forma errada. O pretendente que conseguisse ver para além da aparência exterior do baú, encontraria o retrato de Portia no interior do que escolhesse e ganharia a sua mão.<br /><br />Depois de dois dos pretendentes, os príncipes de Marrocos e Aragão, escolherem de forma errada, Bassanio faz a escolha correcta, a do baú de chumbo. Os outros dois contém versos que gozam com os que fizeram a escolha errada, incluindo a famosa frase “nem tudo o que brilha é ouro”.<br /><br />Em Veneza, sabe-se que todos os barcos que continham os bens de António se perderam no mar, situação que o deixa sem possibilidades de satisfazer o acordo. Depois da sua filha Jessica fugir de casa com o jovem Lorenzo e parte substancial da sua riqueza para se converter ao Cristianismo, Shylock decide vingar-se. Com a Letra do empréstimo na mão, Shylock manda prender António e levá-lo a tribunal.<br /><br />Entretanto, em Belmonte, Portia e Bassanio casam-se ao mesmo tempo que o amigo deste, Gratiano, se casa com a criada de Portia, Nerissa. Bassanio recebe uma carta contando-lhe a situação de António. Chocados, os amigos partem para Veneza imediatamente, com dinheiro de Portia para salvar a vida a António. Sem Bassanio e Gratiano saberem, Portia e Nerissa saem de Belmonte para procurar o conselho do advogado Bellario, primo de Portia, de Pádua.<br /><br />Na corte do Duque de Veneza, tem lugar o julgamento. Shylock recusa a oferta de Bassanio apesar deste aumentar o pagamento para 6000 ducados, o dobro do dinheiro emprestado. Shylock exige a libra de carne de António. O Duque, desejando salvar António mas temendo criar o perigoso precedente de anular um contrato, passa o caso a Baltasar, um jovem Doutor de Leis, que, na realidade, é Portia disfarçada, com o seu escrivão, que é Nerissa disfarçada. Portia pede a Shylock que mostre misericórdia, mas este recusa. Então o tribunal permite a Shylock a extracção da libra de carne.<br /><br />No preciso instante em que Shylock se prepara para cortar António com a sua faca, Portia aponta uma falha no contrato. A Letra apenas permite a Shylock tirar a carne, e não o sangue, de António. Se Shylock derramasse uma única gota de sangue de António ao cortar a sua carne, de acordo com as leis Venezianas, as suas terras e bens seriam confiscados.<br /><br />Derrotado, Shylock aceita o pagamento monetário do empréstimo, mas este é-lhe negado. Portia afirma que nada lhe deve ser dado e que, pela sua tentativa de tirar a vida a um cidadão, as propriedades de Shylock devem ser confiscadas, metade para o governo e a outra metade para António, e a sua vida ficará à mercê da decisão do Duque. O Duque permite-lhe sair dali com vida antes que Shylock possa rogar por ela. António fica com o usufruto de metade bens de Shylock até à sua morte, altura em que deverá entregá-los a Jessica e Lorenzo. A pedido de António, o Duque anula a confiscação da outra metade na condição de Shylock se converter ao Cristianismo e deixar o resto da sua propriedade a Lorenzo e Jessica.<br /><br />Bassanio não reconhece a sua mulher disfarçada. Oferece-se para lhe dar um presente. Primeiro ela declina, mas depois de ele insistir, ela pede-lhe o seu anel e as luvas. Entrega-lhe as luvas sem hesitação, mas só lhe dá o anel depois de muita persuasão por parte de António, pois tinha prometido à sua mulher nunca o perder, vender ou oferecê-lo.<br /><br />No final, em Belmonte, Portia e Nerissa zangam-se com os maridos antes de lhes revelarem que eram elas o advogado e o escrivão. Depois de todas as personagens fazerem as pazes, tudo acaba bem, excepto para Shylock, e António descobre que três dos seus navios não afundaram e regressaram a salvo.<br /><br /><strong>Discussão</strong><br /><br />Esta peça é potencialmente perturbadora para as audiências modernas devido aos seus temas centrais, que podem facilmente parece anti-semitas. Os críticos ainda discutem se a peça é em si anti-semita ou se é simplesmente uma peça sobre o anti-semitismo, ou se o cenário estrangeiro e a etnia dos protagonistas é um truque literário para acomodar verdades desconfortáveis.<br /><br />A sociedade inglesa na era Isabelina tem sido frequentemente descrita como anti-semita. Os judeus ingleses foram expulsos na Idade Média e só puderam regressar no consulado de Oliver Cromwell. Os judeus eram frequentemente caricaturados no teatro Isabelino com narizes aduncos e perucas vermelhas e eram frequentemente caracterizados como agiotas usurários. O exemplo mais conhecido disto foi a peça extremamente popular, de Christopher Marlowe, “O Judeu de Malta”, cujo protagonista é um judeu comicamente malvado chamado Barrabás. Os judeus eram caracterizados no palco como maus, manhosos e gananciosos.<br /><br />Na Veneza do Século XVI, os Judeus eram obrigados a usar um chapéu vermelho sempre que estivessem em público para que pudessem ser facilmente identificados. Se não cumprissem esta regra, poderiam ser condenados à morte. Os judeus também tinham que viver num gueto protegido por cristãos, supostamente para sua própria segurança. Era suposto pagarem aos guardas.<br /><br />Muitos leitores vêem a peça de Shakespeare como uma continuação desta tradição anti-semítica. Uma interpretação possível da estrutura da peça seria que Shakespeare quereria contrastar a misericórdia dos principais personagens Cristãos com a ira vingativa do Judeu, a quem falta a graça religiosa para compreender a misericórdia. Simultaneamente também é possível entender a conversão forçada de Shylock ao Cristianismo como um final feliz para o personagem, pois redime o Judeu tanto da sua descrença como do pecado específico de ter querido matar António. Esta leitura da peça caberia certamente na moda anti-semita da Inglaterra Isabelina, mas, não nos esqueçamos que existiam censores.<br /><br />A maior parte dos leitores e espectadores de teatro modernos vêem esta peça como um apelo à tolerância porque Shylock é um personagem que apela à compaixão. O julgamento de Shylock no final da peça é uma palhaçada de justiça, com Portia a agir como juiz, quando, na realidade, não tinha qualquer direito de o fazer. Assim, Shakespeare não está a pôr em causa as intenções de Shylock, mas o facto de as mesmas pessoas que acusam Shylock de ser desonesto recorrerem a truques e à desonestidade por forma a vencerem. Nesta peça aparece um dos mais eloquentes discursos jamais escritos para o teatro, e sai da boca do suposto vilão na 1ª cena do 3º Acto:<br /><br />“Não tem um Judeu olhos? Não tem um judeu mãos, órgãos,<br />dimensões, sentidos, afectos, paixões; (Não é) alimentado com a <br />mesma comida, ferido pelas mesmas armas, sujeito<br />às mesmas doenças, curado pelos mesmos meios,<br />aquecido e arrefecido pelos mesmos Invernos e Verões<br />que um Cristão? Se nos picam, não sangramos?<br />Se nos fazem cócegas, não rimos? Se nos envenenam,<br />não morremos? E se nos fazem mal, não nos vingamos?<br />Se somos como vós no resto, assemelhamo-nos a vós nisso.<br />Se um Judeu faz mal a um Cristão qual é o seu castigo?<br />Vingança. Se um Cristão faz mal a um Judeu qual deveria ser<br />o seu castigo pelo exemplo Cristão? Pois, Vingança.<br />A vilania que vocês me ensinam, eu executarei,<br />e vai ser duro mas eu hei-de superar a instrução.”<br /><br />Lendo atentamente, apesar de a peça ser aparentemente ligeira e divertida, as vidas dos personagens Cristãos estão em colapso devido ao seu comportamento imoral e desrespeito pelos seus deveres para com a religião e a lei, ao mesmo tempo, Shylock não engana, não mente, não mata nem rouba, aparentemente nem age com qualquer maldade. A promessa da libra de carne foi um acto de espontânea vontade de António. É certo que dificilmente se pode argumentar pela moralidade da imposição desta cláusula por parte de Shylock, pois ele sabe que a efectivação desta vai matar António, mas de acordo com o comportamento anterior deste, o seu desejo de vingança não só é justificado mas, num certo sentido acaba por ser moral.<br /><br />Identifica-se, por isso, não um carácter anti-semita na história, mas um ataque às hipocrisias prevalecentes na época, que efectivamente acaba por ser colocado de forma extremamente inteligente dado o contexto da censura na época. Acaba por ser difícil perceber se a leitura simpática de Shylock é devida à mudança de sensibilidade dos leitores ou se Shakespeare, que se deleitava a criar personagens extraordinariamente complexos e multi-facetados procurou deliberadamente esta leitura. Note-se que o penoso estatuto de Shylock na sociedade veneziana é enfatizado na história e que o seu discurso, “Não tem um Judeu olhos?”, praticamente o redime, transformando-o numa figura trágica. Mesmo que Shakespeare não tenha pretendido que a peça tivesse esta leitura, certamente permitiu que ela fosse feita.<br /><br />Aparece também neste Mercador de Veneza um tema lateral que não é menos moderno, relacionado com a sexualidade dos personagens António e Bassanio, que está enquadrado na matriz poética e teatral Shakespeariana que frequentemente descreve fortes laços de homosocialidade entre homens. A homossexualidade implícita na relação entre António e Bassanio é o segundo tema que grava a matriz da história. A história desta peça é uma história de amor e vingança, é a história do amor de António por Bassanio e do desejo de vingança de Shylock pelas humilhações sofridas às mãos de António. É uma história de extremos.<br /><br />António é um homem só, cuja vida emocional se encontra concentrada num personagem do mesmo sexo, aparentemente a viragem fatal na sua vida dá-se devido ao seu desespero, não só pela perda de Bassanio mas também porque Bassanio não pode retribuir os sentimentos que ele tem. O comportamento de António indicia idolatria por Bassanio, ao ponto de trocar o seu direito à vida pelo bem-estar da pessoa amada, arriscando tudo pelo outro. Quem também arrisca tudo, apesar de não se dar conta disso, é Shylock, quando, motivado pelo seu desejo de vingança coloca a cláusula fatal no contrato. Ambos parecem personificar as palavras contidas no baú de chumbo de Portia: “Aquele que me escolher, tem que me dar e arriscar tudo o que tem”.<br /><br />O terceiro tema, muito menos importante na construção do enredo é o tema da fidelidade. O casamento de Portia e Bassanio é feito na condição de ele nunca tirar a aliança. A aliança é o símbolo da fidelidade marital, que era uma obsessão na época Isabelina, uma audiência desse tempo poderia ter visto a importância da entrega do anel ao advogado, (Portia disfarçada), e tê-lo visto como um símbolo do potencial de Bassanio para a infidelidade.<br /><br />Em suma, “O Mercador de Veneza” é um texto actual escrito há quatrocentos anos, se não leu, não viu no teatro ou no cinema, vá a correr que é imperdível.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-59574909036091543342007-04-30T00:34:00.000+00:002007-04-30T00:42:36.817+00:00O Trabalho Externo da MaçonariaContinuamos hoje com a nossa série de entradas sobre a Maçonaria, expondo o trabalho externo desta associação, ou seja, como trabalham os maçons na sociedade fora das suas lojas e quais os seus objectivos e métodos. Não nos chegando aos tempos mais próximos de nós, por ser ainda cedo para fazer a história, e não perdermos a seriedade deste trabalho, faremos ainda uma visita ao que tem sido a acção e a participação da Franco-Maçonaria na evolução da sociedade humana ao longo dos tempos.<br /><br />Não nos deteremos por aqui, sendo que ainda falta uma peça deste tema, que é a que diz respeito às relações históricas da Maçonaria com Estados e Autoridades Eclesiásticas e a apresentação de algumas curiosidades finais, que é o tema que trataremos na próxima folha deste breviário e com o qual encerraremos, por agora, o tema da Maçonaria. Dedicar-nos-emos depois a outros temas, sem deixar de parte outras associações que suscitam a curiosidade do público pela sua acção oculta na sociedade.<br /><br />Até à próxima…<br /><br /><br /><strong>5.6 - O Trabalho Externo</strong><br /><br />O trabalho externo da Franco-Maçonaria, apesar de ser uniforme na sua essência e nas suas linhas gerais, varia consideravelmente de país para país. Nos países anglo-saxónicos, a acção da Maçonaria é visível sobretudo em obras de caridade e filantropia, trabalhos que são praticamente postos de parte nos países latinos, em que a Maçonaria se encontra absorvida na actividade política. No que diz respeito à caridade, mesmo na Inglaterra, país onde as maiores somas são dispendidas neste capítulo, a filantropia maçónica não parece ser inspirada em ideais elevados de generosidade e desinteresse, pelo menos no que diz respeito à maior parte dos irmãos, uma vez que aparentemente, as principais contribuições são feitas por uns poucos irmãos muito abastados. Curiosamente, na maior parte dos países, são principalmente maçons e as suas famílias os principais beneficiários desta caridade.<br /><br />A beneficência maçónica dirigida ao mundo profano aparenta ser pouco mais que figurativa, consistindo sobretudo na propagação e aplicação de princípios maçónicos através dos quais alguns maçons fingem promover o bem-estar da Humanidade. Quando, nalguns países, particularmente nos países católicos, ocasionalmente se dedicam a obras de caridade, o seu objectivo parece ser, sobretudo, ganhar alguma simpatia e, através disso, aproximarem-se dos seus verdadeiros objectivos. Na América do Norte, uma característica evidente do trabalho externo é a tendência para o exibicionismo na construção de sumptuosos templos maçónicos, procissões maçónicas e em eventos públicos diversos. Esta tendência tem sido frequentemente criticada por autores maçónicos americanos, que apelam a um regresso à simplicidade pura e bela do simbolismo da Loja e ao abandono do panache e da vaidade dos altos graus do Rito Escocês de do Templarismo, chegando a acusar muitos irmãos de terem passado pelos ritos sem qualquer brilhantismo e depois serem os que estão nas linhas da frente nas procissões e banquetes.<br /><br />Reflectindo sobre tudo o que estudámos, concluímos que os objectivos reais, tanto do trabalho interno como do externo da maçonaria são a propagação e a aplicação dos princípios maçónicos. O método maçónico original em que a Loja é o campo neutro em que homens de todas as religiões e opiniões políticas se podem encontrar, desde que respeitem os princípios maçónicos, não interferia em política partidária, antes, deixando a cada um dos membros a tarefa de aplicar os princípios maçónicos aos problemas do dia. Este método foi abertamente rejeitado pela Maçonaria dos países latinos e por muitos Conselhos Supremos do Rito Escocês Antigo e Aceite. Este método também foi, na prática, abandonado pelas maçonarias germânicas e britânicas e até pela maçonaria americana.<br /><br />Tome-se o caso da independência da União Americana, na qual as lojas maçónicas americanas tiveram um papel preponderante, as lojas dos “antigos” tomaram partido pela independência, enquanto que as dos “modernos” tomaram o lado da Grã-Bretanha, é comum encontrarem-se escritos maçónicos que reclamam cinquenta e cinco dos cinquenta e seis signatários da declaração de independência dos Estados Unidos da América como membros da Maçonaria. Historiadores aparentemente imparciais também atribuem papéis de relevo à maçonaria em casos como a Independência do Brasil, a Revolução Francesa e posteriores movimentos revolucionários em França, Espanha, Portugal, na Rússia e em toda a América Central e do Sul. No que diz respeito à Revolução Turca, parece certo que o Partido dos Jovens Turcos, que dirigiu e levou a cabo a revolução, era conduzido por maçons e que os Grandes Orientes de Itália e de França tiveram um papel preponderante na sublevação que introduziu a República na Turquia. Levando a cabo este tipo de trabalho, a Franco-Maçonaria tem propagado princípios que são essencialmente revolucionários e têm servido de base para todo o tipo de movimentos revolucionários. <br /><br />Ao instruir os maçons para que encontrem por si próprios reformas sociais conformes aos ideais maçónicos e trabalhem para a sua realização, a Maçonaria induz nos seus membros e, através deles, na sociedade, o espírito da inovação. A associação aparentemente benéfica e inofensiva que a Maçonaria pretende ser, devido ao seu secretismo e simbolismo ambíguo, tem-se transformado ao longo dos tempos no berço e abrigo de algumas conspirações. Em certas alturas, as próprias Lojas chegaram a transformar-se em clubes conspiratórios e noutras, os seus elementos foram incentivados e treinados para fundarem outras associações com esses objectivos ou para fazerem uso de instituições existentes.<br /><br />Historicamente, no Séc. XVIII, a Maçonaria preparou a Revolução Francesa. A aliança da Franco-Maçonaria à Filosofia foi publicamente selada através da iniciação solene de Voltaire a 7 de Fevereiro de 1778, e a recepção por parte deste das suas vestes maçónicas pelas mãos do famoso materialista Irmão Helvetius. Antes da revolução, várias sociedades conspiratórias surgiram ligadas à Maçonaria, da qual copiaram a sua forma e métodos, como por exemplo os Illuminati e os clubes Jacobinos. Um número relativamente grande de líderes revolucionários foram membros de Lojas maçónicas, tendo sido treinados para as suas carreiras políticas pelas suas vidas dentro das Lojas. Até o programa para a revolução, expresso nos “direitos do homem” e o seu lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, foram retirados dos princípios maçónicos. Da mesma forma, em Itália, no Séc. XIX, a Franco-Maçonaria colaborou com a Carbonária no movimento revolucionário. Quase todos os líderes proeminentes e, entre eles, Mazzini e Garibaldi, são referidos como membros da maçonaria.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-75937746127549852412007-04-29T00:57:00.000+00:002007-04-29T01:07:15.977+00:00O Trabalho da MaçonariaPassados que estão dois meses desde a última edição deste breviário, regressamos ao tema da Maçonaria, que deixámos incompleto devido à enorme extensão de texto.<br /><br />Começamos por publicar parte do texto de um e-mail que nos chegou do Seixal, que nos dá nota de um assunto de relevo, escreveu-nos este leitor, o seguinte:<br /><br />“Quero-te falar de António Augusto Louro, que é um ilustre desconhecido para a grande maioria e quanto muito para os habitantes do Seixal é nome de escola.<br />No entanto para além de outras coisas, é a ele que se deve por exemplo, a primeira comemoração do dia da árvore realizada em Portugal, evento que se realizou no Seixal, fará no próximo mês de Maio 100 anos. <br />Comemoração esta muito ligada ao ideal maçónico, bem como à época o era a instrução do povo, com a criação das escolas oficina e evento maior a proclamação da República, intimamente ligada à Associação do Registo Civil e ainda à Carbonária, à qual António Augusto Louro também pertencia. <br />Interessa ainda que Augusto Louro presidiu à instalação da Loja "Esperança de Porvir" loja fundada em 1906 no Barreiro e que manteve a sua actividade até à clandestinidade em 1935. <br />Augusto Louro fundou ainda Lojas e Triângulos na Moita e Sesimbra.”<br /><br />Pediu-nos este amigo que nos debruçássemos mais sobre este assunto e procurássemos mais informação sobre esta figura histórica do concelho do Seixal. Depois de uma breve pesquisa na Internet concluímos que esse esforço não seria necessário, uma vez que já está presente no site do Grémio Lusitano uma curta biografia de António Augusto Louro. Quem tiver mais interesse sobre este tema poderá facilmente consultar a página constante deste endereço: <a href="http://www.gremiolusitano.pt/pdf/cont81.pdf ">www.gremiolusitano.pt/pdf/cont81.pdf </a>.<br /><br />Posto isto, continuemos o assunto em causa.<br /><br /><br /><br /><strong>5.5 - O Trabalho Interno da Maçonaria: Símbolos e Votos</strong><br /> <br />“Do princípio ao fim, Maçonaria é trabalho”. O trabalho maçónico, propriamente dito, é o trabalho interno ritual e secreto através do qual os maçons são preparados para o trabalho externo. Este último, por sua vez, consiste na acção para o bem geral da humanidade de acordo com os princípios maçónicos. Recordemos os três graus da Maçonaria. Estes três graus correspondem a três rituais de passagem, que simbolizam a transformação da pedra bruta numa peça sem imperfeições. Estes rituais de passagem são, por ordem, a iniciação, a passagem e a ascensão. Os símbolos presentes nestas cerimónias, explicados de acordo com os princípios maçónicos e com as pistas verbais recebidas nos rituais e palestras, constituem o manual de instrução maçónico.<br /><br />A educação, uma vez iniciada, é complementada pela participação na vida da Loja, na qual cada maçon é encorajado a participar activamente, participando regularmente nas reuniões, beneficiando, de acordo com a sua habilidade, dos meios que a Maçonaria lhe oferece para se aperfeiçoar. Este aperfeiçoamento é feito de acordo com os ideais maçónicos, através da participação na discussão de temas maçónicos e do contributo para o bom governo da Loja, que é apresentada como um modelo para a sociedade em geral. A Loja é, supostamente, um modelo para o mundo e é proposto que os maçons tomem parte na regeneração da espécie Humana. O simbolismo da Maçonaria é a sua própria alma, sendo a sua essência, do princípio ao fim, o símbolo.<br /><br />O Maçom é treinado para considerar as instituições religiosas, políticas e sociais existentes como fases passageiras da evolução humana e para descobrir através do seu próprio trabalho as reformas a ser realizadas em favor do progresso Maçónico e os meios de as tornar realidade. O maçom é assim ensinado a ver nas doutrinas e dogmas prevalecentes concepções meramente subjectivas ou símbolos em mutação de uma verdade universal imutável que está reflectida nos ideais maçónicos.<br /><br />A enfase neste simbolismo, que não é exclusivo da Maçonaria, e que se refere a mistérios e doutrinas de todos os tempos e de todas as civilizações, tem algumas vantagens. Os símbolos, sendo adaptáveis a todos os gostos, doutrinas e opiniões, permitem atrair candidatos e fascinar os iniciados, permitindo preservar a unidade não sectária da Maçonaria apesar de profundas diferenças de religião, raça, nacionalidade e tendências individuais. Sendo símbolos que resumem o conhecimento teórico e prático de todas as eras e de todas as nações, constituem uma linguagem inteligível universalmente. A vantagem maior do uso de tanto simbolismo é que permite à Franco-Maçonaria ocultar os seus propósitos dos profanos e até daqueles que, entre os iniciados, são incapazes de apreciar esses objectivos, ou são mal intencionados e dissimulados na sua participação na vida maçónica.<br /><br />Apenas parte dos símbolos é revelada aos iniciados, que são intencionalmente enganados através de falsas interpretações. O significado dos símbolos não é desvendado de uma só vez, sendo apenas dadas pistas relativamente ao seu significado geral, devendo cada um descobrir o seu significado profundo e misterioso por si próprio. Cabe assim, a cada maçom, individualmente, descobrir o segredo da Maçonaria através da reflexão sobre os seus símbolos e da cuidada consideração de tudo o que é dito e feito no trabalho da Loja, percebendo-se então aqui a definição da Maçonaria como “uma ciência da moralidade velada na alegoria e ilustrada por símbolos”.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-86533808508159599032007-03-04T16:46:00.000+00:002007-03-09T00:13:14.980+00:00A Teoria dos Jogos e o Pensamento MágicoO tema que hoje abordamos constitui por si só um instrumento poderosíssimo de análise do comportamento dos nossos políticos e o seu conhecimento é essencial para uma correcta interpretação dos acontecimentos do dia-a-dia político. Atrevemo-nos a afirmar que a sua aplicação permite de alguma forma atingir modelos de decisão capazes de influenciar o comportamento dos outros actores no jogo da política. Hoje, vamos ver juntas a matemática e a política.<br /><br />A Teoria dos Jogos é um ramo da Matemática Aplicada à Economia que estuda situações em que os jogadores escolhem diversas acções de forma a maximizar os seus ganhos. O importante nesta teoria é que fornece a possibilidade de analisar situações sociais nas quais decisores interagem com outras mentes, com base em modelos formais, ou, por outras palavras, permite-nos desenhar esquematicamente mapas que nos permitem prever, com algum grau de probabilidade, qual vai ser a decisão de um determinado actor perante um conjunto possível de resultados.<br /><br />Esta área da ciência foi fundada por von Neuman e Morgenstern, em 1944, no seu livro “Teoria dos Jogos e Comportamento Económico”, tendo sido desenvolvida intensamente pela RAND Corporation na definição das estratégias nucleares da guerra-fria. Hoje em dia, a teoria dos jogos é usada em múltiplos campos académicos, que vão da biologia à psicologia, passando pela sociologia. Desde os anos 70, tem sido aplicada ao comportamento dos animais, incluindo o desenvolvimento das espécies através da selecção natural. Devido a jogos como o “Dilema do Prisioneiro”, no qual o egoísmo racional prejudica todos os jogadores, a teoria dos jogos tem sido usada na ciência política, na ética e na filosofia. Finalmente, esta teoria tem estado envolvida no desenvolvimento da inteligência artificial e da cibernética.<br /><br />Algumas das análises teóricas da teoria dos jogos parecem similares à teoria da decisão, no entanto, ao contrário desta última, estuda decisões efectuadas num ambiente em que há interacção com outros jogadores. Por outras palavras, a teoria dos jogos estuda a escolha do comportamento óptimo quando os custos e os benefícios de uma escolha dependem das escolhas de outros indivíduos.<br /><br />A aplicação da teoria dos jogos à ciência política levou ao desenvolvimento de modelos teóricos em que os jogadores são os eleitores, estados, grupos de interesses e políticos. Um exemplo interessante desta aplicação é o trabalho de Downs, “Uma Teoria Económica da Democracia”, de 1957, em que o autor demonstra como os políticos candidatos convergem para a ideologia preferida pelo eleitor médio. <br /><br />Uma explicação que esta teoria avança para a paz democrática é que o debate público e aberto nas democracias envia informação clara e fiável relativamente às intenções aos outros estados. Em contrastem é difícil saber as intenções de líderes não democráticos, que efeito terão algumas concessões e se as promessas serão cumpridas. Assim, haverá desconfiança e pouca vontade de fazer concessões se pelo menos uma das partes numa disputa for uma não-democracia.<br /><br />Os economistas têm usado a teoria dos jogos para analisar uma vasta gama de fenómenos económicos, incluindo leilões, negociações, duopólios, justa divisão, oligopólios, formação de redes sociais e sistemas de votação. Estas análises focam principalmente conjuntos de estratégias geralmente conhecidos como jogos de equilíbrio. O mais famoso destes equilíbrios é o de Nash, um teórico dos jogos galardoado com o prémio Nobel, sobre quem foi feito o filme biográfico “Uma Mente Brilhante”. Um conjunto de estratégias é um equilíbrio de Nash se cada uma delas representa a melhor resposta possível a cada uma das outras estratégias. Assim, se todos os jogadores estiverem a jogar as estratégias de um equilíbrio de Nash, não têm qualquer incentivo para as alterar uma vez que as suas estratégias representam o melhor que podem fazer relativamente ao que os outros estão a fazer.<br /><br />O que veremos a seguir é o exemplo mais citado da teoria dos jogos, o “Dilema do Prisioneiro”, a sua simplicidade faz com que qualquer um de nós consiga perceber a importância de estudar esta teoria mais aprofundadamente e ficar a conhecer, ainda que superficialmente, a forma como funciona a sua aplicação na análise dos processos de decisão.<br /><br /><br /><strong>15- O Dilema do Prisioneiro</strong><br /><br />Na Teoria dos Jogos, o Dilema do Prisioneiro é um jogo em que dois jogadores podem, alternativamente, cooperar com, ou trair, o outro. Neste jogo, como em toda a Teoria dos Jogos, a única preocupação de cada jogador é maximizar os seus próprios ganhos, sem qualquer preocupação com os ganhos do outro jogador. Neste jogo clássico, a cooperação é estritamente dominada pela traição, pois o único equilíbrio possível para o jogo reside em ambos os jogadores se traírem mutuamente. Posto noutros termos: o que quer que um dos jogadores faça, o outro vai sempre obter um ganho superior se o trair. Como em qualquer situação trair é mais benéfico que cooperar, todos os jogadores racionais vão trair.<br /><br />O único equilíbrio neste jogo é uma solução sub-óptima, isto é, a escolha racional vai levar ambos os jogadores à traição apesar da sua recompensa ser maior no caso de ambos cooperarem. No equilíbrio, ambos os jogadores vão escolher a traição apesar de ambos ficarem bem melhor se cooperarem, daí o dilema.<br /><br />No Dilema do Prisioneiro Iterado, o jogo é efectuado repetidamente, assim, cada jogador tem a possibilidade de punir o outro pela sua traição no jogo anterior, e ai a cooperação pode surgir como um resultado de equilíbrio. O incentivo para trair é ultrapassado pela ameaça do castigo levando a um possível resultado de cooperação.<br /><br />O Dilema do Prisioneiro foi formulado originalmente por Flood e Dresher enquanto trabalhavam para a RAND, em 1950. Albert Tucker formalizou o jogo com as penas de prisão e deu-lhe o nome. O Dilema do Prisioneiro é o seguinte:<br /><br />Dois suspeitos, A e B, são presos. A polícia não tem provas suficientes para os condenar e, tendo separado os prisioneiros, visita cada um deles para lhes fazer a mesma proposta: Se um testemunha contra o outro e o outro ficar calado, o traidor sai em liberdade enquanto o cúmplice leva 10 anos de prisão. Se ambos ficarem calados, ambos serão sentenciados com apenas 6 meses de prisão. Se ambos se traírem mutuamente, ambos levarão uma pena de dois anos de prisão. Cada prisioneiro deve escolher trair o outro ou ficar calado, no entanto, nenhum deles sabe ao certo o que o outro prisioneiro fará. Este dilema impõe a questão: como deverão agir os prisioneiros?<br /><br />O dilema surge quando se assume que qualquer um dos prisioneiros apenas se preocupa em minimizar os seus próprios tempos de prisão. Cada prisioneiro tem duas opções: cooperar com o seu cúmplice e ficar calado ou trair o seu pacto implícito em troca de uma pena mais leve. O resultado de cada escolha depende da escolha do cúmplice mas cada um deve decidir sem saber o que o outro escolheu fazer.<br /><br />Vamos então presumir que o nosso protagonista está a tentar racionalizar a sua melhor escolha. Se o seu parceiro ficar calado a sua melhor escolha é traí-lo pois sairá em liberdade em vez de apanhar uma pena menor. Se o seu parceiro o trair, a sua melhor escolha ainda é a traição pois ainda assim, apanhará uma pena muito mais leve que se ficar calado. Ao mesmo tempo, conclui que o outro prisioneiro terá chegado ao mesmo raciocínio e que, portanto, o irá trair.<br /><br />Se isto fosse racionalizado do ponto de vista do resultado óptimo para o grupo (dos dois prisioneiros), a escolha correcta seria cada um deles cooperar com o outro, pois isso iria reduzir o tempo total de prisão do grupo a um ano. Qualquer outra decisão seria pior para os dois prisioneiros considerados como um conjunto. Quando os prisioneiros se traem mutuamente, cada um deles obtém um resultado pior do que se tivessem cooperado.<br /><br />O exemplo deste jogo parece limitado, mas há, de facto, muitos exemplos na vida real que obedecem à mesma matriz. Na ciência política, por exemplo, este cenário é frequentemente usado para ilustrar o problema de dois estados envolvidos numa corrida ao armamento. Ambos chegarão à conclusão de que têm duas opções, ou aumentar o arsenal ou fazer um acordo para redução do armamento. Nenhum dos estados pode estar certo de que o outro irá cumprir o acordo, portanto, ambos se inclinam para a expansão militar. O paradoxo é que ambos os estados estão a agir racionalmente mas a produzir um resultado aparentemente irracional.<br /><br />Outro exemplo diz respeito a um conceito bem conhecido das corridas de bicicleta. Considerem-se dois ciclistas que têm o pelotão a uma grande distância atrás deles. Estes dois ciclistas frequentemente trabalham juntos, partilhando o esforço da primeira posição, que não tem abrigo do vento. Se nenhum destes ciclistas fizer um esforço para ficar à frente, o pelotão irá apanhá-los (mútua traição). O cenário mais frequentemente visto é o de um destes ciclistas a fazer o trabalho pesado sozinho (cooperando), com o outro a sair do seu cone de protecção do vento nos últimos metros para ganhar a corrida (traindo).<br /><br />Enfim, muitos exemplos mais poderíamos aqui expor, que retirados do nosso dia a dia seriam espelhados de forma interessantíssima neste jogo, que, estou certo, alguns leitores não deixarão de usar para definir algumas das situações que conhecem na política, no desporto, no trânsito, no trabalho ou nas mais variadas situações. A este método de raciocínio puro, em que as acções são simultâneas e não há forma de as decisões de um jogador terem efeito nas estratégias do outro, chama-se o “Pensamento Mágico”.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-2021478457680796222007-03-01T19:52:00.000+00:002007-03-01T19:54:55.732+00:00Guerra AbsolutaTemos hoje mais um termo que se pode integrar no tema da estratégia dentro do nosso breviário. O conceito de “guerra absoluta” foi objecto de teorização por parte de um dos mais citados autores da área da estratégia militar, Carl von Clausewitz, que chegou a General na Prússia do início do Séc.XIX e será oportunamente alvo de uma das nossas breves biografias. Do seu livro inacabado “Vom kriege”, ou “Da guerra”, vão nascer uma série de importantíssimas entradas do nosso breviário, por estarem relacionadas com o essencial do que se deve saber sobre estratégia no nosso tempo. A estratégia militar é usada efectivamente nas relações políticas, económicas e sociais, deve, por isso, ser por nós considerada com a maior das atenções.<br /><br />A criação do conceito de “Guerra Total” durante a I Grande Guerra levou a que muita gente confundisse este termo com a “Guerra Absoluta” de Clausewitz, levando às habituais confusões originadas pela utilização indiscriminada dos dois termos para significar uma mesma coisa. Ora, a “Guerra Total” é essencialmente uma guerra em que a frente doméstica é mobilizada a uma escala maciça com o objectivo de apoiar, continuar e expandir o esforço de guerra, sendo caracterizada pelo envolvimento da infra-estrutura civil e dos próprios civis na logística militar. Por outro lado, a “Guerra Absoluta” é uma guerra que atinge o seu extremo natural, quando está livre dos efeitos moderadores que lhe são impostos pela política ou pela sociedade. Como as guerras não se podem conduzir a si mesmas e carecem da política e das sociedades para existir, Clausewitz teorizou a impossibilidade da “Guerra Absoluta” por ser não poder evitar estas influências.<br /><br /><br /><strong>15- Guerra Absoluta, de acordo com Clausewitz</strong><br /><br />O conceito de “Guerra Absoluta” foi uma construção filosófica do teórico militar Carl von Clausewitz e aparece na primeira metade do seu livro “Da Guerra”. Depois de desenvolver este conceito, Clausewitz explica que a guerra absoluta é impossível porque é dirigida pela política e pela sociedade, à guerra influenciada por estas influências adicionais, ele chama a “Guerra Real”.<br /><br />Na sua explicação do conceito de guerra absoluta, Clausewitz definiu a guerra como “um acto de violência com a intenção de forçar o nosso oponente a fazer a nossa vontade”. Para ele, a guerra, em si, não tem inerentemente nenhum aspecto moral ou político. De facto, essas condições, como por exemplo as leis da guerra, são-lhe impostas por quem luta nela e existem porque a inteligência das nações nela envolvidas exerce mais influência nos métodos usados para fazer a guerra que a sua hostilidade instintiva.<br /><br />A guerra absoluta é, então um acto de violência sem compromisso, através do qual os estados lutam até atingir os extremos naturais da guerra. É uma guerra sem padrões de moderação política ou moral. Na sua obra, Clausewitz explica que a guerra absoluta é composta por três factores, denominados “As Três Acções Recíprocas”, são eles: um uso maximizado da força; o objectivo de desarmar o inimigo; e um esgotamento maximizado dos poderes do oponente.<br /><br />Clausewitz afirma que “quem usar a força indiscriminadamente, sem se preocupar com o sangue derramado, deve obter a superioridade se o seu adversário for menos vigoroso na aplicação da força”. Assim, a guerra na sua forma mais natural implicaria que cada estado fizesse continuamente um uso da força recíproco ao do adversário, acrescendo alguma por forma a manter a superioridade até que ambos estivessem a usar a violência até ao máximo da sua extensão. Esta é a primeira acção recíproca e leva ao primeiro extremo da guerra.<br /><br />De acordo com o mesmo autor, o propósito da guerra é fazer o nosso oponente vergar-se à nossa vontade. No entanto, é óbvio que o nosso adversário não fará isso até que essa seja a menos opressiva das suas opções disponíveis. Então, de maneira a atingir o objectivo final da guerra, um estado deve colocar o seu inimigo numa posição que é mais opressiva para ele que a sua submissão. Adicionalmente, essa posição não deve ser temporária nem aparentar sê-lo, porque então, o inimigo vai simplesmente adiar a solução, esperando encontrar-se numa posição mais vantajosa num ponto qualquer do futuro. Qualquer mudança nessa atitude seria uma mudança para pior, portanto, de forma a atingir a posição desejada, um estado deve desarmar totalmente o seu inimigo, forçando-o a uma posição na qual ele não possa resistir. Como uma guerra envolve pelo menos dois estados, este princípio aplica-se a ambos e então torna-se a segunda acção recíproca, tentando ambos impor essa posição, um ao outro. <br /><br />A terceira acção recíproca diz que se um estado deseja derrotar o seu inimigo, deve proporcionar os seus esforços ao poder de resistência desse adversário, De acordo com Clausewitz, o uso do poder envolve dois factores: o primeiro é a força dos meios disponíveis, que é mensurável porque depende sobretudo dos números; o segundo factor é a força da vontade, que não pode ser medida com exactidão, apenas estimada, por ser intangível. Uma vez que um estado tenha obtido uma estimativa aproximada da capacidade de resistência do inimigo, deve rever os seus próprios meios e ajustá-los, incrementando-os proporcionalmente de forma a obter alguma vantagem. Como o inimigo também vai estar a fazer a mesma coisa, isto também se torna uma acção recíproca e cria uma pressão em direcção a um extremo.<br /><br />Não é possível considerar a colocação de um estado em posição conducente a um conflito sem avaliar previamente estes três factores e pesar cuidadamente se existem condições para vencer um inimigo num cenário de guerra absoluta.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-63876400162811349302007-02-26T01:21:00.000+00:002007-02-26T01:44:44.182+00:00Os primeiros 1000 cliques!Ena pá!<br /><br />Tivémos 1000 cliques em pouco mais de um mês. É obra para um blog que só trata de assuntos chatos e que tem textos grandes que se fartam.<br /><br />Agradecemos a todos os que nos têm visitado e, naturalmente, agradecemos que comentem e partilhem a vossa opinião sobre os temas expostos. Não é vergonha nenhuma comentar e eu garanto que a moderação dos comentários só serve para evitar as parvoíces do costume.<br /><br />Também agradeço a todos os que, ao invés de comentarem o blog, me têm enviado mails a incentivar a continuação do trabalho e a dar toda a espécie de contributos e sugestões que me têm permitido melhorar a satisfação dos leitores.<br /><br />Agradeço em particular a uma certa senhora da Nova Zelândia que me fez preocupar com a qualidade da ortografia e da pontuação, o que é difícil, por vezes, ao escrever directamente no teclado e à velocidade que se percebe. Se não temos um português melhor é mais por falta de tempo para as revisões que por outra razão, mas prometo que o livro que daqui irá surgir virá muito mais refinado na qualidade linguística.<br /><br />1000 já cá cantam, vamos ver quanto tempo demoramos a chegar aos 10000.<br /><br />Um abraço a todos,<br /><br />Pedro EstadãoPedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-90941502542985446172007-02-26T00:28:00.000+00:002007-02-26T00:41:24.659+00:00A peça do escocês"So foul and fair a day I have not seen" (Primeira fala de Macbeth na peça de Shakespeare)<br /><br />Os actores e outros trabalhadores do teatro, geralmente consideram má sorte mencionar Macbeth pelo nome dentro do teatro, a superstição leva-os a referirem-se a esta peça como “o escocês”, ou “o rei escocês”.<br /><br />Diz-se que esta superstição tem origem na utilização por Shakespeare de textos de feitiços de bruxas verdadeiras na escrita desta peça, diz-se que as bruxas se zangaram e amaldiçoaram a peça. Assim, diz-se que mencionar o nome do escocês dentro do teatro condena a produção ao fracasso e provavelmente vai provocar aos membros do elenco, danos físicos ou pior. Esta mitologia foi-se cimentando com o tempo através de inumeráveis histórias de acidentes, infortúnios e até mortes que ocorreram misteriosamente durante representações de “Macbeth”.<br /><br />Macbeth é uma das mais famosas peças de William Shakespeare e também é a sua tragédia mais curta. Tendo sido baseada no relato histórico da vida do Rei Macbeth da Escócia, esta peça é vista como um conto arquetípico dos perigos da luxúria do poder e da traição dos amigos. Macbeth é uma história de poder, traição e infortúnio, merece por isso a nossa atenção neste breviário.<br /><br />14- Macbeth, de William Shakespeare<br /><br />A maior parte dos historiadores data a escrita de Macbeth entre 1603 e 1606, o primeiro registo de uma apresentação pública data de Abril de 1611, no teatro Globe, de Londres. O texto foi revisto posteriormente por Thomas Middleton, que lhe introduziu passagens da sua própria peça “A Bruxa”, das quais se destaca uma cena adicional, envolvendo as bruxas e Hecate, porque esta cena demonstrou ser extraordinariamente popular junto do público.<br /><br />A peça abre com trovões e relâmpagos, com as três bruxas a decidir que o seu próximo encontro será com um tal Macbeth. Na cena seguinte, um soldado ferido conta ao Rei Duncan da Escócia que os seus Generais Macbeth e Banquo acabavam de derrotar uma invasão das forças aliadas da Irlanda e da Noruega, lideradas pelo rebelde Macdonwald.<br /><br />Quando Macbeth e Banquo entram numa clareira, as três bruxas recebem-nos com profecias. A primeira saúda Macbeth como Senhor de Cawdor, a segunda, saúda-o como Senhor de Glamis, a terceira proclama que ele “será Rei daqui em diante”. As bruxas também informam Banquo de que ele será progenitor de uma linhagem real. Enquanto os dois homens se interrogam sobre estas profecias, as bruxas desaparecem. Outro nobre, Ross, um mensageiro do Rei, chega e informa Macbeth do seu novo título, Senhor de Cawdor. Essa profecia é então cumprida, imediatamente. Em sequência, Macbeth começa a alimentar a ambição de se tornar Rei.<br /><br />Macbeth escreve então à sua mulher a contar-lhe as profecias das bruxas. Quando Duncan decide ficar no castelo de Macbeth em Inverness, Lady Macbeth congemina um plano para o assassinar e assegurar o trono para o seu marido. Enquanto Macbeth levanta questões acerca do regicídio, a sua esposa acaba por conseguir persuadi-lo.<br /><br />Durante a noite, Macbeth mata Duncan e a sua esposa arranja forma de tramar os criados adormecidos do Rei, colocando adagas ensanguentadas nos seus cintos. Na manhã seguinte, Lennox, um nobre escocês e Macduff, o Senhor de Fife, chegam ao castelo. Abrem-se os portões e Macbeth condu-los ao quarto do Rei, onde Macduff descobre o cadáver de Duncan. Num fingido ataque de fúria. Macbeth mata os criados do Rei antes que eles se possam reclamar inocentes. Macduff suspeita imediatamente de Macbeth. Os filhos de Duncan, temendo pelas suas vidas fogem, Malcolm para Inglaterra e o seu irmão Donalbain para a Irlanda. A fuga dos herdeiros legítimos torna-os imediatamente suspeitos e Macbeth assume o trono como novo Rei da Escócia, pelo seu parentesco com o falecido.<br /><br />Apesar do seu sucesso, Macbeth continua desconfortável com a profecia de que Banquo seria progenitor de reis. Macbeth convida Banquo para um banquete real e descobre que Banquo e o seu filho Fleance viajariam juntos nessa noite, e contrata três homens para os matar. Apesar de terem conseguido matar Banquo, Fleance consegue fugir. No banquete o fantasma de Banquo entra e senta-se no lugar de Macbeth.<br /><br />Perturbado com este acontecimento, Macbeth procura as bruxas. Elas conjuram três espíritos que lhe dizem para ter cuidado com Macduff, mas também que ninguém nascido de mulher fará mal a Macbeth e que ele nunca será vencido até que a madeira da grande floresta de Birnam e a alta montanha de Dusinane se voltem contra ele. Como Macduff está no exílio, Macbeth massacra toda a gente no castelo de Macduff, incluindo a sua mulher e os seus filhos.<br /><br />Eventualmente, Lady Macbeth enche-se de remorsos pelos crimes que ela e o marido cometeram. Numa cena famosa, vagueia sonâmbula e tenta lavar manchas de sangue imaginárias das suas mãos.<br /><br />Entretanto, em Inglaterra, Malcolm e Macduff planeiam a invasão da Escócia. Malcolm lidera um exército conjuntamente com Macduff e Siward, Conde de Northumbria contra o castelo de Dusinane. Enquanto estão acampados na montanha da Birnam, ordenam aos soldados que cortem troncos de árvore e os usem para camuflar os seus números, cumprindo assim a segunda profecia. Entretanto, Macbeth sabe da morte da sua mulher e profere um solilóquio famoso “amanhã, e amanhã e amanhã”. A peça não refere a causa da morte, presume-se que tenha sido suicídio.<br /><br />Segue-se a batalha, que culmina com a chacina do jovem Siward e o confronto de Macduff com Macbeth. Macbeth gaba-se se não ter razões para temer Macduff, por não poder ser morto por nenhum homem nascido de uma mulher. Macduff declara que foi arrancado do ventre de sua mãe antes do tempo, e que portanto, não foi nascido de mulher. Tarde demais, Macbeth apercebe-se de que as bruxas o haviam enganado. Segue-se uma luta, com Macduff a decapitar Macbeth fora do palco, cumprindo assim a última das profecias.<br /><br />Na cena final, Malcolm é coroado, legitimamente, como Rei da Escócia, sugerindo que a paz havia sido restaurada. A profecia acerca de Banquo não se concretiza na peça, no entanto, era um facto conhecido do público no tempo de Shakespeare que esse era um facto verdadeiro, pois Jaime I de Inglaterra era supostamente descendente de Banquo.<br /> <br />Da análise da peça, extraem-se conclusões interessantíssimas, a primeira prende-se com a traição. Macbeth torna-se Senhor de Cawdor apenas após o titular anterior se haver rebelado contra o Rei, continuando assim uma tradição de traição entre os poderosos. A peça desenvolve-se em torno do conceito de a ambição ser um agente corruptor da moral. Durante a peça, as personagens têm várias visões, o que reforça a tese da peça de que a traição corrompe a mente. A ambiguidade moral de que o personagem principal parte, transforma-se num mal crescente ao longo da peça. Ao princípio Macbeth está relutante em cometer o assassínio, mas, com o avançar da história, cada vez se torna mais fácil, no ponto de viragem da peça, Macbeth decide que é tão fácil continuar a matar como seria arrepender-se.<br /><br />É uma peça para ver ou ler e depois reflectir, a não perder para os que se preocupam com os dilemas morais que confrontam quem tem a tarefa de usar o poder.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-42388589282579161492007-02-24T21:11:00.000+00:002007-02-24T21:21:23.682+00:00Autoridade ou Poder?Hoje trago-vos um simples apontamento que se enquadra no tema da Liderança. Uma pequena explanação da diferença entre autoridade e poder e consequências desta diferença, que parece subtil mas, uma vez percebida, abre todo um novo mundo de possibilidades à acção do político. Até breve.<br /><br /><strong>14- Autoridade e Poder</strong><br /><br />Há uma diferença essencial entre os conceitos de autoridade e poder, é que o poder é factual enquanto que a autoridade é relativa, todos temos um certo grau de autoridade, que podemos exercer, enquanto que o poder é exclusivo de quem tenha uma determinada posição. O poder é capacidade de fazer, enquanto que autoridade é capacidade de fazer crescer. De facto, a autoridade é a capacidade de autor e o autor é aquele que faz crescer, defende-se que a autoridade é o valor que se reconhece a uma pessoa que é capaz de nos fazer crescer num dado aspecto, um exemplo deste conceito é fácil de apresentar: Um professor de uma qualquer disciplina é, para nós, uma autoridade nessa área enquanto nos possa ensinar algo, depois disso, deixamos de lhe reconhecer autoridade.<br /><br />A autoridade tem de ser reconhecida pelo outro, enquanto o poder, não. Autoridade e poder não são sinónimos. Autoridade vem do Latim “autoritas”, que se traduz livremente como “capacidade de autor”. Poder tem origem no latim “potestas”. Em política, “autoridade” é frequentemente confundida com “poder”, no direito Romano, “auctoritas” é usado em oposição a “potestas” ou a “imperium”. Um Senador, na política romana, não era um magistrado, (vide o nosso artigo, publicado anteriormente sobre a política romana), trabalhava somente ao nível da influência pessoal, detendo autoridade sem deter poder. O significado de “autoridade” difere do significado de poder, por este último significar a capacidade de atingir certos fins e a primeira, a legitimidade, justificação e o direito de os atingir. Temos, neste caso o exemplo de Mohandas Ghandi, que nunca teve qualquer espécie de poder, no entanto, a demonstração da sua autoridade moral e política era de tal forma elevada que levou 800 milhões de indianos a seguirem incontestavelmente a sua liderança.<br /><br />Paradoxalmente, costumamos referir-nos aos polícias como agentes da autoridade, o que, de facto, não são, o que são é agentes do poder, tornam-se agentes de autoridade somente quando são capazes de nos fazer perceber, por meio da sua autoridade pessoal e não pelo poder que lhes está conferido, que certa ou determinada atitude ou acção não é moralmente correcta. O poder está ligado à Lei e a autoridade está ligada à legitimidade. Um agente de polícia nunca pode abusar da autoridade, somente pode abusar do poder.<br /><br />Max Webber, na sua obra “Conceitos Básicos de Sociologia”, afirma, “Por poder entende-se cada oportunidade ou possibilidade existente numa relação social que permite a um indivíduo cumprir a sua própria vontade”.<br /><br />Grande parte do debate sociológico recente sobre o “poder”, gira em torno do problema de definir a sua natureza como permissiva ou restritiva. Nestes termos, o “poder” pode ser visto como um conjunto de maneiras de restringir a acção humana, mas também como aquilo que permite que a acção seja possível, pelo menos dentro de uma certa medida. Grande parte desta discussão está relacionada com os trabalhos de Foucault que, na sequência de Maquiavel, vê o “poder” como “uma complexa situação estratégica numa determinada sociedade”. Sendo meramente estrutural, o conceito de Foucault engloba tanto as características restritivas como as permissivas.<br /><br />A imposição não requer necessariamente da coacção (força ou ameaça de força). Assim, o “poder”, no sentido sociológico, inclui tanto o poder físico como o poder político, a par de muitos outros tipos de poder existentes.<br /><br />Poder-se-ia definir o “poder” como a maior ou menor capacidade unilateral (real ou percebida) ou potencial de produzir mudanças significativas, tipicamente, sobre as vidas de outras pessoas, através das acções realizadas pelo próprio ou através de terceiros.<br /><br />A utilização do poder com base numa interpretação evolucionista aplicada aos indivíduos está relacionada com a finalidade de permitir a uma pessoa desenvolver-se até ao mais elevado nível de conforto que possa alcançar dentro da sua esfera social.<br /><br />Depois de percebermos isto, acrescenta-se que o poder está relacionado com o verbo ter, ou se tem ou não se tem poder. A autoridade está relacionada com o verbo ser, ou se é ou não se é uma autoridade. Apesar do exercício do poder ser endémico nas comunidades humanas, é efectivamente a autoridade que provoca as mudanças, pois trabalha ao nível do ser e não ao nível do ter, o que se tem, pode ser retirado, enquanto que o que se é, apenas pode ser transformado. Afirma-se, por isso, que a liderança exercida no campo da autoridade é sempre melhor recebida que quando é exercida no campo do poder, e isso faz toda a diferença quando o papel do líder é entendido com um objectivo de transformação da realidade.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-40015072660878364712007-02-16T01:43:00.000+00:002007-02-16T15:49:27.612+00:00O Príncipe, de Nicolau MaquiavelHoje, apresentaremos aos nossos leitores “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel, que é provavelmente a obra mais citada nas análises políticas desde o Séc. XVI, quando foi pela primeira vez impressa. Até à publicação desta obra, os governantes da Europa Ocidental justificavam as suas acções citando Erasmo de Roterdão, a “Bíblia”, ou algum dos autores clássicos como Platão, Aristóteles ou Séneca. A partir de Maquiavel, as coisas nunca mais foram iguais. O pequeno funcionário público de Florença acabou por passar para o papel a justificação teórica para um novo mundo no que diz respeito às acções dos governantes e daqueles que aspiram à governação dos estados.<br /><br />Por se ter baseado nas práticas políticas e diplomáticas da Itália do seu tempo, dividida em dezenas de territórios independentes em que tudo valia para ascender à governação e toda a espécie de indivíduos sem escrúpulos vagueava de corte em corte à espera da sua oportunidade para participar num dos inúmeros esquemas e conspirações que se efectuavam de tempos a tempos, Maquiavel acabou por dar corpo a uma teoria política nova, ao analisar os actos dos governantes do seu tempo à luz do conhecimento que tinha da política romana da antiguidade. Com isto, introduziu o empirismo na política e fundou, talvez sem intenção, a Filosofia Política.<br /><br />O livro a que chamou “De princitatibus” (Dos Principados), é hoje em dia conhecido como “O Príncipe” e defende a tese de que há um comportamento próprio para quem quer exercer o poder de forma duradoura, essa teoria tem vencido as eras e foi, ao longo dos tempos aplicado a tudo, desde a gestão dos estados, à direcção de empresas, passando pela luta política dentro dos partidos. Vale a pena conhecer a fundo pois há mesmo quem pratique esta teoria. Maquiavel justificou o governo pela força em vez da lei e “O Príncipe” parece justificar todas as acções usadas para perpetuar o poder. É um estudo clássico do poder, como o usar, expandi-lo e usá-lo com o máximo de efeito.<br /><br />Preparem-se, que o texto de hoje é longo. Apresento-vos “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel.<br /><br /><br />13 – O Príncipe, de Nicolau Maquiavel<br /><br />“O Príncipe” é um livro escrito por Nicolau Maquiavel, em 1512, cuja primeira edição foi publicada cinco anos após a sua morte, em 1532. É, nada mais, nada menos, que um manual de conduta para governantes, do género do Institutio Principis Christiani de Erasmo, onde se descreve a forma de conduzir os assuntos internos e externos, e, na parte mais importante, como conquistar e manter um principado. Com este texto, Maquiavel deixa de lado o tema da República, que aprofundou nos “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, para se dedicar a uma tese que pretenderia propor a monarquia como solução para a unificação da Itália, que à época estava dividida em dezenas de principados e cidades-estado.<br /><br />O “pequeno opúsculo”, como Maquiavel o descreveu, é composto por uma dedicatória a Lourenço II de Médici, seguida de vinte e seis capítulos. Em “O Príncipe”, Maquiavel teoriza como ideal um principado absoluto, no entanto, o autor havia sido formado na escola republicana e o seu modelo era a República Romana, exaltada por si nos “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, que constitui uma ode à participação directa do povo no governo. Alguns analistas sustentam a hipótese de “O Príncipe” ter sido uma espécie de manual da preversidade da tirania. O debate sobre esta questão está em aberto, contra a hipótese de que Maquiavel não teria passado de um mero oportunista, estando disposto até a aceitar a ideia do absolutismo para conseguir uma posição política de relevo, sugerindo que o seu príncipe se tornaria um modelo universal de chefe de estado, fosse qual fosse a sua forma de governo, em Monarquia ou numa República. Ultimamente, tem sido prioposto que a sua vontade de escrever “O Príncipe” terá surgido do agravar da situação em Itália no final do Séc. XV. Nessa época, a Itália encontrava-se emersa em lutas internas pelo poder. Maquiavel pode ter escrito o seu tratado com o objectivo de incitar os príncipados Italianos a tomar as rédeas da situação, crendo que a única solução para resolver o problema, naquele momento, fosse a instituição de um poder do tipo monárquico.<br /><br />O estilo literário é o típico de Maquiavel, sendo tão concreto quanto deve ser para fornecer um modelo imediatamente aplicável, não estando presentes grandes ornamentações retóricas, no entanto faz um uso maciço de parábolas, alegorias e metáforas para sublinhar a exactidão das suas propostas. As referências a acontecimentos da sua época são numerosas, dizendo respeito, sobretudo ao reino de França, mas também aparecem referências à antiguidade clássica, referindo-se ao Império Persa de Ciro, a Alexandre da Macedónia, às polis gregas e à história de Roma. Maquiavel constrói o seu modelo observando a realidade, ou, dito de outra forma, a realidade factual. O léxico não é erudito, trata-se antes de um nível discurso muito acessível, quase básico, como que a acentuar a intenção do autor de tornar este texto acessível a todos. Todo o escrito é caracterizado por um léxico conotativo e uma forte expressividade, excluindo a dedicatória e o último capítulo que estão num estilo diferente da parte principal da obra. A característica principal deste texto é a demonstração de teorias baseadas sobre hipóteses. Apresentando duas hipóteses, Maquiavel resolve rapidamente a primeira para depois se deter longamente na segunda, demonstrando-a, o que dá a esta obra um carácter científico. Os títulos dos capítulos, no original, estão todos em latim, com a correspondente tradução para italiano feita pelo próprio Maquiavel, o que se explica por, na sua época, a titulação em latim ser essencial para conferir dignidade e prestígio ao texto.<br /><br />Com este texto, Maquiavel pretende demonstrar que os objectivos de conservar e potenciar o poder do estado justificam todas as acções do Príncipe (princeps, ou primeiro cidadão), mesmo que este vá contra as leis da moral. A censura jesuítica sintetizou esta intenção com uma expressão que perdura até hoje: “os fins justificam os meios”. No entanto, Maquiavel afirma que tal comportamento só é válido com o fim de conseguir a salvação do Estado, o qual, se necessário, deve estar à frente das convicções e da ética pessoal do príncipe, pois o padrão não deve ser o da sua pessoa, mas o do servidor do estado. Modernamente, e num exemplo português, podemos distinguir esse tipo de comportamento na acção dos Presidentes da República (que são princeps de facto), que frequentemente colocam os interesses nacionais à frente dos seus interesses ou convicções pessoais. <br /><br />O discurso de abertura d’O Príncipe define métodos efectivos de governo para diferentes tipos de principados, posto isto, o autor dedica-se a descrever o príncipe perfeito. As qualidades que Maquiavel atribui ao príncipe ideal são nos dia de hoje citadas em inúmeros cursos de Liderança, constituindo a base de muitas teorias nessa área do conhecimento, tendo sido baseadas nas figuras de César Bórgia e, provavelmente, D. João II, de Portugal. De acordo com este autor, um príncipe, ou nos tempos modernos, um líder, deve ter a disponibilidade para imitar o comportamento dos grandes homens, no caso vertente, os da Roma antiga, deve ter a capacidade de mostrar a necessidade de um governo para o bem do povo, deve dominar a arte da guerra por forma a garantir a sobrevivência do Estado, deve ser capaz de compreender que o mal estimulado pode ser essencial para manter a estabilidade e o poder, deve ser prudente, deve ter a inteligência de procurar conselhos sempre que necessário, deve ter a capacidade de ser um grande simulador e ser dissimulado, e, finalmente, deve conseguir controlar a sorte através da sua virtude.<br /><br />De acordo com Maquiavel, a natureza humana é imutavelmente má. Sendo os homens maus, a paz não é eficaz porque significa a inexistência de armas, portanto só existem dois dissuasores da maldade: as alianças e as armas. Afirma Maquiavel que a natureza humana é imutável e que não varia com os contextos históricos. Esta teoria dá vida a uma concepção da história do tipo naturalista, em que a história é cíclica e se volta sempre ao passado. Deste conceito surgem numerosas referências ao passado, nas quais Maquiavel, não só encontra homens virtuosos nos quais o seu príncipe se deveria inspirar como encontra situações que o príncipe provavelmente irá defrontar, mesmo que num contexto histórico e social diferente.<br /><br />O termo virtude, neste escrito de Maquiavel, muda de significado. A virtude é o conjunto de competências que servem ao príncipe para se relacionar com a sorte, isto é, com os eventos externos. A virtude é uma união de energia e inteligência. O príncipe deve ser inteligente, mas também eficaz e enérgico. A sorte ocupa então um papel de oportunidade. Os dotes do político permanecem meramente potenciais se ele não encontra a ocasião adequada para os afirmar, e vice-versa, a ocasião permanece meramente potencial se um político virtuoso não se aproveita dela. A ocasião é, então, apresentada como uma condição negativa, que serve de estímulo a uma virtude excepcional. Maquiavel impõe que a virtude humana se pode impor à sorte através da capacidade de previsão e do calculismo. Nos momentos de calma, o político hábil deve prever o futuro próximo e predispor as acções necessárias para as contingências que adivinha.<br /><br />Adicionalmente, Maquiavel concebe a religião como um instrumento de governação, isto é, um meio através do qual manter unida uma população em nome de uma única fé. A religião, para Maquiavel, é uma religião de Estado que deve ser utilizada para fins eminentemente políticos e especulativos, um instrumento de que o príncipe dispõe para obter o consenso habitual do povo. “O Príncipe” esteve sempre no index dos livros proíbidos da Igreja Católica porque, em parte, desmontava as teorias de Santo Agostnho e São Tomás de Aquino mas sobretudo porque Maquiavel anula qualquer relação entre ética e política. “O Píncipe” desafiou a filosofia escolástica da Igreja Católica e a sua leitura contribuiu para a cimentação do pensamento Iluminista e, consequentemente, do mundo moderno, ocupando uma posção única na evolução do pensamento na Europa.<br /><br />Os pontos de vista expostos por Maquiavel podem parecer extremos, no entanto, toda a sua vida foi passada em Florença, numa época de conflitos políticos intermináveis, por isso, torna-se compreensível que tenha enfatizado a necessidade da estabilidade nos domínios de um príncipe. Aparentemente, com esse fim, Maquiavel escolheu ignorar a relação entre ética e política, o que desconcertou muitos dos seus contemporâneos. Na realidade, Maquiavel parte da concepção clássica de virtude e altera a ligação entre ética e política ao definir o conceito de virtude para um príncipe, que, segundo ele, deve tentar ser visto como compassivo, fiável, solidário e religioso, quando, na realidade, raramente isso é possível. Os últimos capítulos concentram-se sobretudo no estado da Itália à época, incluindo uma exortação à libertação da Itália das mãos dos bárbaros estrangeiros.<br /><br />As teorias explanadas n’O Príncipe são muitas vezes igualadas a métodos perversos e manhosos que um aspirante a príncipe pode usar para chegar ao trono, ou um príncipe em exercício pode usar para estabelecer e manter o seu reinado, mas, de acordo com Maquiavel, os princípios morais devem presidir em todas as circunstâncias, sobretudo se estiver em causa a ponderação de acções sórdidas ou desumanas. É imperativo que o príncipe esteja disposto a fazer tudo o que seja necessário para manter o poder, no entanto, Maquiavel enfatiza que acima de tudo, o príncipe não se deve colocar em condições de ser odiado. E dá uma resposta concreta à diferença entre ser temido e ser amado: “…um príncipe sábio deve-se estabelecer no seu domínio e não no de outros, e deve evitar ser odiado, conforme se demonstrou”, ou ainda “É bom ser simultaneamente amado e temido, contudo, se não se puder ser ambos, é melhor ser temido que amado”.Pedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4853187397542798764.post-44598905661398626892007-02-14T01:04:00.000+00:002007-02-14T02:15:10.784+00:00Maquiavel, Maquiavélico, MaquiavelismoNenhum breviário político, nem sequer o Barreirense, está verdadeiramente completo sem uma entrada sobre “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel. Hoje e no próximo texto, preencheremos essa lacuna, falando sobre o livro em si, futuramente, dentro do mesmo âmbito abordaremos as biografias de Nicolau Maquiavel, César Bórgia e D. João II.<br /><br />Não há palavras que tenham sido mais usadas e abusadas em política como as que estão relacionadas com o nome deste funcionário público florentino do Séc. XVI, o que faz deste artigo, certamente, um dos mais esperados da série. Maquiavel, maquiavélico e maquiavelismo são palavras usadas frequentemente de forma pejorativa, por todos nós, mas será que todos conhecemos o verdadeiro significado destes idiomas? Por nos parecer que é possível que não, dedicámo-nos à tarefa de tentar explicar de forma simples, a sua origem, significado e aplicação.<br /><br /><strong>12- Maquiavel, Maquiavélico, Maquiavelismo </strong><br /><br />Estas expressões derivam do nome de Nicolau Maquiavel, um italiano renascentista, e o sentido que lhes é dado resulta dos conceitos apresentados por este na sua obra “De principatibus” (Dos Principados), modernamente conhecida como “O Príncipe”, um pequeno tratado de política que não é, de todo, representativo do conjunto da obra deste autor. Entre as suas obras, destacam-se “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, “A Arte da Guerra” “Histórias Florentinas “, a peça “A Mandrágora”, além de inúmeros tratados histórico-políticos e a sua correspondência particular, que foi organizada pelos descendentes.<br /><br />“O Príncipe” foi escrito por volta de 1513 mas só foi publicado pela primeira vez em 1532, cinco anos após a morte do autor. É um tratado de doutrina política composto enquanto Nicolau Maquiavel se encontrava desterrado, em San Casciano, por ter sido acusado de conspiração contra os Médicis. Maquiavel dedicou a obra a Lourenço II de Médici, na esperança de reconquistar o cargo de Secretário da República. Trata-se, sem dúvida, do seu escrito mais famoso, e das suas máximas nasceu o substantivo “maquiavelismo” e o adjectivo “maquiavélico”. É uma obra não integrável em nenhum género literário em particular, porque não tem as características próprias de um verdadeiro tratado. Trata-se, na verdade, de um pequeno livro de divulgação daquilo que Maquiavel considerava serem as virtudes de um Príncipe ideal ou perfeito.<br /><br />As ideias expressas nesse pequeno opúsculo estão na origem da moderna Filosofia Política e têm encontrado as inspirações e aplicações mais diversas e disparatadas, sobretudo desde o início do Séc. XX. O texto, em si, foi comentado pela maior variedade de líderes políticos e estadistas de que há memória, de Napoleão Bonaparte a Mussolini, passando por Lenine e Bismarck. Chega a ser vulgar questionar-se qual das teorias políticas do século passado não teve nada que ver com a obra do italiano e até a Economia Política parece dever algo a este texto renascentista.<br /><br />A obra de Maquiavel está intimamente relacionada com a época em que foi escrita, funcionando como uma análise da acção política no seu tempo. O método utilizado divergiu da tradição Medieval por se basear no empirismo e na observação dos factos à luz da experiência histórica da Roma Antiga. Como pressuposto, Maquiavel surge com uma ideia original, a proposta de que existe uma ética política diferente da religiosa, ou seja, o fim da política, para ele, seria a manutenção do Estado.<br /><br />Historicamente, o primeiro a pronunciar-se sobre esta obra terá sido o Cardeal inglês Reginald Pole, que se disse horrorizado com as influências que tal obra estaria exercendo sobre Lorde Cromwell. Os Jesuítas, (a quem dedicaremos outra entrada deste breviário), acusaram-na de ser contra a Igreja e convenceram o Papa Paulo IV a colocá-la no Index Librorum Prohibitorum (a lista negra de obras literárias da época), em 1559. Em França, um huguenote, (sobre os quais também falaremos), chamado Inocêncio Gentillet escreveu um livro no qual acusou Maquiavel de ateísmo e os seus métodos, de causadores do Massacre da noite de São Bartolomeu. Tendo sido muito difundida em Inglaterra, a obra do italiano contribuiu como nenhuma outra para a visão apresentada pelo teatro britânico do Séc. XVI, encontrando-se cerca de 400 peças que citam Maquiavel, todas vinculando seu nome à maldade, à ardilosidade e à falta de escrúpulos.<br /><br />Regra geral, os críticos de Maquiavel basearam-se no “Príncipe”, analisando o texto isoladamente das restantes obras de Maquiavel, e sem levar em conta o contexto em que foi escrito. Houve ainda quem tentasse conciliar o seu pensamento com a Igreja ou com o Nacionalismo, mas sem sucesso, pois não passavam de tentativas de manipulação das ideias do autor. Presentemente, as análises feitas, procuram levar em conta outros textos do italiano, contextualizando os seus escritos, e concluindo que Maquiavel não inventou qualquer teoria política, meramente tendo descrito as práticas que viu à sua volta, teorizando em torno delas.<br /><br />As análises de “O Príncipe” começaram a difundir-se com os movimentos da Reforma e da Contra-Reforma. A partir daí, o autor e as suas obras passam a ser vistos como perniciosos, tendo-se chegado a inventar e a atribuir a Maquiavel a expressão “os fins justificam os meios”, que não consta em qualquer parte da sua obra. A atribuição desta característica à obra do florentino está também ligada à visão de que estaria na base do absolutismo, ao lado das obras de Hobbes e Bossuet, mas é uma interpretação que falha por carecer da análise de outro grande texto do autor, os “Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio”, em que Maquiavel elogia a forma republicana de governo.<br /><br />Com respeito a isso, Espinoza e Rousseau, foram adeptos da teoria de que, ao escrever “O Príncipe”, Maquiavel tentava alertar o povo sobre os perigos da tirania, ao invés da tese popular de que o seu livro é um manual para autocratas. Rousseau chegou a escrever: “É o que Maquiavel fez ver com evidência. Fingindo dar lições aos reis, deu-as e grandes, aos povos”.<br /><br />Na Europa do Séc. XIX, durante as Guerras Napoleónicas, em que a Alemanha e a Itália se encontravam fragmentadas e os nacionalismos internos davam os seus primeiros passos, forma-se a visão de Maquiavel como um nacionalista exaltado, disposto a tudo pela união e defesa da Itália. O último capítulo de “O Príncipe” abre, certamente, as portas a essa interpretação, consistindo de uma defesa apaixonada de uma Itália unificada conjugada com a afirmação de que um povo só pode ser feliz e próspero se estiver unido. Hegel e Herder foram dois dos defensores desta última hipótese, que consolidaram com base no seguinte texto, desse capítulo:<br /><br />"Num período de infortúnio, quando a Itália perecia na ruína e era teatro de guerras levadas a cabo por príncipes estrangeiros, quando ela oferecia os meios para essas guerras e era, ao mesmo tempo a presa das batalhas, quando alemães, espanhóis, franceses e suíços a destroçavam e governos estrangeiros decidiam o destino dessa nação – no profundo sentimento da miséria geral do ódio, da desordem e guerra, um político italiano concebeu com fria circunspecção a concepção necessária para libertar a Itália, unindo-a num só Estado".<br /><br />- Continua – A seguir: O Príncipe, de Nicolau MaquiavelPedro Estadãohttp://www.blogger.com/profile/02158021526546575284noreply@blogger.com0